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Razão e sentimento

Razão e sentimento
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Uma menina-mulher sonharadora convicta, pore´m de uma racionalidade necessária.

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domingo, 16 de novembro de 2014
Toda aquela história de conhece-te a ti mesmo é meio louca, mas faz sentido. Quando paro e penso em quem eu sou, vem-me a mente várias respostas. Várias mesmo. Acho que tenho múltiplas personalidades.

Às vezes sou uma criança que precisa de carinho e afeto, que não se sente segura de quase nada na vida e que suga tudo que pode dos amigos ou de pessoas que lhe rodeiam para sobreviver. Uma verdadeira vampira de sentimentos alheios. Nesses momentos me sinto frágil, delicada e toda minha suscetibilidade aflora. Acho que as pessoas não suportam esse formato. Ele é chato mesmo, mas não posso negar que sou assim. 
domingo, 27 de julho de 2014

FIM DE SEMANA


O mergulho serviu mesmo para refrescar a cabeça de Bruna, porque ela decidiu se valorizar mais, aproveitar o fim de semana sem se preocupar tanto com Arthur. Mas é sempre bom lembrar que decidir é uma coisa e conseguir fazer é outra. Porém não vamos tirar o mérito da garota que tentaria com todas as forças não se transformar em uma vigia do amor. Arthur, por sua vez, teria que se esforçar para disfarçar seu interesse em Mayra e sua raiva por ela estar com Túlio. Também, o que ele queria se não terminava com Bruna?
― Dário, o que a Mayra está fazendo com aquele babaca, hein? Sinceramente, cara, o Túlio... está muito claro que o Túlio não é pra ela.
― Está claro que você está com ciúmes. Mas, Arthur, sinceramente cara, deixa essa menina ser feliz. Você não quer ela de verdade. Se você quisesse já teria, pelo menos, terminado com a Bruna. Tá na hora de parar com isso. Esquece a Mayra. Isso que você sente é posse. Você sabe que ela gosta de você e você gosta de tê-la, gosta de deixá-la na fila. Isso nem parece com você. Nem eu que te conheço entendo por que você age assim.
― É, eu sei que você tem certa razão. Mas só até certo ponto, também não é como você falou, porque se fosse, eu seria um mal caráter e isso não sou. Eu não me entendo, cara. Eu queria namorar com ela. Eu juro que queria, mas sei lá, a Bruna complica as coisas. Ele é compreensiva demais, aí quando tento terminar ela finge que não está ouvindo, me dá carinho, atenção e eu acabo desistindo de terminar, além do mais eu gosto dela também.
― Me desculpe, Arthur, mas como é que se gosta de duas. Eu não entendo. Pra mim é tudo muito simples. Eu amo a Tifanny e pronto, estou com ela. Pra mim é assim. Mas ó, conselho de amigo. Se afasta da Mayra, deixa ela em paz.
Nesse momento Bruna se aproximou.
― O que esses dois gatinhos estão segredando, hein?! ― disse isso e beijou a bochecha de Arthur que ficou toda molhada, pois a garota estava saindo da piscina.
― Nada de interessante, amor. ― respondeu Arthur com ar desinteressado.
― Vou ali ver o que a Tifanny está fazendo. ― Dário disse isso e aproveitou para sair dali.
Tifanny anunciou o torneio de volley. Os times foram separados e a bola ia rolar em dez minutos. Todos foram saindo da água e se encaminhando para a quadra de volley, que não era bem uma quadra já que o piso era de uma grama bem aparada. A pequena arquibancada unilateral se encheu rapidinho e os gritos da torcida começaram.
Jogaram até o almoço ser anunciado. Era uma mesa grande recheada de variados pratos a la adolescentes: batata frita, arroz de três tipos, purê, pouca salada, lasanha de dois sabores e algumas frutas para ajudar na digestão. A mesa era daquelas de refeitório e o almoço foi servido ao lado da piscina.  Mayra que havia acabado de ganhar a partida foi a primeira a almoçar, estava varada de fome ― como se diz aqui no Nordeste ― levou seu prato para perto de Túlio e os dois tiveram seu primeiro almoço como namorados. Ele irradiava felicidade e poder. Seu olhar que já era galante, ficou mais exaltado. Ele se sentia vencedor de uma batalha silenciosa entre ele e Arthur. Ela estava feliz também, porém era uma felicidade comedida. Comeram na ótima companhia um do outro.
― Vou ao banheiro. Venho já, ok? ― avisou Mayra com um beijo na bochecha de Túlio e já se levantando.
― Ok.
Deram um beijinho e ela foi. De longe Arthur olhava tudo disfarçadamente. Acho que ninguém percebeu que ele se mordia de ciúmes e de remorso por não ter ficado com ela. mas ele sabia que ela ainda o amava, pois não se esquece alguém assim de uma hora para outra. Mas afinal o que ele tinha para garantir que ela não o esquecesse? Levantou-se sem que ninguém percebesse e caminhou para o interior da casa seguindo Mayra. Viu quando ela entrou no banheiro e ficou esperando ela em um corredor por onde ela teria de passar para voltar para a área da piscina.
Encostou-se na porta de frente a do banheiro onde Mayra estava, cruzou uma das pernas sobre a outra, pôs a mão no queixo e esperou. Quando ela saiu, tomou um susto.
― Ai, Arthur, você me mata de susto. ― Mayra falou um pouco aborrecida.
Arthur empurrou-a contra a parede de beijou-a com vontade, com toda vontade que estava sentindo desde que a vira com Túlio.
― O que é isso, Arthur? Ficou louco! ― Mayra o empurrou de volta. ― O que você está pensando, hein?
― Estou pensando que você ama a mim e não aquele babaca do Túlio. ― amenizou o tom de voz ― eu também gosto de você, Mayra, te peço só para ter paciência para eu terminar com a Bruna e não posso fazer isso aqui, né? Você me entende!
― Não, Arthur, eu não entendo coisa nenhuma que vem de você. Você sempre me ilude de alguma forma...
― Isso é mentira, eu nunca lhe iludi. Aliás hoje é a primeira vez que te digo que gosto de você.
― Ilude sim. Você deu um tapa na cara do Túlio só porque ele me pediu em namoro. Você acha que isso é o que? Você acha que isso é pouca coisa? Você realmente acha que se expor numa festa de 15 anos onde estão todos da  sua escola antiga é pouca coisa? Pois fique sabendo que eu não acho. Você me liga de manhã fazendo convitinho para ir à praia. Você me dá olhadas que são de quem me quer...
― E quero mesmo.
― Não! Você quer me iludir, quer que eu seja sua bonequinha pra você deixar ali jogada, mas ó, acabou. A - CA - BOU! Entendeu?! Eu não quero mais isso pra mim.
― Desculpa, Mayra, se você entendeu assim. ― o tom de voz já era outro. Arthur sabia que o que Mayra estava dizendo era a mais pura verdade porque ele mesmo se sentia assim. Vou deixá-la em paz.
― Acho bom mesmo, Arthur. ― houve um curta pausa entre essa fala e a seguinte ― Se afasta um pouco, me dá um tempo. Você já me maltratou muito. Eu cansei e preciso ser feliz. ― Essa última frase foi dita num tom romântico e tristonho.
― Tá certo, vou respeitar seu pedido. Mas quero que você saiba de uma coisa. Nunca esqueci seu beijo. Ele foi o melhor até hoje e eu vou terminar com a Bruna e virei atrás de você. Realmente vou te dar um tempo, aliás vou nos dar um tempo, porque eu também preciso de um tempo pra terminar com a Bruna e quando eu falar assim, desse jeito a sós, com você de novo, saiba que será para pedir que você fique comigo.
Antes que Mayra respondesse algo, Túlio apareceu.
― Amor, está tudo bem aí? ― Nunca havia lhe chamado de amor. Acho que ele fez isso para dar um fora em Arthur para mostrar que ele estava com Mayra pra valer.
― Sim, está. ― Mayra pegou em sua mão e o arrastou para fora.
― O que aquele estava te dizendo? ― Túlio não se conteve e perguntou.
― Nada de importante. Tava só conversando mesmo.
― Sei. Não gostei do eu vi. Se fosse outra pessoa em vez de mim, hein?! O que iriam pensar?
― Ah Túlio, para! Não vamos estragar o início do nosso namoro por causa do Arthur, não é mesmo?
― Ah, isso é verdade. ― disse já com um sorriso e puxou Mayra para si, dando-lhe vários beijinhos, o que provava que ele ia deixar aquele assunto de lado.

Se perguntasse a Mayra o que ela estava sentindo naquele momento seria muito difícil dizer, porque sinceramente ela não saberia. Tinha um misto de felicidade por estar por cima e pela "apelação" de Arthur e tinha também um pouco de tristeza por saber que ela havia acabo de ouvir o que mais desejava na vida, mas sabia que Arthur era daquele jeito: sempre que achava que estava perdendo ela, ficava querendo-a, mas se ela estivesse sozinha, ele se conformava que ela era dele e pronto não fazia mais nada para tê-la. De todo modo ela estava no lucro, porque tinha a seu lado um rapaz lindo, estudioso, bom caráter e que a amava de verdade. Queria mais o quê?
segunda-feira, 7 de julho de 2014

NO OUTRO DIA


Um dia raiou, um lindo sábado começava em Flecheiras. Sol ameno, o barulho das ondas do mar, o verde da grama bem aguada dava uma esperança que o dia seria perfeito. Na sala de jantar, Tifany e Dário sorriam e davam ordens de como tudo deveria estar. Eles realmente eram um casal perfeito. Nunca brigavam e estavam tão bem entrosados que um já sabia o que o outro estava pensando.
Mayra abriu os olhos, um pouco inchados pelo choro da noite anterior.
― Bom dia , flor do dia! Dormiu bem?
― Mais ou menos. Dormi, mas sonhei a noite inteira e isso acabou que não me deixou descansar a cabeça. Deve ter sido por causa da conversa pesadíssima que tive ontem com Túlio.
― Sim, amiga, e aí? ― perguntou Marianna, ansiosa para saber o desfecho desse conto de fadas. ― E aí vão ficar juntos?
― Ai, amiga, é tudo tão complicado. Estou quase me arrependendo de ter vindo. Túlio foi muito duro comigo e pior que tudo que ele disse estava certo. Ele quer que eu me decida de uma vez por todas.
― E claro que você vai decidir ficar com ele. Aí meu deus, porque essas coisas não acontecem comigo! ― comentou Letícia.
Houve um silêncio.
― Vou sim, amiga. Chega de Arthur, chega de Bruna, chega de choro. Quero ser feliz. O Túlio pode me oferecer isso que estou querendo e além do mais, ontem, quando achei que ia perdê-lo para sempre me deu um aperto no coração. Eu gosto dele, eu amei o beijo dele, ele me faz bem e é com ele que vou ficar. Está decidido.
Ao contar para amigas sua decisão, Mayra convenceu também a si própria e com isso teve forças de levantar e aproveitar seu fim de semana que começara bem complicado, mas que ― ela tinha fé ― iria acabar da melhor forma possível.
― Muito bem amiga, é assim que se fala. Eu te dou todo o apoio, mas não esqueça de nem olhar para o Arthur, pelo amor de Deus. ― advertiu sorrindo Marianna.
― Nem se preocupe Mari, estou mesmo decidida a esquecê-lo. E tomara que quando ele me ver com o Túlio não venha com ceninha de ciúmes, porque ele é assim: quando eu estou só ele é todo derretido para a talzinha lá, quando estou com o Túlio, fica me secando.
― Pois esteja preparada para isso e principalmente esteja preparada para não valorizar isso. Afinal de contas o Túlio não merece, né, amiga?
― Não mesmo e ele ontem deixou isso bem claro. Gente, eu achei mesmo que ele ia desistir de mim. Ele chegou a dizer que o que queria mesmo era me esquecer de uma vez por todas...
Mayra contou toda a conversa com riqueza de detalhes e as meninas arregalavam os olhos a cada emoção. Termiram admirando mais ainda Túlio.
― Ele se garantiu viu, amiga. Desculpa dizer, já que você vai namorar com ele, mas, amiga... ahhh um homem desses na minha vida. ― suspirou Letícia.
― Deixa de ser louca, criatura! ― Brincou Mayra ao risos.
Desceram, e na ponta da escada, Mayra avistou Túlio que estava mais lindo que nunca. Uma coisa ela não podia negar. Ele era estonteante! E abriu um sorriso. Túlio que estava de frente pra ela entendeu que a resposta era positiva e deu uma piscadela seguida de um sorriso, mas manteve-se em seu lugar tomando seu café. Mayra desceu as escadas quase correndo, passou pelas costas do garoto e cochichou ao seu ouvido "já tenho sua resposta". Claro que pelos sorrisos e olhares a resposta seria positiva e o dia do novo casal transformou-se de cinza para um colorido com todos os matizes que o amor correspondido pode dar.
Tomaram café sossegadamente. Túlio terminou primeiro, mas ficou sentado, esperando que Mayra terminasse o seu e assim que a garota sorveu o último gole de seu cappuccino, arrancou Túlio da mesa e os dois seguiram para o jardim de mãos dadas. Felicidade pra uns, tristeza pra outros, assim é a vida. Gabriela entendeu que mais uma vez ele tinha se rendido a conversa de Mayra. Ficou triste, mas no fundo, já sabia que aquilo poderia acontecer. Artur, por sua vez ainda não tinha visto o casal.
Mayra e Túlio chegaram ao jardim e Mayra fez questão de levá-lo para o mesmo lugar da conversa na noite anterior.
― Sou sua. ― disse Mayra olhando nos olhos de Túlio, com um sorriso no rosto e segurando as mãos dele.
― Tem certeza disso que você está dizendo? ― perguntou cheio de ansiedade.
― Sim, tenho. Quero namorar você.
― Eu te amo!
As bocas se envolveram em um beijo feliz e apaixonado. Túlio enquanto beijava a garota, rodopiava com ela pelo jardim e repetia "Eu te amo!", ao que Mayra se deliciava ao ouvir aquelas palavras. Quem não gosta de ser amada, não é mesmo?
― Vamos dar um passeio pela praia? ― convidou Mayra.
― Vamos para qualquer lugar que você quiser.
Os dois saíram tão felizes que dava gosto de se ver, as mãos grudadas, brilho nos olhos. Mayra estava realmente feliz por ter conseguido se decidir e a cada segundo tinha mais certeza de que Túlio era o melhor para ela. Um garoto lindo, apaixonado, que fazia tudo que ela queria, pra que melhor?
Passaram por Arthur e Bruna. Túlio fez questão de observar bem a atitude de Mayra que se comportou perfeitamente: não deu a mínima para o casal. na verdade ela não estava mesmo preocupada com Arthur e ter iniciado um namoro com Túlio renovou suas forças, deu ânimo a sua vida, estava começando a acreditar que Marianna tinha ple razão e ela não perderia essa chance. Arthur, por sua vez, olhou com uma cara que só estando lá para ver declaradamente um ciúme monstro.
― Que foi? Vai correr atrás dela agora? ― perguntou bruna que percebeu a mudandça no rosto do garoto.
― Nossa, Bruna! Que estupidez, você hein? Deus me livre. ― Defendeu-se Arthur, não conseguindo parar de olhar para o casal que a essa altura caminhava na areia branca molhando apenas  os pés na água límpida.
― Então para de olhar pra eles!
― Você vai mesmo querer brigar, Bruna? tem certeza disso?
― Não vou brigar, Arthur, mas vou te avisar uma coisa: segura tua onda, porque não vou tolerar outra ceninha de ciúmes daquelas do aniversário da Tifany, ainda mais aqui que está longe de casa e tal. Se você não aguentar vê-la com outro, pelo menos me respeite. Em Fortaleza a gente conversa.
― Não estou fazendo nada. Eu hein?!
Bruna fechou a cara. Estava com medo que Arthur fizesse mais uma de suas cenas públicas de ciúmes da "amiga". Aí sim, ela teria que tomar uma atitude que não teria volta. Passaria vergonha diante de todos, mas ela prometia a si mesma que não sairia por baixo se isso acontecesse.
 Daquele momento em diante Bruna não conseguiu mais descansar, ficava preocupada com o que podia acontecer e observava Arthur por onde ele fosse.
― Que foi Bruna, tá pensativa? ― perguntou Tifany.
― Não, nada. Está tudo ótimo.
― Espero que esteja mesmo, porque você já viu que a Mayra e o Túlio estão juntos, né?  E isso pode deixar seu namorado violento. Mas ó segura a onda dele, porque não quero barraco na minha casa. E tem mais, o Túlio não vai deixar passar dessa vez.
― Tudo bem. Está tudo bem, pode deixar.
Por dentro Bruna estava com um ódio tão grande  que achou melhor dar um mergulho, antes que ela mesma fizesse o barraco e esbofeteasse qualquer um que falasse mais uma vez em Arthur e Mayra. Ela estava de saco cheio daquilo. Sempre que estava ficando bem com Arthur, Mayra fazia alguma coisa para chamar a atenção dele. Que saco!
domingo, 6 de julho de 2014

CASA DE PRAIA 4


Mayra nem sabia ao certo o que dizer a Túlio, mas deixá-lo ir daquela maneira seria, no mínimo, aceitar tudo que ele estava dizendo e a garota não queria que isso acontecesse (a) porque ela sentia sim alguma coisa por Túlio, não entendia se era egoísmo de sua parte querer ter alguém que a amava ou se ela tinha realmente começado a pensar nele depois daquele passeio e (b) porque se o deixasse ir, estaria assinando um documento dizendo que tinha feito Túlio de idiota. Sua mente girava e ela revia num flash back maluco e atormentador tudo que se passara. Via suas investidas em Arthur, via o esforço de Túlio, sentia os beijos de ambos, ouvia tudo que Mariana e Letícia lhe diziam sempre, era uma confusão só.
Túlio olhou para ela como quem também sentia a dor de ter dado um ponto final na história de amor que ele sonhou viver. Para ele não era nada fácil, mas precisava assumir seu papel de homem e a raiva que sentira dela pelo desprezo dado a ele naquela noite na casa de Tifany ajudava e muito naquela decisão necessária. Seu coração não queria de modo algum deixar Mayra ir, mas sua razão gritava que estava mais que na hora de dar um basta naquilo tudo. Ele já dera vários foras em garotas que estavam interessadas e queriam realmente fazê-lo feliz, como era o caso de Gabriela que sempre havia sido muito gentil e paciente e estava perdendo tempo, perdendo sua juventude e sua felicidade.
― Não vá embora assim. Senta aqui um pouco, por favor. ― suplicou Mayra.
E quem resiste a um pedido com lágrimas quando se é completamente apaixonado por quem pede? Túlio baixou a cabeça como quem se dava por vencido e voltou para sentar-se no banco. Manteve-se calado e com a cabeça baixa. Mayra segurou as suas duas mãos.
― Ei, olha pra mim. ― pediu com paciência e carinho. ― Não é do jeito que você está pensando. Eu realmente errei, errei feio, mas estou disposta a corrigir meu erro. Disposta a me dar essa chance de ser feliz.  ― Houve uma pausa ― Mas para isso eu preciso de você, preciso de sua paciência, de sua compreensão e acima de tudo de seu amor. Me perdoa?! ― e sem esperar resposta ― Eu juro que nunca planejei brincar com seus sentimentos, eu não sou essa pessoa e sei que você sabe disso. Me ajuda a ser feliz?!
― O que você está me pedindo, Mayra, é algo muito difícil, entende? Eu teria que confiar em você e me arriscar a passar pelo que passei hoje. Vê você fugindo de mim. poxa, como isso me dá raiva e mágoa e como eu me sinto idiota diante do que você faz comigo...
― Fiz, não farei mais. Nunca mais. Você é importante pra mim, acredite. Me dê essa última chance...
― O que você chama de chance? Porque a gente não namora nem nada. Vendo por esse ângulo é até ridículo tudo isso, entende?
― Eu quero namorar você, Túlio. ― olhou bem em seus olhos. ― Eu quero tentar te amar como você me ama.
― Pois é, Mayra. Esse "tentar" é que me amedronta. Porque você está tomando essa decisão de cabeça quente, você está dizendo tudo isso porque viu que não serei mais seu bichinho de estimação. Tenho medo, entende? Não quero e não vou mais me machucar com isso. Já deu pra mim.
― Já deu pra você? Então você não quer namorar comigo?
― Quero Mayra, quero muito. É o que eu mais quero. Porém você precisa pensar melhor...
― Não há o que pensar...
― Xiiii ― colocou o dedo indicador nos lábios aflitos de Mayra com tal delicadeza que a menina se arrepiou e fechou os olhos para sentir aquele toque. ― Você está sob pressão. Precisa pensar. Pensar bem. E eu vou lhe dar esse tempo. Vou fazer isso porque te amo, porque não quero me culpar por não termos ficado juntos. Mas preciso que você entenda uma coisa, não quero mais me machucar, não quero mais ver você com olhares de dor por ver Arthur e Bruna juntos e nós sabemos que isso acontece, então, pra ser dessa forma que eu quero, preciso que você pense bem. Já está tarde e nós estamos cansados. Durma e pense muito bem. Amanhã a noite a gente conversa.
Os dois levantaram. Pareciam exaustos e realmente estavam, tinha sido um dia de muitas emoções e pressão psicológica para os dois. Caminharam de mãos dadas até o lado movimentado da casa onde estava uma completa algazarra. Ao chegar em ponto visível aos outros, Túlio soltou lentamente a mão de Mayra e mesmo ela se assustando com aquela atitude, sabia que estava certo fazê-lo porque eles nem sabiam que rumo aquilo tudo ia tomar.
Mayra entrou na casa, subiu e deitou na cama como quem vai dormir de conchinha com alguém, ficou ali fazendo o que Túlio havia pedido. Analisou tudo que haviam conversado, pensou também em Arthur, em como ele parecia feliz com Bruna, ouviu em sua mente, com certo ódio o que Bruna havia dito quando viu Túlio com Gabi e tudo aquilo se misturava dando voltas e mais voltas. Desejou ter uma penseira igual a de Dumbledore em Harry Potter, assim poderia dormir em paz e só depois rever os fatos e analisá-los, sem raiva, sem medo, sem dúvida. Mas o fato é que não tinha e precisava aguentar tudo aquilo. Algumas lágrimas ainda rolaram por seus olhos até que Mayra adormeceu.

Quando Letícia e Mariana voltaram pro quarto, Mayra dormia tranquilamente e as amigas fizeram o possível para não acordá-la, pois sabiam que aquela conversa não deveria ter sido das melhores, uma vez que Mayra nem foi pra onde elas estavam e Túlio, mesmo ficando entre a galera, estava calado e pensativo e se manteve um pouco afastado.
sábado, 5 de julho de 2014

CASA DE PRAIA 3


Não conseguia mesmo esquecer. E como que acometida por uma onda de ciúme e sensação de perda, Mayra escreveu uma mensagem a Túlio. 
"Parece que você não viu. Ou quem sabe tenha visto e esquecido de tudo que aconteceu." 
A mensagem era pesada, meio sem sentido para quem chorou por outro, mas Mayra enviou assim mesmo, nem releu que era pra não perder a coragem. De longe viu quando Túlio tirou o celular do bolso e leu a mensagem, guardando o aparelho em seguida. Voltou a conversar com Gabriela tranquilamente como se nada tivesse acontecido e isso irritou Mayra mais ainda. Ele estava pensando o quê? Que vai me ignorar?
Não que Túlio tivesse pensando isso, mas sim ele poderia ignorá-la a hora que ele bem entendesse, afinal de contas quem mandou Mayra se esconder quando ele chegou.
― Amiga, dá pra parar de olhar pro Túlio! Tá ficando ridículo. Esquece esses dois. Já fez a besteira, agora esquece que é melhor. ― alertou Letícia que também olhava a cena e sabia que aquilo estava maltratando Mayra.
― Ele pensa que vai ficar assim, ele está muito enganado.
Parece até que Túlio estava ouvindo a conversa porque exatamente quando Mayra calou a boca, Túlio beijou a mão de Gabi como quem pede licença e se encaminhou na direção das amigas.
― Amiga, segura sua onda que você não está podendo exigir muita coisa, não.
Túlio lançou um olhar duro com um brilho de raiva, bem diferente das outras centenas de vezes que ele se aproximou de Mayra:
― Podemos conversar?
Aquilo não era bem um convite, mas uma intimação a se afastarem dos outros e Mayra sentiu que realmente não estava podendo exigir muita coisa, mesmo assim não baixou a guarda.
― Sim, já não era sem tempo, não acha?
Se afastaram dos outros, rodearam a casa e foram para entrada onde havia o jardim e uns bancos com encosto entre as flores. Era um ambiente bem romântico e Mayra se animou achando que ainda tinha chance. Sentaram. Mayra virou-se para Túlio, ainda com um olhar sério. Ela queria mesmo encostá-lo na parede por causa do que vira, mas antes que ela pudesse falar ele começou a vomitar coisas que pareciam estar guardadas por muitos meses.
― Vamos lá. O que você quis dizer com aquela mensagem?
― Bem, eu queria entender o que estava acontecendo, por que você nem ao menos veio falar comigo e estava ali todo derretido para a Gabriela.
― Bem, Mayra é o seguinte. Eu me derreto para quem eu quiser. (pequena pausa) Ou você pensa que só você tem o direito de ficar comigo e chorar porque aquele babaca do Arthur  que chegou com a Bruna?
Mayra percebeu que a coisa estava feia mesmo e que Túlio tinha visto toda a cena na casa de Tifany antes de embarcarem e quando ela respirou e abriu a boca pra se explicar mesmo sem saber o que dizer, Túlio continuou.
― Você acha que sou um bonequinho que você usa e manipula como quer, quando bem entende e simplesmente quando não quer mais joga fora? É isso? Você acha que eu não tenho sentimentos? ― Túlio alterou um pouco a voz. ― Você só pensa em você, senhorita Rayanna Mayra, se você quer correr atrás do Arthur e vê-lo ser feliz com a Bruna, corra, problema seu. Eu não tenho nada a ver com isso, mas ó, brincar com uma pessoa que sempre gostou de você, que faz todas as suas vontades, isso não está certo.
― Calma, Túlio. Você entendeu tudo errado. Não é assim.
― Não é assim? Não é as-sim? Tudo bem. Então além de eu ser seu bonequinho eu sou um idiota que você engana, mente, trai, faz o que quer.
Mayra se desesperou um pouco, porque percebeu que havia magoado de verdade Túlio e ela nunca quis que fosse assim. Túlio era sim algo para ela, ela só não sabia exatamente o que ele era, mas gostava dele, tinha ficado empolgada com o beijo na beira-mar. E pior de tudo, não conseguia falar nada que pudesse salvá-la de todas as acusações, diga-se de passagem, verdadeiras, que Túlio fazia.
―Calma, Túlio, me deixa explicar. Você está muito nervoso. Para. Me escuta, por favor.
― Olha, Mayra, eu nunca amei ninguém como eu te amo. Nunca mesmo. Mas não se engane achando que por isso eu vou deixar de ser feliz, vou deixar de procurar alguém que valha a pena. É como eu te disse hoje, se você quer correr atrás do Arthur o resto de sua vida, paciência. Mas eu não vou ficar nessa história para ser pisado e magoado como se eu fosse uma planta que ornamenta o jardim e quando chega uma estatueta que a dona desejava há algum tempo, arranca-a e está tudo resolvido.
― Você não é isso pra mim...
―Ah ― interrompeu Túlio ― e não me venha com esse lance de somos bons amigos. ― suspirou e acalmou a voz ― porque, sinceramente Mayra, o que quero de você agora é tirá-la da minha mente, tirá-la do meu coração. Quero dar um basta nisso tudo. Chega! Já sofri demais. Já fiz o que podia por você. Estou cansado. Cansado de te agradar e receber em troca pancada, ou pior ainda, não receber nada, ser ignorado. Cansado de ser inteiramente teu e você ser do Arthur. Cansado de suas desculpas esfarrapadas. Cansado de você me ligar e eu me encher de esperança e no instante seguinte você se derreter, na minha frente ou nas minhas costas, tanto faz, para o Arthur. Estou farto do Arthur também. E sabe o que mais? Ele está certíssimo. Ele sabe que tem você nas mãos, então ele fica lá com a namoradinha dele e deixa você como reserva, se algo der errado lá, aí quem sabe ele te dê uma chance...
― Você está sendo duro demais comigo, Túlio. ― Mayra não conseguia mais conter o choro, as lagrimas vinham e ela nem sabia por que, se era por causa de Túlio, ou das palavras dele, ou mesmo por causa do seu amor por Arthur, que realmente já a machucara demais. ― Por favor, para com isso, por favor.
― Paro sim, Mayra. ― Túlio falou tranquilamente, numa voz rouca e sensual demais para o momento ― Paro porque como já te expliquei eu cansei e estou saindo dessa história, desse triângulo amoroso doentio. Agora sou eu que te peço, vá viver sua vida e me deixe em paz. Não me ligue. Não mande mensagem. Não fale comigo, exceto o estritamente social. E te peço mais: Pense. Pense muito em tudo que você me fez. Pense no que você desperdiçou por causa de um alguém que não te quer.
― Túlio, mas eu quero você.
― Não, você não me quer. Se você me quisesse, estaria me esperando hoje lá na Tifany. Se você me quisesse, você tinha ido ao meu encontro quando eu cheguei. Se você me quisesse, teria vindo na van ao meu lado. Mas não. Você quer que eu seja seu estepe, quer que eu seja o objeto de ciúme para Arthur. E isso, Mayra, eu sinto muito, não serei de modo algum. Nem para você, nem para ninguém.
― Mas você disse que me amava. ― interrompeu Mayra esperançosa que Túlio quisesse voltar para ela.
― Amo, amo muito. Mas eu amo primeiro a mim.
Túlio disse aquilo como um ultimato e deu as costas para Mayra que chorava compulsivamente.
― Espera! ― Gritou Mayra estendendo a mão. ― Espera, por favor.

Túlio virou-se para a garota.
quarta-feira, 25 de junho de 2014

CASA DE PRAIA 2


O motorista deu partida. Vozes se misturaram e não se sabia ao certo quem estava falando com quem. Túlio encostado a janela da van pensava em tudo que tinha visto. Sentia-se um perfeito idiota. Ele a tratara tão bem, valorizara tudo nela. Fez tudo que ela quis sem sequer dar um ideia que fosse dele. E tudo isso pra quê? Para vê-la chorar por causa do babaca do Arthur que estava com a namoradinha perfeita.
Quanta raiva Túlio sentia de si mesmo agora. Era um panaca mesmo, se iludindo com uma menina que nunca quis saber dele. Precisava mesmo era dar um basta naquilo tudo. Nunca tinha sido daquele jeito. nunca ficou à mercê de menina nenhuma, sempre fora ele quem mandara nas relações e agora tava ali mogoado. Ai, dá licença, né?
Estava também com raiva de Mayra, sabia que ela não tinha culpa, mas a raiva era incontrolável. Se ela está pensando que vai me fazer do bobo, ficar comigo e chorar pelo tal Arthur, está muito enganada. Muito mesmo. Túlio estava com o orgulho ferido. Ele gostava de verdade de Mayra, admirava tudo nela: o jeito, o olhar, a boca, o beijo... aquele beijo só serviu para piorar as coisas, porque antes era apenas uma imaginação, um desejo e agora era real, ele sabia exatamente que gosto tinha beijá-la, sabia qual seu cheiro e todas aquelas lembranças pioravam e muito a situação. Mas a van estava cheia de meninas tão lindas quanto Mayra, não existia só ela no mundo.
Ajeitou a cabeça no vidro e se concentrou na estrada que corria do lado de fora. As luzes passavam rapidamente deviam estar a uns 100km/h. O sol estava quase se pondo e eles haviam planejado chegar lá no por do sol. Não daria para aproveitar, mas queriam chegar cedo, separar quartos e começar a farrinha com os amigos.
Mayra observava Túlio. Ele parecia ignorar a presença dela. E de fato estava se esforçando para isso. Será que ele é um perfeito idiota ou que ele viu alguma coisa?
― Acho que ele pode ter visto sim, porque quando ele chegou, lembra que ele te deu aquela olhada? Ou então ele está chateado porque você se escondeu e isso ficou muito na cara né, amiga?
― Ô gente, vocês só me culpam o tempo todo. Até agora não sei o que vou dizer ou fazer em relação a ele...
― Não sabe?! ― Letícia gritou.
― Fala baixo!, Tá doida?
― Como assim não sabe o que fazer? Pois eu sei muito bem o que fazer com ele. Ai...ai... Deus realmente não dá assas a cobra, porque se desse...
― Letícia você é louca mesmo. ― brincou Marianna que concordava absolutamente com Letícia.
― Gente, foco! Vocês acham que ele viu? E se ele tiver visto, como vou me defender?
― Ahhh, agora você se preocupa, né? Muito bem. Sinal que não tá pirada de vez ainda. Se eu fosse você fingia, é a única coisa que te resta. Fingia que nada havia acontecido, ficava na minha e quando ele viesse me procurar em agia como se nada tivesse acontecido. E realmente não aconteceu, né?
― Dou completa razão a Lê. Já fez a merda, agora finge e conserta.
Finalmente chegaram. No portão da casa estava Marta, que fora pra lá de manhã com o objetivo de deixar tudo em ordem; Assis, o caseiro e Olívia, sua esposa.
―Sejam todos bem vindos! ― disse Marta sorrindo a cada um dos meninos que descia da van.

A casa era espetacular. De frente via-se uma grama muito bem cuidada com algumas plantas ornamentais e pequenas palmeiras que davam em um alpendre enorme que rodeava a casa toda. Uma porta de vidro com contornos de madeira dava o ar rústico ao local. Na parte cima cada quarto tinha janelas de vidro que combinavam com a porta frontal e uma varanda lateral que dava uma visão deslumbrante das águas cristalinas do mar com ondas que iam e vinham numa harmonia celestial. Pelo outro lado tinha uma passarela larga de madeira  envernizada com sombras de coqueiros, algumas cadeiras de sol e uma espécie de sofá de vime com estofado branco, tudo impecavelmente bem cuidado. A passarela terminava no mar, num ponto próprio para banho, onde o balanço das ondas era quase imperceptível e formava-se uma piscina natural. ainda havia quadra poliesportiva e um estacionamento que caberia uns cinco carros.

Entraram na casa e os quartos foram distribuídos. O andar de cima era formado só por quartos e uma imensa varanda. Todos subiram guardaram suas coisas, alguns trocaram de roupa e foram para os fundos da casa aproveitar aquele jardim maravilhoso.
― É melhor que nas fotos.  Nosso fim de semana será perfeito, amiga. ― disse Letícia muito animada.
O quarto destinado a elas, ela lindo, parecia coisa de filme. Três camas muito bem arrumada com edredons em rosa seco, um armário embutido que cabia as roupas de todas elas e ainda sobrava espaço. Um abajur ao lado de cada cama e um banhiero com chuveiro elétrico.
― O quarto é tão lindo que dá até pra ficar só aqui e já ser um ótimo fim de semana. ― comentou Mayra que estava realmente encantada com o quarto.
― Ah não. Lindo mesmo são os gatinhos lá fora e eu não perderei por nada.
― Só podia ser a Lê mesmo. ― confirmou Marianna. ― Eu tô muito animada. Não sei nem que roupa vestir. Vocês ainda vão pro mar hoje?
― Não sei. ― Mayra falou desanimada.
― Eu quero, mas não vou ser a enxerida que aparece toda de biquíni em plena seis da noite, né? melhor descermos e vermos se o clima está para banho ou para conversa.
Os outros não haviam se atrasado observando nada já estavam todos lá embaixo espalhados pela imensa casa. Dário e Tifany estavam à beira de uma pequena piscina que  no espaço ao lado da passarela, Arthur e Bruna estavam contemplando as estrelas nas cadeiras de sol que estavam mais próximas do fim da passarela. Letícia voltou da varanda.
― Gente, dá pra fazer o que quiser, nós estamos é perdendo tempo. Simbora galera!
Desceram as escadas animadíssimas: Mayra menos animada, mas já recuperada do que tinha visto e preparada para ignorar; Marianna de shortinho e biquíni planejava aproveitar cada instante e Letícia, espevitada como era já estava com altos planos para não perder nem um momento.
Assim que Mayra abriu a pesada porta de vidro e olhou para o lado viu Túlio conversando com Grabriela, uma menina ruiva, magrinha de pele clara, cabelos lisos e alourados que desciam até a marca do biquíni, ela não a conhecia, sabia que era uma amiga de Tifany, mas nunca a tinha visto antes. A conversa entre os dois parecia mais que uma simples conversa. Eles estavam bem próximos e Túlio era todo sorrisos para a garota que também se derretia para o deus da beleza. Ai é assim?! ― pensou. Ok então.
― E aí tá gostando da cena? Quem quer dois ou perde um ou todos dois, queridinha. No seu caso parece que perdeu os dois, né? ― Bruna zombou de Mayra.

Como aquela menina viera parar ali, não se sabe, mas assim que viu a oportunidade não perdeu um segundo e plantou no coração de Mayra a sementinha perversa da humilhação. O resultado foi imediato. Mayra realmente sentiu-se humilhada, preterida, pequena, um grãozinho de areia perdido naquela imensa praia e sentiu ódio também, se pudesse teria esganado Bruna a sangue frio. Que garota petulante! Mas ela estava infernalmente certa. Ela havia brincado com Túlio e pelo visto ele se cansara dela. O jeito era agir naturalmente e fingir que nada ali lhe abalava. Juntou-se as meninas e tentou esquecer Túlio que sempre tinha olhos e atenção só pra ela com Gabriela. Ainda que fosse  outra que ela tivesse total domínio de quem era, mas uma garota que ela nem sequer conhecia seria difícil saber o que rolava.


CASA DE PRAIA 1


Depois de uma semana conturbada de provas, de tardes de angústia por medo de não conseguir bons resultados e muito, muito cansaço, havia chegado o fim de semana e na casa de Mayra depois da semana de provas ela podia tudo. Essa era a recompensa. Ela sempre se esforçava muito, (a) porque era responsável com seus estudos e (b) porque recebia o benefício-prêmio de poder marcar o que quisesse com os amigos. E Tifany estava organizando um fim de semana em sua casa de praia em Flecheiras, uma praia que fica a 130 km de Fortaleza, o paraíso de coqueirais, bons ventos e piscinas naturais, é bem rústico, porém é uma praia pouco explorada em relação a outras praias do estado e que oferece conforto por si só, imagine quando se trata de organizações Tifany.


A empolgação estava a mil. Uma casa linda, numa praia maravilhosa, um fim de semana inteiro, sem intervenção de quase nenhum adulto, digo quase porque havia na casa um caseiro e sua família e a mãe de Tifany havia mandado pra lá uma cozinheira e uma espécie de governanta que morava na casa deles há muito tempo. O ponto positivo disso tudo era que Marta, a govenanta, fazia simplesmente tudo que Tifany queria, amava a menina que vira nascer e nunca lhe negava nem um favor. Era ou não era um sonho? 
Uma van para 16 pessoas sairia da casa de Tifany na sexta-feira às 17:30hs com destino a Flecheiras. Era a van da família. Tifany era filha única e a mãe acabava planejando sua vida para agradar a filha. A van foi uma aquisição que fizeram a pedido da filha, exatamente para esses momentos e os pais da garota não pouparam esforços nem dinheiro. Era uma van preta completa, com bancos de couro e dvd em cada banco e para dirigi-la, o motorista da família estava sempre a disposição. Ele levaria a garotada e no domingo à tarde no mesmo horário da saída iria buscá-los.
Às 16:00hs começaram a chegar e amontoar as mochilas na pequena escadaria de quatro degraus da entrada da casa de Tifany. Logo formou-se uma algazarra, comentários e impressões de como era a casa. nunca tinham ido lá, só viram por fotos. Mayra, Letícia e Marianna chegaram juntas, o pai de Mayra foi deixá-las. Quando chegaram já estavam lá alguns dos meninos incluindo Arthur.
Um arrepio desceu do esôfago ao estômago de Mayra ao vê-lo. Era incontrolável. Bastava vê-lo pra ficar daquele jeito. Tentava disfarçar e, para quem não a conhecia, até conseguia, mas as amigas perceberam logo como ela se sentia. Diziam que ela arregalava um pouco aqueles pequenos olhos e sua feição mudava ligeiramente.
― Segura sua onda. ― Tá dando bandeira.  avisou Marianna.
― Gente, para! Assim eu fico mais nervosa e é pior. Eu nem tou dando bandeira nem nada, é impressão de vocês.  retrucou.
― Impressão, sei...
Logo após as meninas, chegaram Túlio e Dário. Túlio tinha passado na casa do amigo para buscá-lo. O Honda preto parou em frente a casa onde estava as meninas arrancando suspiros, Dário desceu e tirou as malas e Túlio passou para guardar o carro. tempo suficiente para as meninas comentarem pela milésima vez como ele era gato e perfeito. Só Mayra não suspirava. Até sentiu uma certa emoção, pois sabia que teria que fazer algo. E se ele chegasse beijando-a? Achou melhor se esconder um pouco até que ele chegasse e ela visse como a coisa toda iria proceder.
O destino deu uma mãozinha a Mayra, pois no exato momento que ela ouviu Túlio dar boa noite e ser correspondido por suspiros e vozes derretidas, Tifany apareceu dizendo que já estava tudo pronto para a saída, assim Túlio nem teve chance de se aproximar de Mayra. A garota deu olha rápida olhada em todos que estavam ali e viu que Bruna não havia chegado. Será que ela não vai? seria perfeito.
―  Olha gente, pelo amor de Deus, vocês vão sentar cada uma ao meu lado. Nada de deixar espaço para o Túlio. Eu não estou preparada para falar com ele agora.   implorou Mayra.
―  Ah, meu Deus, Mayra. Que bobagem! Você está é perdendo tempo, amiga. Acorda.   Letícia que suspirava pelo Túlio alertou.   Ai como eu queria que fosse comigo, já estava era toda linda ao lado dele.
―  Eu já conversei com ela sobre isso, Lê, mas daí a ela tomar uma atitude é outra conversa.  Mariana lançou um olhar para Mayra com o canto da boca em declínio.
Na verdade Mayra estava pouco se lixando para Túlio, até tinha gostado do passeio, achava ele realmente lindo e seu beijo era simplesmente envolvente demais da conta, porém ela estava de longe acompanhando tudo que Arthur fazia e foi por causa disso que ela viu a chegada de Bruna. A garota desceu do carro do pai, já atrasada, mas estava ali para o ódio de Mayra. 
Bruna abriu a porta do carro e instantaneamente, como se tivesse se materializado ali, estava Arthur pegando na mão dela para ajudá-la a descer. A esse fato  sucedeu um beijo apaixonado, daqueles calmos que parece natural e passa a ideia de maior veracidade do amor. Arthur pegou as bolsas de Bruna e a guiou para perto dos amigos em comum. 
Uma faca trespassou o coração de Mayra. Imediatamente seu rosto ganhou feições de uma dor muito grande e lá estava aquela teimosa lágrima rolando em sua face. O pior de tudo era que ela não conseguia virar o rosto, parece que estava petrificada, até que foi puxada por Mariana e Letícia que também assistiram a cena de amor de Arthur e Bruna.
― Eu te avisei, amiga. Agora vê se não dá bandeira, né? Não é porque você está sofrendo que todos têm que saber. ― falou Marianna numa voz complacente.
― Poxa, amiga, como eu vou ficar um fim de semana inteiro vendo isso? Eu não vou mais.  disse virando-se pra ir embora.
― Claro que vai. E vai se divertir, vai beijar na boca, vai ser feliz com quem te quer. Mayra, por favor... eu já estou cansada dessa sua burrice, amiga. Como é que você tem o Túlio e fica morrendo por causa de Arthur. Tenha santa paciência! ― Letícia foi mais direta que Marianna em suas colocações. ― Você não disse que tinha gostado da saída com o Túlio?
― Gostei, gostei muito. ― disse quase sem ser ouvida ainda de cabeça baixa.
― Então, amiga...
― Levanta essa cabeça, respira fundo e bola pra frente. Por favor...
Mayra fez exatamente o que a amiga havia dito. Levantou a cabeça, desviou o olhar e naquele momento foi tomada por uma raiva tão grande que ela não sabia se era raiva dela mesma ou do Arthur e resolveu tomar como conselho um antigo texto dos sermões de Pe. Antônio Vieira. A professora de Literatura, a mesma que fizera brincadeiras com ela e Arthur no ano passado, havia lido uma parte do Sermão do Mandato que dava os remédios para o amor sem remédio: 1. o tempo; 2. a distância; 3. a ingratidão e o 4 e mais perfeitos de todos: a mudança de objeto. Era isso que ela ia fazer. E no caso começaria pelo quarto conselho já que o primeiro e o segundo demorariam muito e o terceiro acabara de ocorrer.
Tifany chamou a todos para embarcarem na van e Mayra quis ser a primeira para sentar no último banco e assim não deixar que ninguém atrás dela a observasse. Seria ela a observar a todos. Letícia entrou primeiro seguida por Mayra e Marianna. Sentaram no fundo da confortável van, pegaram os fones de ouvido e escolheram um dos filmes pre-programados no dvd. A viagem não era muito longa, mas até lá ela, Mayra, já teria conseguido bolar um plano de como fazer para superar aquela raiva e dor misturadas e ao mesmo não ser mal caráter com Túlio.
Todos entraram um a um. Túlio sentara-se dois bancos a frente de Mayra e não tinha feito a menor força para falar com ela, motivo que chamara a atenção da garota. Ela esperava que ele tivesse ido procurá-la. Será que ele viu ela chorando por Arthur? Bem, o que já passou não volta. E Arthur e Bruna sentaram a frente de Túlio.