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Razão e sentimento

Razão e sentimento
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Uma menina-mulher sonharadora convicta, pore´m de uma racionalidade necessária.

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domingo, 27 de julho de 2014

FIM DE SEMANA


O mergulho serviu mesmo para refrescar a cabeça de Bruna, porque ela decidiu se valorizar mais, aproveitar o fim de semana sem se preocupar tanto com Arthur. Mas é sempre bom lembrar que decidir é uma coisa e conseguir fazer é outra. Porém não vamos tirar o mérito da garota que tentaria com todas as forças não se transformar em uma vigia do amor. Arthur, por sua vez, teria que se esforçar para disfarçar seu interesse em Mayra e sua raiva por ela estar com Túlio. Também, o que ele queria se não terminava com Bruna?
― Dário, o que a Mayra está fazendo com aquele babaca, hein? Sinceramente, cara, o Túlio... está muito claro que o Túlio não é pra ela.
― Está claro que você está com ciúmes. Mas, Arthur, sinceramente cara, deixa essa menina ser feliz. Você não quer ela de verdade. Se você quisesse já teria, pelo menos, terminado com a Bruna. Tá na hora de parar com isso. Esquece a Mayra. Isso que você sente é posse. Você sabe que ela gosta de você e você gosta de tê-la, gosta de deixá-la na fila. Isso nem parece com você. Nem eu que te conheço entendo por que você age assim.
― É, eu sei que você tem certa razão. Mas só até certo ponto, também não é como você falou, porque se fosse, eu seria um mal caráter e isso não sou. Eu não me entendo, cara. Eu queria namorar com ela. Eu juro que queria, mas sei lá, a Bruna complica as coisas. Ele é compreensiva demais, aí quando tento terminar ela finge que não está ouvindo, me dá carinho, atenção e eu acabo desistindo de terminar, além do mais eu gosto dela também.
― Me desculpe, Arthur, mas como é que se gosta de duas. Eu não entendo. Pra mim é tudo muito simples. Eu amo a Tifanny e pronto, estou com ela. Pra mim é assim. Mas ó, conselho de amigo. Se afasta da Mayra, deixa ela em paz.
Nesse momento Bruna se aproximou.
― O que esses dois gatinhos estão segredando, hein?! ― disse isso e beijou a bochecha de Arthur que ficou toda molhada, pois a garota estava saindo da piscina.
― Nada de interessante, amor. ― respondeu Arthur com ar desinteressado.
― Vou ali ver o que a Tifanny está fazendo. ― Dário disse isso e aproveitou para sair dali.
Tifanny anunciou o torneio de volley. Os times foram separados e a bola ia rolar em dez minutos. Todos foram saindo da água e se encaminhando para a quadra de volley, que não era bem uma quadra já que o piso era de uma grama bem aparada. A pequena arquibancada unilateral se encheu rapidinho e os gritos da torcida começaram.
Jogaram até o almoço ser anunciado. Era uma mesa grande recheada de variados pratos a la adolescentes: batata frita, arroz de três tipos, purê, pouca salada, lasanha de dois sabores e algumas frutas para ajudar na digestão. A mesa era daquelas de refeitório e o almoço foi servido ao lado da piscina.  Mayra que havia acabado de ganhar a partida foi a primeira a almoçar, estava varada de fome ― como se diz aqui no Nordeste ― levou seu prato para perto de Túlio e os dois tiveram seu primeiro almoço como namorados. Ele irradiava felicidade e poder. Seu olhar que já era galante, ficou mais exaltado. Ele se sentia vencedor de uma batalha silenciosa entre ele e Arthur. Ela estava feliz também, porém era uma felicidade comedida. Comeram na ótima companhia um do outro.
― Vou ao banheiro. Venho já, ok? ― avisou Mayra com um beijo na bochecha de Túlio e já se levantando.
― Ok.
Deram um beijinho e ela foi. De longe Arthur olhava tudo disfarçadamente. Acho que ninguém percebeu que ele se mordia de ciúmes e de remorso por não ter ficado com ela. mas ele sabia que ela ainda o amava, pois não se esquece alguém assim de uma hora para outra. Mas afinal o que ele tinha para garantir que ela não o esquecesse? Levantou-se sem que ninguém percebesse e caminhou para o interior da casa seguindo Mayra. Viu quando ela entrou no banheiro e ficou esperando ela em um corredor por onde ela teria de passar para voltar para a área da piscina.
Encostou-se na porta de frente a do banheiro onde Mayra estava, cruzou uma das pernas sobre a outra, pôs a mão no queixo e esperou. Quando ela saiu, tomou um susto.
― Ai, Arthur, você me mata de susto. ― Mayra falou um pouco aborrecida.
Arthur empurrou-a contra a parede de beijou-a com vontade, com toda vontade que estava sentindo desde que a vira com Túlio.
― O que é isso, Arthur? Ficou louco! ― Mayra o empurrou de volta. ― O que você está pensando, hein?
― Estou pensando que você ama a mim e não aquele babaca do Túlio. ― amenizou o tom de voz ― eu também gosto de você, Mayra, te peço só para ter paciência para eu terminar com a Bruna e não posso fazer isso aqui, né? Você me entende!
― Não, Arthur, eu não entendo coisa nenhuma que vem de você. Você sempre me ilude de alguma forma...
― Isso é mentira, eu nunca lhe iludi. Aliás hoje é a primeira vez que te digo que gosto de você.
― Ilude sim. Você deu um tapa na cara do Túlio só porque ele me pediu em namoro. Você acha que isso é o que? Você acha que isso é pouca coisa? Você realmente acha que se expor numa festa de 15 anos onde estão todos da  sua escola antiga é pouca coisa? Pois fique sabendo que eu não acho. Você me liga de manhã fazendo convitinho para ir à praia. Você me dá olhadas que são de quem me quer...
― E quero mesmo.
― Não! Você quer me iludir, quer que eu seja sua bonequinha pra você deixar ali jogada, mas ó, acabou. A - CA - BOU! Entendeu?! Eu não quero mais isso pra mim.
― Desculpa, Mayra, se você entendeu assim. ― o tom de voz já era outro. Arthur sabia que o que Mayra estava dizendo era a mais pura verdade porque ele mesmo se sentia assim. Vou deixá-la em paz.
― Acho bom mesmo, Arthur. ― houve um curta pausa entre essa fala e a seguinte ― Se afasta um pouco, me dá um tempo. Você já me maltratou muito. Eu cansei e preciso ser feliz. ― Essa última frase foi dita num tom romântico e tristonho.
― Tá certo, vou respeitar seu pedido. Mas quero que você saiba de uma coisa. Nunca esqueci seu beijo. Ele foi o melhor até hoje e eu vou terminar com a Bruna e virei atrás de você. Realmente vou te dar um tempo, aliás vou nos dar um tempo, porque eu também preciso de um tempo pra terminar com a Bruna e quando eu falar assim, desse jeito a sós, com você de novo, saiba que será para pedir que você fique comigo.
Antes que Mayra respondesse algo, Túlio apareceu.
― Amor, está tudo bem aí? ― Nunca havia lhe chamado de amor. Acho que ele fez isso para dar um fora em Arthur para mostrar que ele estava com Mayra pra valer.
― Sim, está. ― Mayra pegou em sua mão e o arrastou para fora.
― O que aquele estava te dizendo? ― Túlio não se conteve e perguntou.
― Nada de importante. Tava só conversando mesmo.
― Sei. Não gostei do eu vi. Se fosse outra pessoa em vez de mim, hein?! O que iriam pensar?
― Ah Túlio, para! Não vamos estragar o início do nosso namoro por causa do Arthur, não é mesmo?
― Ah, isso é verdade. ― disse já com um sorriso e puxou Mayra para si, dando-lhe vários beijinhos, o que provava que ele ia deixar aquele assunto de lado.

Se perguntasse a Mayra o que ela estava sentindo naquele momento seria muito difícil dizer, porque sinceramente ela não saberia. Tinha um misto de felicidade por estar por cima e pela "apelação" de Arthur e tinha também um pouco de tristeza por saber que ela havia acabo de ouvir o que mais desejava na vida, mas sabia que Arthur era daquele jeito: sempre que achava que estava perdendo ela, ficava querendo-a, mas se ela estivesse sozinha, ele se conformava que ela era dele e pronto não fazia mais nada para tê-la. De todo modo ela estava no lucro, porque tinha a seu lado um rapaz lindo, estudioso, bom caráter e que a amava de verdade. Queria mais o quê?
segunda-feira, 7 de julho de 2014

NO OUTRO DIA


Um dia raiou, um lindo sábado começava em Flecheiras. Sol ameno, o barulho das ondas do mar, o verde da grama bem aguada dava uma esperança que o dia seria perfeito. Na sala de jantar, Tifany e Dário sorriam e davam ordens de como tudo deveria estar. Eles realmente eram um casal perfeito. Nunca brigavam e estavam tão bem entrosados que um já sabia o que o outro estava pensando.
Mayra abriu os olhos, um pouco inchados pelo choro da noite anterior.
― Bom dia , flor do dia! Dormiu bem?
― Mais ou menos. Dormi, mas sonhei a noite inteira e isso acabou que não me deixou descansar a cabeça. Deve ter sido por causa da conversa pesadíssima que tive ontem com Túlio.
― Sim, amiga, e aí? ― perguntou Marianna, ansiosa para saber o desfecho desse conto de fadas. ― E aí vão ficar juntos?
― Ai, amiga, é tudo tão complicado. Estou quase me arrependendo de ter vindo. Túlio foi muito duro comigo e pior que tudo que ele disse estava certo. Ele quer que eu me decida de uma vez por todas.
― E claro que você vai decidir ficar com ele. Aí meu deus, porque essas coisas não acontecem comigo! ― comentou Letícia.
Houve um silêncio.
― Vou sim, amiga. Chega de Arthur, chega de Bruna, chega de choro. Quero ser feliz. O Túlio pode me oferecer isso que estou querendo e além do mais, ontem, quando achei que ia perdê-lo para sempre me deu um aperto no coração. Eu gosto dele, eu amei o beijo dele, ele me faz bem e é com ele que vou ficar. Está decidido.
Ao contar para amigas sua decisão, Mayra convenceu também a si própria e com isso teve forças de levantar e aproveitar seu fim de semana que começara bem complicado, mas que ― ela tinha fé ― iria acabar da melhor forma possível.
― Muito bem amiga, é assim que se fala. Eu te dou todo o apoio, mas não esqueça de nem olhar para o Arthur, pelo amor de Deus. ― advertiu sorrindo Marianna.
― Nem se preocupe Mari, estou mesmo decidida a esquecê-lo. E tomara que quando ele me ver com o Túlio não venha com ceninha de ciúmes, porque ele é assim: quando eu estou só ele é todo derretido para a talzinha lá, quando estou com o Túlio, fica me secando.
― Pois esteja preparada para isso e principalmente esteja preparada para não valorizar isso. Afinal de contas o Túlio não merece, né, amiga?
― Não mesmo e ele ontem deixou isso bem claro. Gente, eu achei mesmo que ele ia desistir de mim. Ele chegou a dizer que o que queria mesmo era me esquecer de uma vez por todas...
Mayra contou toda a conversa com riqueza de detalhes e as meninas arregalavam os olhos a cada emoção. Termiram admirando mais ainda Túlio.
― Ele se garantiu viu, amiga. Desculpa dizer, já que você vai namorar com ele, mas, amiga... ahhh um homem desses na minha vida. ― suspirou Letícia.
― Deixa de ser louca, criatura! ― Brincou Mayra ao risos.
Desceram, e na ponta da escada, Mayra avistou Túlio que estava mais lindo que nunca. Uma coisa ela não podia negar. Ele era estonteante! E abriu um sorriso. Túlio que estava de frente pra ela entendeu que a resposta era positiva e deu uma piscadela seguida de um sorriso, mas manteve-se em seu lugar tomando seu café. Mayra desceu as escadas quase correndo, passou pelas costas do garoto e cochichou ao seu ouvido "já tenho sua resposta". Claro que pelos sorrisos e olhares a resposta seria positiva e o dia do novo casal transformou-se de cinza para um colorido com todos os matizes que o amor correspondido pode dar.
Tomaram café sossegadamente. Túlio terminou primeiro, mas ficou sentado, esperando que Mayra terminasse o seu e assim que a garota sorveu o último gole de seu cappuccino, arrancou Túlio da mesa e os dois seguiram para o jardim de mãos dadas. Felicidade pra uns, tristeza pra outros, assim é a vida. Gabriela entendeu que mais uma vez ele tinha se rendido a conversa de Mayra. Ficou triste, mas no fundo, já sabia que aquilo poderia acontecer. Artur, por sua vez ainda não tinha visto o casal.
Mayra e Túlio chegaram ao jardim e Mayra fez questão de levá-lo para o mesmo lugar da conversa na noite anterior.
― Sou sua. ― disse Mayra olhando nos olhos de Túlio, com um sorriso no rosto e segurando as mãos dele.
― Tem certeza disso que você está dizendo? ― perguntou cheio de ansiedade.
― Sim, tenho. Quero namorar você.
― Eu te amo!
As bocas se envolveram em um beijo feliz e apaixonado. Túlio enquanto beijava a garota, rodopiava com ela pelo jardim e repetia "Eu te amo!", ao que Mayra se deliciava ao ouvir aquelas palavras. Quem não gosta de ser amada, não é mesmo?
― Vamos dar um passeio pela praia? ― convidou Mayra.
― Vamos para qualquer lugar que você quiser.
Os dois saíram tão felizes que dava gosto de se ver, as mãos grudadas, brilho nos olhos. Mayra estava realmente feliz por ter conseguido se decidir e a cada segundo tinha mais certeza de que Túlio era o melhor para ela. Um garoto lindo, apaixonado, que fazia tudo que ela queria, pra que melhor?
Passaram por Arthur e Bruna. Túlio fez questão de observar bem a atitude de Mayra que se comportou perfeitamente: não deu a mínima para o casal. na verdade ela não estava mesmo preocupada com Arthur e ter iniciado um namoro com Túlio renovou suas forças, deu ânimo a sua vida, estava começando a acreditar que Marianna tinha ple razão e ela não perderia essa chance. Arthur, por sua vez, olhou com uma cara que só estando lá para ver declaradamente um ciúme monstro.
― Que foi? Vai correr atrás dela agora? ― perguntou bruna que percebeu a mudandça no rosto do garoto.
― Nossa, Bruna! Que estupidez, você hein? Deus me livre. ― Defendeu-se Arthur, não conseguindo parar de olhar para o casal que a essa altura caminhava na areia branca molhando apenas  os pés na água límpida.
― Então para de olhar pra eles!
― Você vai mesmo querer brigar, Bruna? tem certeza disso?
― Não vou brigar, Arthur, mas vou te avisar uma coisa: segura tua onda, porque não vou tolerar outra ceninha de ciúmes daquelas do aniversário da Tifany, ainda mais aqui que está longe de casa e tal. Se você não aguentar vê-la com outro, pelo menos me respeite. Em Fortaleza a gente conversa.
― Não estou fazendo nada. Eu hein?!
Bruna fechou a cara. Estava com medo que Arthur fizesse mais uma de suas cenas públicas de ciúmes da "amiga". Aí sim, ela teria que tomar uma atitude que não teria volta. Passaria vergonha diante de todos, mas ela prometia a si mesma que não sairia por baixo se isso acontecesse.
 Daquele momento em diante Bruna não conseguiu mais descansar, ficava preocupada com o que podia acontecer e observava Arthur por onde ele fosse.
― Que foi Bruna, tá pensativa? ― perguntou Tifany.
― Não, nada. Está tudo ótimo.
― Espero que esteja mesmo, porque você já viu que a Mayra e o Túlio estão juntos, né?  E isso pode deixar seu namorado violento. Mas ó segura a onda dele, porque não quero barraco na minha casa. E tem mais, o Túlio não vai deixar passar dessa vez.
― Tudo bem. Está tudo bem, pode deixar.
Por dentro Bruna estava com um ódio tão grande  que achou melhor dar um mergulho, antes que ela mesma fizesse o barraco e esbofeteasse qualquer um que falasse mais uma vez em Arthur e Mayra. Ela estava de saco cheio daquilo. Sempre que estava ficando bem com Arthur, Mayra fazia alguma coisa para chamar a atenção dele. Que saco!
domingo, 6 de julho de 2014

CASA DE PRAIA 4


Mayra nem sabia ao certo o que dizer a Túlio, mas deixá-lo ir daquela maneira seria, no mínimo, aceitar tudo que ele estava dizendo e a garota não queria que isso acontecesse (a) porque ela sentia sim alguma coisa por Túlio, não entendia se era egoísmo de sua parte querer ter alguém que a amava ou se ela tinha realmente começado a pensar nele depois daquele passeio e (b) porque se o deixasse ir, estaria assinando um documento dizendo que tinha feito Túlio de idiota. Sua mente girava e ela revia num flash back maluco e atormentador tudo que se passara. Via suas investidas em Arthur, via o esforço de Túlio, sentia os beijos de ambos, ouvia tudo que Mariana e Letícia lhe diziam sempre, era uma confusão só.
Túlio olhou para ela como quem também sentia a dor de ter dado um ponto final na história de amor que ele sonhou viver. Para ele não era nada fácil, mas precisava assumir seu papel de homem e a raiva que sentira dela pelo desprezo dado a ele naquela noite na casa de Tifany ajudava e muito naquela decisão necessária. Seu coração não queria de modo algum deixar Mayra ir, mas sua razão gritava que estava mais que na hora de dar um basta naquilo tudo. Ele já dera vários foras em garotas que estavam interessadas e queriam realmente fazê-lo feliz, como era o caso de Gabriela que sempre havia sido muito gentil e paciente e estava perdendo tempo, perdendo sua juventude e sua felicidade.
― Não vá embora assim. Senta aqui um pouco, por favor. ― suplicou Mayra.
E quem resiste a um pedido com lágrimas quando se é completamente apaixonado por quem pede? Túlio baixou a cabeça como quem se dava por vencido e voltou para sentar-se no banco. Manteve-se calado e com a cabeça baixa. Mayra segurou as suas duas mãos.
― Ei, olha pra mim. ― pediu com paciência e carinho. ― Não é do jeito que você está pensando. Eu realmente errei, errei feio, mas estou disposta a corrigir meu erro. Disposta a me dar essa chance de ser feliz.  ― Houve uma pausa ― Mas para isso eu preciso de você, preciso de sua paciência, de sua compreensão e acima de tudo de seu amor. Me perdoa?! ― e sem esperar resposta ― Eu juro que nunca planejei brincar com seus sentimentos, eu não sou essa pessoa e sei que você sabe disso. Me ajuda a ser feliz?!
― O que você está me pedindo, Mayra, é algo muito difícil, entende? Eu teria que confiar em você e me arriscar a passar pelo que passei hoje. Vê você fugindo de mim. poxa, como isso me dá raiva e mágoa e como eu me sinto idiota diante do que você faz comigo...
― Fiz, não farei mais. Nunca mais. Você é importante pra mim, acredite. Me dê essa última chance...
― O que você chama de chance? Porque a gente não namora nem nada. Vendo por esse ângulo é até ridículo tudo isso, entende?
― Eu quero namorar você, Túlio. ― olhou bem em seus olhos. ― Eu quero tentar te amar como você me ama.
― Pois é, Mayra. Esse "tentar" é que me amedronta. Porque você está tomando essa decisão de cabeça quente, você está dizendo tudo isso porque viu que não serei mais seu bichinho de estimação. Tenho medo, entende? Não quero e não vou mais me machucar com isso. Já deu pra mim.
― Já deu pra você? Então você não quer namorar comigo?
― Quero Mayra, quero muito. É o que eu mais quero. Porém você precisa pensar melhor...
― Não há o que pensar...
― Xiiii ― colocou o dedo indicador nos lábios aflitos de Mayra com tal delicadeza que a menina se arrepiou e fechou os olhos para sentir aquele toque. ― Você está sob pressão. Precisa pensar. Pensar bem. E eu vou lhe dar esse tempo. Vou fazer isso porque te amo, porque não quero me culpar por não termos ficado juntos. Mas preciso que você entenda uma coisa, não quero mais me machucar, não quero mais ver você com olhares de dor por ver Arthur e Bruna juntos e nós sabemos que isso acontece, então, pra ser dessa forma que eu quero, preciso que você pense bem. Já está tarde e nós estamos cansados. Durma e pense muito bem. Amanhã a noite a gente conversa.
Os dois levantaram. Pareciam exaustos e realmente estavam, tinha sido um dia de muitas emoções e pressão psicológica para os dois. Caminharam de mãos dadas até o lado movimentado da casa onde estava uma completa algazarra. Ao chegar em ponto visível aos outros, Túlio soltou lentamente a mão de Mayra e mesmo ela se assustando com aquela atitude, sabia que estava certo fazê-lo porque eles nem sabiam que rumo aquilo tudo ia tomar.
Mayra entrou na casa, subiu e deitou na cama como quem vai dormir de conchinha com alguém, ficou ali fazendo o que Túlio havia pedido. Analisou tudo que haviam conversado, pensou também em Arthur, em como ele parecia feliz com Bruna, ouviu em sua mente, com certo ódio o que Bruna havia dito quando viu Túlio com Gabi e tudo aquilo se misturava dando voltas e mais voltas. Desejou ter uma penseira igual a de Dumbledore em Harry Potter, assim poderia dormir em paz e só depois rever os fatos e analisá-los, sem raiva, sem medo, sem dúvida. Mas o fato é que não tinha e precisava aguentar tudo aquilo. Algumas lágrimas ainda rolaram por seus olhos até que Mayra adormeceu.

Quando Letícia e Mariana voltaram pro quarto, Mayra dormia tranquilamente e as amigas fizeram o possível para não acordá-la, pois sabiam que aquela conversa não deveria ter sido das melhores, uma vez que Mayra nem foi pra onde elas estavam e Túlio, mesmo ficando entre a galera, estava calado e pensativo e se manteve um pouco afastado.
sábado, 5 de julho de 2014

CASA DE PRAIA 3


Não conseguia mesmo esquecer. E como que acometida por uma onda de ciúme e sensação de perda, Mayra escreveu uma mensagem a Túlio. 
"Parece que você não viu. Ou quem sabe tenha visto e esquecido de tudo que aconteceu." 
A mensagem era pesada, meio sem sentido para quem chorou por outro, mas Mayra enviou assim mesmo, nem releu que era pra não perder a coragem. De longe viu quando Túlio tirou o celular do bolso e leu a mensagem, guardando o aparelho em seguida. Voltou a conversar com Gabriela tranquilamente como se nada tivesse acontecido e isso irritou Mayra mais ainda. Ele estava pensando o quê? Que vai me ignorar?
Não que Túlio tivesse pensando isso, mas sim ele poderia ignorá-la a hora que ele bem entendesse, afinal de contas quem mandou Mayra se esconder quando ele chegou.
― Amiga, dá pra parar de olhar pro Túlio! Tá ficando ridículo. Esquece esses dois. Já fez a besteira, agora esquece que é melhor. ― alertou Letícia que também olhava a cena e sabia que aquilo estava maltratando Mayra.
― Ele pensa que vai ficar assim, ele está muito enganado.
Parece até que Túlio estava ouvindo a conversa porque exatamente quando Mayra calou a boca, Túlio beijou a mão de Gabi como quem pede licença e se encaminhou na direção das amigas.
― Amiga, segura sua onda que você não está podendo exigir muita coisa, não.
Túlio lançou um olhar duro com um brilho de raiva, bem diferente das outras centenas de vezes que ele se aproximou de Mayra:
― Podemos conversar?
Aquilo não era bem um convite, mas uma intimação a se afastarem dos outros e Mayra sentiu que realmente não estava podendo exigir muita coisa, mesmo assim não baixou a guarda.
― Sim, já não era sem tempo, não acha?
Se afastaram dos outros, rodearam a casa e foram para entrada onde havia o jardim e uns bancos com encosto entre as flores. Era um ambiente bem romântico e Mayra se animou achando que ainda tinha chance. Sentaram. Mayra virou-se para Túlio, ainda com um olhar sério. Ela queria mesmo encostá-lo na parede por causa do que vira, mas antes que ela pudesse falar ele começou a vomitar coisas que pareciam estar guardadas por muitos meses.
― Vamos lá. O que você quis dizer com aquela mensagem?
― Bem, eu queria entender o que estava acontecendo, por que você nem ao menos veio falar comigo e estava ali todo derretido para a Gabriela.
― Bem, Mayra é o seguinte. Eu me derreto para quem eu quiser. (pequena pausa) Ou você pensa que só você tem o direito de ficar comigo e chorar porque aquele babaca do Arthur  que chegou com a Bruna?
Mayra percebeu que a coisa estava feia mesmo e que Túlio tinha visto toda a cena na casa de Tifany antes de embarcarem e quando ela respirou e abriu a boca pra se explicar mesmo sem saber o que dizer, Túlio continuou.
― Você acha que sou um bonequinho que você usa e manipula como quer, quando bem entende e simplesmente quando não quer mais joga fora? É isso? Você acha que eu não tenho sentimentos? ― Túlio alterou um pouco a voz. ― Você só pensa em você, senhorita Rayanna Mayra, se você quer correr atrás do Arthur e vê-lo ser feliz com a Bruna, corra, problema seu. Eu não tenho nada a ver com isso, mas ó, brincar com uma pessoa que sempre gostou de você, que faz todas as suas vontades, isso não está certo.
― Calma, Túlio. Você entendeu tudo errado. Não é assim.
― Não é assim? Não é as-sim? Tudo bem. Então além de eu ser seu bonequinho eu sou um idiota que você engana, mente, trai, faz o que quer.
Mayra se desesperou um pouco, porque percebeu que havia magoado de verdade Túlio e ela nunca quis que fosse assim. Túlio era sim algo para ela, ela só não sabia exatamente o que ele era, mas gostava dele, tinha ficado empolgada com o beijo na beira-mar. E pior de tudo, não conseguia falar nada que pudesse salvá-la de todas as acusações, diga-se de passagem, verdadeiras, que Túlio fazia.
―Calma, Túlio, me deixa explicar. Você está muito nervoso. Para. Me escuta, por favor.
― Olha, Mayra, eu nunca amei ninguém como eu te amo. Nunca mesmo. Mas não se engane achando que por isso eu vou deixar de ser feliz, vou deixar de procurar alguém que valha a pena. É como eu te disse hoje, se você quer correr atrás do Arthur o resto de sua vida, paciência. Mas eu não vou ficar nessa história para ser pisado e magoado como se eu fosse uma planta que ornamenta o jardim e quando chega uma estatueta que a dona desejava há algum tempo, arranca-a e está tudo resolvido.
― Você não é isso pra mim...
―Ah ― interrompeu Túlio ― e não me venha com esse lance de somos bons amigos. ― suspirou e acalmou a voz ― porque, sinceramente Mayra, o que quero de você agora é tirá-la da minha mente, tirá-la do meu coração. Quero dar um basta nisso tudo. Chega! Já sofri demais. Já fiz o que podia por você. Estou cansado. Cansado de te agradar e receber em troca pancada, ou pior ainda, não receber nada, ser ignorado. Cansado de ser inteiramente teu e você ser do Arthur. Cansado de suas desculpas esfarrapadas. Cansado de você me ligar e eu me encher de esperança e no instante seguinte você se derreter, na minha frente ou nas minhas costas, tanto faz, para o Arthur. Estou farto do Arthur também. E sabe o que mais? Ele está certíssimo. Ele sabe que tem você nas mãos, então ele fica lá com a namoradinha dele e deixa você como reserva, se algo der errado lá, aí quem sabe ele te dê uma chance...
― Você está sendo duro demais comigo, Túlio. ― Mayra não conseguia mais conter o choro, as lagrimas vinham e ela nem sabia por que, se era por causa de Túlio, ou das palavras dele, ou mesmo por causa do seu amor por Arthur, que realmente já a machucara demais. ― Por favor, para com isso, por favor.
― Paro sim, Mayra. ― Túlio falou tranquilamente, numa voz rouca e sensual demais para o momento ― Paro porque como já te expliquei eu cansei e estou saindo dessa história, desse triângulo amoroso doentio. Agora sou eu que te peço, vá viver sua vida e me deixe em paz. Não me ligue. Não mande mensagem. Não fale comigo, exceto o estritamente social. E te peço mais: Pense. Pense muito em tudo que você me fez. Pense no que você desperdiçou por causa de um alguém que não te quer.
― Túlio, mas eu quero você.
― Não, você não me quer. Se você me quisesse, estaria me esperando hoje lá na Tifany. Se você me quisesse, você tinha ido ao meu encontro quando eu cheguei. Se você me quisesse, teria vindo na van ao meu lado. Mas não. Você quer que eu seja seu estepe, quer que eu seja o objeto de ciúme para Arthur. E isso, Mayra, eu sinto muito, não serei de modo algum. Nem para você, nem para ninguém.
― Mas você disse que me amava. ― interrompeu Mayra esperançosa que Túlio quisesse voltar para ela.
― Amo, amo muito. Mas eu amo primeiro a mim.
Túlio disse aquilo como um ultimato e deu as costas para Mayra que chorava compulsivamente.
― Espera! ― Gritou Mayra estendendo a mão. ― Espera, por favor.

Túlio virou-se para a garota.