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Razão e sentimento

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- Louzinha
- Uma menina-mulher sonharadora convicta, pore´m de uma racionalidade necessária.
.

domingo, 16 de novembro de 2014
Toda aquela história de conhece-te a ti mesmo é meio louca, mas faz sentido. Quando paro e penso em quem eu sou, vem-me a mente várias respostas. Várias mesmo. Acho que tenho múltiplas personalidades.
Às vezes sou uma criança que precisa de carinho e afeto, que não se sente segura de quase nada na vida e que suga tudo que pode dos amigos ou de pessoas que lhe rodeiam para sobreviver. Uma verdadeira vampira de sentimentos alheios. Nesses momentos me sinto frágil, delicada e toda minha suscetibilidade aflora. Acho que as pessoas não suportam esse formato. Ele é chato mesmo, mas não posso negar que sou assim.
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domingo, 27 de julho de 2014
FIM DE SEMANA
O mergulho serviu mesmo
para refrescar a cabeça de Bruna, porque ela decidiu se valorizar mais,
aproveitar o fim de semana sem se preocupar tanto com Arthur. Mas é sempre bom
lembrar que decidir é uma coisa e conseguir fazer é outra. Porém não vamos
tirar o mérito da garota que tentaria com todas as forças não se transformar em
uma vigia do amor. Arthur, por sua vez, teria que se esforçar para disfarçar
seu interesse em Mayra e sua raiva por ela estar com Túlio. Também, o que ele
queria se não terminava com Bruna?
― Dário, o que a Mayra
está fazendo com aquele babaca, hein? Sinceramente, cara, o Túlio... está muito
claro que o Túlio não é pra ela.
― Está claro que você
está com ciúmes. Mas, Arthur, sinceramente cara, deixa essa menina ser feliz.
Você não quer ela de verdade. Se você quisesse já teria, pelo menos, terminado
com a Bruna. Tá na hora de parar com isso. Esquece a Mayra. Isso que você sente
é posse. Você sabe que ela gosta de você e você gosta de tê-la, gosta de
deixá-la na fila. Isso nem parece com você. Nem eu que te conheço entendo por
que você age assim.
― É, eu sei que você
tem certa razão. Mas só até certo ponto, também não é como você falou, porque
se fosse, eu seria um mal caráter e isso não sou. Eu não me entendo, cara. Eu
queria namorar com ela. Eu juro que queria, mas sei lá, a Bruna complica as
coisas. Ele é compreensiva demais, aí quando tento terminar ela finge que não
está ouvindo, me dá carinho, atenção e eu acabo desistindo de terminar, além do
mais eu gosto dela também.
― Me desculpe, Arthur,
mas como é que se gosta de duas. Eu não entendo. Pra mim é tudo muito simples.
Eu amo a Tifanny e pronto, estou com ela. Pra mim é assim. Mas ó, conselho de
amigo. Se afasta da Mayra, deixa ela em paz.
Nesse momento Bruna se
aproximou.
― O que esses dois
gatinhos estão segredando, hein?! ― disse isso e beijou a bochecha de Arthur
que ficou toda molhada, pois a garota estava saindo da piscina.
― Nada de interessante,
amor. ― respondeu Arthur com ar desinteressado.
― Vou ali ver o que a
Tifanny está fazendo. ― Dário disse isso e aproveitou para sair dali.
Tifanny anunciou o
torneio de volley. Os times foram separados e a bola ia rolar em dez minutos.
Todos foram saindo da água e se encaminhando para a quadra de volley, que não era
bem uma quadra já que o piso era de uma grama bem aparada. A pequena
arquibancada unilateral se encheu rapidinho e os gritos da torcida começaram.
Jogaram até o almoço
ser anunciado. Era uma mesa grande recheada de variados pratos a la adolescentes: batata frita, arroz
de três tipos, purê, pouca salada, lasanha de dois sabores e algumas frutas
para ajudar na digestão. A mesa era daquelas de refeitório e o almoço foi servido
ao lado da piscina. Mayra que havia acabado
de ganhar a partida foi a primeira a almoçar, estava varada de fome ― como se
diz aqui no Nordeste ― levou seu prato para perto de Túlio e os dois tiveram
seu primeiro almoço como namorados. Ele irradiava felicidade e poder. Seu olhar
que já era galante, ficou mais exaltado. Ele se sentia vencedor de uma batalha
silenciosa entre ele e Arthur. Ela estava feliz também, porém era uma
felicidade comedida. Comeram na ótima companhia um do outro.
― Vou ao banheiro. Venho
já, ok? ― avisou Mayra com um beijo na bochecha de Túlio e já se levantando.
― Ok.
Deram um beijinho e ela
foi. De longe Arthur olhava tudo disfarçadamente. Acho que ninguém percebeu que
ele se mordia de ciúmes e de remorso por não ter ficado com ela. mas ele sabia
que ela ainda o amava, pois não se esquece alguém assim de uma hora para outra.
Mas afinal o que ele tinha para garantir que ela não o esquecesse? Levantou-se
sem que ninguém percebesse e caminhou para o interior da casa seguindo Mayra.
Viu quando ela entrou no banheiro e ficou esperando ela em um corredor por onde
ela teria de passar para voltar para a área da piscina.
Encostou-se na porta de
frente a do banheiro onde Mayra estava, cruzou uma das pernas sobre a outra, pôs
a mão no queixo e esperou. Quando ela saiu, tomou um susto.
― Ai, Arthur, você me
mata de susto. ― Mayra falou um pouco aborrecida.
Arthur empurrou-a
contra a parede de beijou-a com vontade, com toda vontade que estava sentindo
desde que a vira com Túlio.
― O que é isso, Arthur?
Ficou louco! ― Mayra o empurrou de volta. ― O que você está pensando, hein?
― Estou pensando que
você ama a mim e não aquele babaca do Túlio. ― amenizou o tom de voz ― eu
também gosto de você, Mayra, te peço só para ter paciência para eu terminar com
a Bruna e não posso fazer isso aqui, né? Você me entende!
― Não, Arthur, eu não
entendo coisa nenhuma que vem de você. Você sempre me ilude de alguma forma...
― Isso é mentira, eu
nunca lhe iludi. Aliás hoje é a primeira vez que te digo que gosto de você.
― Ilude sim. Você deu
um tapa na cara do Túlio só porque ele me pediu em namoro. Você acha que isso é
o que? Você acha que isso é pouca coisa? Você realmente acha que se expor numa
festa de 15 anos onde estão todos da sua
escola antiga é pouca coisa? Pois fique sabendo que eu não acho. Você me liga
de manhã fazendo convitinho para ir à praia. Você me dá olhadas que são de quem
me quer...
― E quero mesmo.
― Não! Você quer me
iludir, quer que eu seja sua bonequinha pra você deixar ali jogada, mas ó,
acabou. A - CA - BOU! Entendeu?! Eu não quero mais isso pra mim.
― Desculpa, Mayra, se
você entendeu assim. ― o tom de voz já era outro. Arthur sabia que o que Mayra
estava dizendo era a mais pura verdade porque ele mesmo se sentia assim. Vou
deixá-la em paz.
― Acho bom mesmo,
Arthur. ― houve um curta pausa entre essa fala e a seguinte ― Se afasta um
pouco, me dá um tempo. Você já me maltratou muito. Eu cansei e preciso ser
feliz. ― Essa última frase foi dita num tom romântico e tristonho.
― Tá certo, vou
respeitar seu pedido. Mas quero que você saiba de uma coisa. Nunca esqueci seu
beijo. Ele foi o melhor até hoje e eu vou terminar com a Bruna e virei atrás de
você. Realmente vou te dar um tempo, aliás vou nos dar um tempo, porque eu
também preciso de um tempo pra terminar com a Bruna e quando eu falar assim, desse
jeito a sós, com você de novo, saiba que será para pedir que você fique comigo.
Antes que Mayra
respondesse algo, Túlio apareceu.
― Amor, está tudo bem
aí? ― Nunca havia lhe chamado de amor. Acho que ele fez isso para dar um fora
em Arthur para mostrar que ele estava com Mayra pra valer.
― Sim, está. ― Mayra
pegou em sua mão e o arrastou para fora.
― O que aquele estava
te dizendo? ― Túlio não se conteve e perguntou.
― Nada de importante. Tava
só conversando mesmo.
― Sei. Não gostei do eu
vi. Se fosse outra pessoa em vez de mim, hein?! O que iriam pensar?
― Ah Túlio, para! Não
vamos estragar o início do nosso namoro por causa do Arthur, não é mesmo?
― Ah, isso é verdade. ―
disse já com um sorriso e puxou Mayra para si, dando-lhe vários beijinhos, o
que provava que ele ia deixar aquele assunto de lado.
Se perguntasse a Mayra
o que ela estava sentindo naquele momento seria muito difícil dizer, porque
sinceramente ela não saberia. Tinha um misto de felicidade por estar por cima e
pela "apelação" de Arthur e tinha também um pouco de tristeza por
saber que ela havia acabo de ouvir o que mais desejava na vida, mas sabia que
Arthur era daquele jeito: sempre que achava que estava perdendo ela, ficava
querendo-a, mas se ela estivesse sozinha, ele se conformava que ela era dele e
pronto não fazia mais nada para tê-la. De todo modo ela estava no lucro, porque
tinha a seu lado um rapaz lindo, estudioso, bom caráter e que a amava de
verdade. Queria mais o quê?
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segunda-feira, 7 de julho de 2014
NO OUTRO DIA
Um
dia raiou, um lindo sábado começava em Flecheiras. Sol ameno, o barulho das
ondas do mar, o verde da grama bem aguada dava uma esperança que o dia seria
perfeito. Na sala de jantar, Tifany e Dário sorriam e davam ordens de como tudo
deveria estar. Eles realmente eram um casal perfeito. Nunca brigavam e estavam
tão bem entrosados que um já sabia o que o outro estava pensando.
Mayra
abriu os olhos, um pouco inchados pelo choro da noite anterior.
―
Bom dia , flor do dia! Dormiu bem?
―
Mais ou menos. Dormi, mas sonhei a noite inteira e isso acabou que não me
deixou descansar a cabeça. Deve ter sido por causa da conversa pesadíssima que
tive ontem com Túlio.
―
Sim, amiga, e aí? ― perguntou Marianna, ansiosa para saber o desfecho desse
conto de fadas. ― E aí vão ficar juntos?
―
Ai, amiga, é tudo tão complicado. Estou quase me arrependendo de ter vindo.
Túlio foi muito duro comigo e pior que tudo que ele disse estava certo. Ele
quer que eu me decida de uma vez por todas.
―
E claro que você vai decidir ficar com ele. Aí meu deus, porque essas coisas
não acontecem comigo! ― comentou Letícia.
Houve
um silêncio.
―
Vou sim, amiga. Chega de Arthur, chega de Bruna, chega de choro. Quero ser
feliz. O Túlio pode me oferecer isso que estou querendo e além do mais, ontem,
quando achei que ia perdê-lo para sempre me deu um aperto no coração. Eu gosto
dele, eu amei o beijo dele, ele me faz bem e é com ele que vou ficar. Está
decidido.
Ao
contar para amigas sua decisão, Mayra convenceu também a si própria e com isso
teve forças de levantar e aproveitar seu fim de semana que começara bem
complicado, mas que ― ela tinha fé ― iria acabar da melhor forma possível.
―
Muito bem amiga, é assim que se fala. Eu te dou todo o apoio, mas não esqueça
de nem olhar para o Arthur, pelo amor de Deus. ― advertiu sorrindo Marianna.
―
Nem se preocupe Mari, estou mesmo decidida a esquecê-lo. E tomara que quando
ele me ver com o Túlio não venha com ceninha de ciúmes, porque ele é assim:
quando eu estou só ele é todo derretido para a talzinha lá, quando estou com o
Túlio, fica me secando.
―
Pois esteja preparada para isso e principalmente esteja preparada para não
valorizar isso. Afinal de contas o Túlio não merece, né, amiga?
―
Não mesmo e ele ontem deixou isso bem claro. Gente, eu achei mesmo que ele ia
desistir de mim. Ele chegou a dizer que o que queria mesmo era me esquecer de
uma vez por todas...
Mayra
contou toda a conversa com riqueza de detalhes e as meninas arregalavam os
olhos a cada emoção. Termiram admirando mais ainda Túlio.
―
Ele se garantiu viu, amiga. Desculpa dizer, já que você vai namorar com ele,
mas, amiga... ahhh um homem desses na minha vida. ― suspirou Letícia.
―
Deixa de ser louca, criatura! ― Brincou Mayra ao risos.
Desceram,
e na ponta da escada, Mayra avistou Túlio que estava mais lindo que nunca. Uma coisa
ela não podia negar. Ele era estonteante! E abriu um sorriso. Túlio que estava
de frente pra ela entendeu que a resposta era positiva e deu uma piscadela
seguida de um sorriso, mas manteve-se em seu lugar tomando seu café. Mayra
desceu as escadas quase correndo, passou pelas costas do garoto e cochichou ao
seu ouvido "já tenho sua resposta". Claro que pelos sorrisos e
olhares a resposta seria positiva e o dia do novo casal transformou-se de cinza
para um colorido com todos os matizes que o amor correspondido pode dar.
Tomaram
café sossegadamente. Túlio terminou primeiro, mas ficou sentado, esperando que
Mayra terminasse o seu e assim que a garota sorveu o último gole de seu
cappuccino, arrancou Túlio da mesa e os dois seguiram para o jardim de mãos
dadas. Felicidade pra uns, tristeza pra outros, assim é a vida. Gabriela
entendeu que mais uma vez ele tinha se rendido a conversa de Mayra. Ficou
triste, mas no fundo, já sabia que aquilo poderia acontecer. Artur, por sua vez
ainda não tinha visto o casal.
Mayra
e Túlio chegaram ao jardim e Mayra fez questão de levá-lo para o mesmo lugar da
conversa na noite anterior.
―
Sou sua. ― disse Mayra olhando nos olhos de Túlio, com um sorriso no rosto e
segurando as mãos dele.
―
Tem certeza disso que você está dizendo? ― perguntou cheio de ansiedade.
―
Sim, tenho. Quero namorar você.
―
Eu te amo!
As
bocas se envolveram em um beijo feliz e apaixonado. Túlio enquanto beijava a
garota, rodopiava com ela pelo jardim e repetia "Eu te amo!", ao que
Mayra se deliciava ao ouvir aquelas palavras. Quem não gosta de ser amada, não
é mesmo?
―
Vamos dar um passeio pela praia? ― convidou Mayra.
―
Vamos para qualquer lugar que você quiser.
Os
dois saíram tão felizes que dava gosto de se ver, as mãos grudadas, brilho nos
olhos. Mayra estava realmente feliz por ter conseguido se decidir e a cada segundo
tinha mais certeza de que Túlio era o melhor para ela. Um garoto lindo,
apaixonado, que fazia tudo que ela queria, pra que melhor?
Passaram
por Arthur e Bruna. Túlio fez questão de observar bem a atitude de Mayra que se
comportou perfeitamente: não deu a mínima para o casal. na verdade ela não
estava mesmo preocupada com Arthur e ter iniciado um namoro com Túlio renovou
suas forças, deu ânimo a sua vida, estava começando a acreditar que Marianna
tinha ple razão e ela não perderia essa chance. Arthur, por sua vez, olhou com
uma cara que só estando lá para ver declaradamente um ciúme monstro.
―
Que foi? Vai correr atrás dela agora? ― perguntou bruna que percebeu a mudandça
no rosto do garoto.
―
Nossa, Bruna! Que estupidez, você hein? Deus me livre. ― Defendeu-se Arthur,
não conseguindo parar de olhar para o casal que a essa altura caminhava na
areia branca molhando apenas os pés na
água límpida.
―
Então para de olhar pra eles!
―
Você vai mesmo querer brigar, Bruna? tem certeza disso?
―
Não vou brigar, Arthur, mas vou te avisar uma coisa: segura tua onda, porque
não vou tolerar outra ceninha de ciúmes daquelas do aniversário da Tifany,
ainda mais aqui que está longe de casa e tal. Se você não aguentar vê-la com
outro, pelo menos me respeite. Em Fortaleza a gente conversa.
―
Não estou fazendo nada. Eu hein?!
Bruna
fechou a cara. Estava com medo que Arthur fizesse mais uma de suas cenas
públicas de ciúmes da "amiga". Aí sim, ela teria que tomar uma
atitude que não teria volta. Passaria vergonha diante de todos, mas ela
prometia a si mesma que não sairia por baixo se isso acontecesse.
Daquele momento em diante Bruna não conseguiu
mais descansar, ficava preocupada com o que podia acontecer e observava Arthur
por onde ele fosse.
―
Que foi Bruna, tá pensativa? ― perguntou Tifany.
―
Não, nada. Está tudo ótimo.
―
Espero que esteja mesmo, porque você já viu que a Mayra e o Túlio estão juntos,
né? E isso pode deixar seu namorado
violento. Mas ó segura a onda dele, porque não quero barraco na minha casa. E
tem mais, o Túlio não vai deixar passar dessa vez.
―
Tudo bem. Está tudo bem, pode deixar.
Por
dentro Bruna estava com um ódio tão grande
que achou melhor dar um mergulho, antes que ela mesma fizesse o barraco
e esbofeteasse qualquer um que falasse mais uma vez em Arthur e Mayra. Ela
estava de saco cheio daquilo. Sempre que estava ficando bem com Arthur, Mayra
fazia alguma coisa para chamar a atenção dele. Que saco!
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domingo, 6 de julho de 2014
CASA DE PRAIA 4
Mayra nem sabia ao certo o que dizer a
Túlio, mas deixá-lo ir daquela maneira seria, no mínimo, aceitar tudo que ele
estava dizendo e a garota não queria que isso acontecesse (a) porque ela sentia
sim alguma coisa por Túlio, não entendia se era egoísmo de sua parte querer ter
alguém que a amava ou se ela tinha realmente começado a pensar nele depois
daquele passeio e (b) porque se o deixasse ir, estaria assinando um documento
dizendo que tinha feito Túlio de idiota. Sua mente girava e ela revia num flash
back maluco e atormentador tudo que se passara. Via suas investidas em Arthur,
via o esforço de Túlio, sentia os beijos de ambos, ouvia tudo que Mariana e
Letícia lhe diziam sempre, era uma confusão só.
Túlio olhou para ela como quem também
sentia a dor de ter dado um ponto final na história de amor que ele sonhou
viver. Para ele não era nada fácil, mas precisava assumir seu papel de homem e
a raiva que sentira dela pelo desprezo dado a ele naquela noite na casa de
Tifany ajudava e muito naquela decisão necessária. Seu coração não queria de
modo algum deixar Mayra ir, mas sua razão gritava que estava mais que na hora
de dar um basta naquilo tudo. Ele já dera vários foras em garotas que estavam
interessadas e queriam realmente fazê-lo feliz, como era o caso de Gabriela que
sempre havia sido muito gentil e paciente e estava perdendo tempo, perdendo sua
juventude e sua felicidade.
― Não vá embora assim. Senta aqui um
pouco, por favor. ― suplicou Mayra.
E quem resiste a um pedido com lágrimas
quando se é completamente apaixonado por quem pede? Túlio baixou a cabeça como
quem se dava por vencido e voltou para sentar-se no banco. Manteve-se calado e
com a cabeça baixa. Mayra segurou as suas duas mãos.
― Ei, olha pra mim. ― pediu com
paciência e carinho. ― Não é do jeito que você está pensando. Eu realmente
errei, errei feio, mas estou disposta a corrigir meu erro. Disposta a me dar
essa chance de ser feliz. ― Houve uma
pausa ― Mas para isso eu preciso de você, preciso de sua paciência, de sua
compreensão e acima de tudo de seu amor. Me perdoa?! ― e sem esperar resposta ―
Eu juro que nunca planejei brincar com seus sentimentos, eu não sou essa pessoa
e sei que você sabe disso. Me ajuda a ser feliz?!
― O que você está me pedindo, Mayra, é
algo muito difícil, entende? Eu teria que confiar em você e me arriscar a
passar pelo que passei hoje. Vê você fugindo de mim. poxa, como isso me dá
raiva e mágoa e como eu me sinto idiota diante do que você faz comigo...
― Fiz, não farei mais. Nunca mais. Você
é importante pra mim, acredite. Me dê essa última chance...
― O que você chama de chance? Porque a
gente não namora nem nada. Vendo por esse ângulo é até ridículo tudo isso,
entende?
― Eu quero namorar você, Túlio. ― olhou
bem em seus olhos. ― Eu quero tentar te amar como você me ama.
― Pois é, Mayra. Esse "tentar"
é que me amedronta. Porque você está tomando essa decisão de cabeça quente,
você está dizendo tudo isso porque viu que não serei mais seu bichinho de
estimação. Tenho medo, entende? Não quero e não vou mais me machucar com isso.
Já deu pra mim.
― Já deu pra você? Então você não quer
namorar comigo?
― Quero Mayra, quero muito. É o que eu
mais quero. Porém você precisa pensar melhor...
― Não há o que pensar...
― Xiiii ― colocou o dedo indicador nos
lábios aflitos de Mayra com tal delicadeza que a menina se arrepiou e fechou os
olhos para sentir aquele toque. ― Você está sob pressão. Precisa pensar. Pensar
bem. E eu vou lhe dar esse tempo. Vou fazer isso porque te amo, porque não
quero me culpar por não termos ficado juntos. Mas preciso que você entenda uma
coisa, não quero mais me machucar, não quero mais ver você com olhares de dor
por ver Arthur e Bruna juntos e nós sabemos que isso acontece, então, pra ser
dessa forma que eu quero, preciso que você pense bem. Já está tarde e nós
estamos cansados. Durma e pense muito bem. Amanhã a noite a gente conversa.
Os dois levantaram. Pareciam exaustos e
realmente estavam, tinha sido um dia de muitas emoções e pressão psicológica
para os dois. Caminharam de mãos dadas até o lado movimentado da casa onde
estava uma completa algazarra. Ao chegar em ponto visível aos outros, Túlio
soltou lentamente a mão de Mayra e mesmo ela se assustando com aquela atitude,
sabia que estava certo fazê-lo porque eles nem sabiam que rumo aquilo tudo ia
tomar.
Mayra entrou na casa, subiu e deitou na
cama como quem vai dormir de conchinha com alguém, ficou ali fazendo o que
Túlio havia pedido. Analisou tudo que haviam conversado, pensou também em
Arthur, em como ele parecia feliz com Bruna, ouviu em sua mente, com certo ódio
o que Bruna havia dito quando viu Túlio com Gabi e tudo aquilo se misturava
dando voltas e mais voltas. Desejou ter uma penseira igual a de Dumbledore em
Harry Potter, assim poderia dormir em paz e só depois rever os fatos e
analisá-los, sem raiva, sem medo, sem dúvida. Mas o fato é que não tinha e
precisava aguentar tudo aquilo. Algumas lágrimas ainda rolaram por seus olhos
até que Mayra adormeceu.
Quando Letícia e Mariana voltaram pro
quarto, Mayra dormia tranquilamente e as amigas fizeram o possível para não
acordá-la, pois sabiam que aquela conversa não deveria ter sido das melhores,
uma vez que Mayra nem foi pra onde elas estavam e Túlio, mesmo ficando entre a
galera, estava calado e pensativo e se manteve um pouco afastado.
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sábado, 5 de julho de 2014
CASA DE PRAIA 3
Não
conseguia mesmo esquecer. E como que acometida por uma onda de ciúme e sensação
de perda, Mayra escreveu uma mensagem a Túlio.
"Parece que você não viu. Ou
quem sabe tenha visto e esquecido de tudo que aconteceu."
A mensagem era
pesada, meio sem sentido para quem chorou por outro, mas Mayra enviou
assim mesmo, nem releu que era pra não perder a coragem. De longe viu quando
Túlio tirou o celular do bolso e leu a mensagem, guardando o aparelho em
seguida. Voltou a conversar com Gabriela tranquilamente como se nada tivesse
acontecido e isso irritou Mayra mais ainda. Ele estava pensando o quê? Que vai me ignorar?
Não
que Túlio tivesse pensando isso, mas sim ele poderia ignorá-la a hora que ele
bem entendesse, afinal de contas quem mandou Mayra se esconder quando ele
chegou.
―
Amiga, dá pra parar de olhar pro Túlio! Tá ficando ridículo. Esquece esses
dois. Já fez a besteira, agora esquece que é melhor. ― alertou Letícia que
também olhava a cena e sabia que aquilo estava maltratando Mayra.
―
Ele pensa que vai ficar assim, ele está muito enganado.
Parece
até que Túlio estava ouvindo a conversa porque exatamente quando Mayra calou a
boca, Túlio beijou a mão de Gabi como quem pede licença e se encaminhou na direção das amigas.
―
Amiga, segura sua onda que você não está podendo exigir muita coisa, não.
Túlio
lançou um olhar duro com um brilho de raiva, bem diferente das outras centenas
de vezes que ele se aproximou de Mayra:
―
Podemos conversar?
Aquilo
não era bem um convite, mas uma intimação a se afastarem dos outros e Mayra
sentiu que realmente não estava podendo exigir muita coisa, mesmo assim não
baixou a guarda.
―
Sim, já não era sem tempo, não acha?
Se
afastaram dos outros, rodearam a casa e foram para entrada onde havia o jardim
e uns bancos com encosto entre as flores. Era um ambiente bem romântico e Mayra
se animou achando que ainda tinha chance. Sentaram. Mayra virou-se para Túlio,
ainda com um olhar sério. Ela queria mesmo encostá-lo na parede por causa do
que vira, mas antes que ela pudesse falar ele começou a vomitar coisas que
pareciam estar guardadas por muitos meses.
―
Vamos lá. O que você quis dizer com aquela mensagem?
―
Bem, eu queria entender o que estava acontecendo, por que você nem ao menos
veio falar comigo e estava ali todo derretido para a Gabriela.
―
Bem, Mayra é o seguinte. Eu me derreto para quem eu quiser. (pequena pausa) Ou você pensa que
só você tem o direito de ficar comigo e chorar porque aquele babaca do Arthur que chegou com a Bruna?
Mayra
percebeu que a coisa estava feia mesmo e que Túlio tinha visto toda a cena na
casa de Tifany antes de embarcarem e quando ela respirou e abriu a boca pra se
explicar mesmo sem saber o que dizer, Túlio continuou.
―
Você acha que sou um bonequinho que você usa e manipula como quer, quando bem
entende e simplesmente quando não quer mais joga fora? É isso? Você acha que eu
não tenho sentimentos? ― Túlio alterou um pouco a voz. ― Você só pensa em você,
senhorita Rayanna Mayra, se você quer correr atrás do Arthur e vê-lo ser feliz
com a Bruna, corra, problema seu. Eu não tenho nada a ver com isso, mas ó, brincar com uma
pessoa que sempre gostou de você, que faz todas as suas vontades, isso não está
certo.
―
Calma, Túlio. Você entendeu tudo errado. Não é assim.
―
Não é assim? Não é as-sim? Tudo bem. Então além de eu ser seu bonequinho eu sou um
idiota que você engana, mente, trai, faz o que quer.
Mayra
se desesperou um pouco, porque percebeu que havia magoado de verdade Túlio e
ela nunca quis que fosse assim. Túlio era sim algo para ela, ela só não sabia
exatamente o que ele era, mas gostava dele, tinha ficado empolgada com o beijo
na beira-mar. E pior de tudo, não conseguia falar nada que pudesse salvá-la de todas as
acusações, diga-se de passagem, verdadeiras, que Túlio fazia.
―Calma,
Túlio, me deixa explicar. Você está muito nervoso. Para. Me escuta, por favor.
―
Olha, Mayra, eu nunca amei ninguém como eu te amo. Nunca mesmo. Mas não se
engane achando que por isso eu vou deixar de ser feliz, vou deixar de procurar
alguém que valha a pena. É como eu te disse hoje, se você quer correr atrás do
Arthur o resto de sua vida, paciência. Mas eu não vou ficar nessa história para
ser pisado e magoado como se eu fosse uma planta que ornamenta o jardim e
quando chega uma estatueta que a dona desejava há algum tempo, arranca-a e está tudo resolvido.
―
Você não é isso pra mim...
―Ah
― interrompeu Túlio ― e não me venha com esse lance de somos bons amigos. ―
suspirou e acalmou a voz ― porque, sinceramente Mayra, o que quero de você
agora é tirá-la da minha mente, tirá-la do meu coração. Quero dar um basta
nisso tudo. Chega! Já sofri demais. Já fiz o que podia por você. Estou cansado.
Cansado de te agradar e receber em troca pancada, ou pior ainda, não receber nada, ser ignorado. Cansado de ser inteiramente
teu e você ser do Arthur. Cansado de suas desculpas esfarrapadas. Cansado de
você me ligar e eu me encher de esperança e no instante seguinte você se
derreter, na minha frente ou nas minhas costas, tanto faz, para o Arthur. Estou
farto do Arthur também. E sabe o que mais? Ele está certíssimo. Ele sabe que
tem você nas mãos, então ele fica lá com a namoradinha dele e deixa você como
reserva, se algo der errado lá, aí quem sabe ele te dê uma chance...
―
Você está sendo duro demais comigo, Túlio. ― Mayra não conseguia mais conter o
choro, as lagrimas vinham e ela nem sabia por que, se era por causa de Túlio,
ou das palavras dele, ou mesmo por causa do seu amor por Arthur, que realmente
já a machucara demais. ― Por favor, para com isso, por favor.
―
Paro sim, Mayra. ― Túlio falou tranquilamente, numa voz rouca e sensual demais
para o momento ― Paro porque como já te expliquei eu cansei e estou saindo
dessa história, desse triângulo amoroso doentio. Agora sou eu que te peço, vá viver sua vida e me deixe em paz. Não me
ligue. Não mande mensagem. Não fale comigo, exceto o estritamente social. E te
peço mais: Pense. Pense muito em tudo que você me fez. Pense no que você
desperdiçou por causa de um alguém que não te quer.
―
Túlio, mas eu quero você.
―
Não, você não me quer. Se você me quisesse, estaria me esperando hoje lá na
Tifany. Se você me quisesse, você tinha ido ao meu encontro quando eu cheguei.
Se você me quisesse, teria vindo na van ao meu lado. Mas não. Você quer que eu
seja seu estepe, quer que eu seja o objeto de ciúme para Arthur. E isso, Mayra,
eu sinto muito, não serei de modo algum. Nem para você, nem para ninguém.
―
Mas você disse que me amava. ― interrompeu Mayra esperançosa que Túlio quisesse
voltar para ela.
―
Amo, amo muito. Mas eu amo primeiro a mim.
Túlio
disse aquilo como um ultimato e deu as costas para Mayra que chorava
compulsivamente.
―
Espera! ― Gritou Mayra estendendo a mão. ― Espera, por favor.
Túlio
virou-se para a garota.
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quarta-feira, 25 de junho de 2014
CASA DE PRAIA 2
O
motorista deu partida. Vozes se misturaram e não se sabia ao certo quem estava
falando com quem. Túlio encostado a janela da van pensava em tudo que tinha
visto. Sentia-se um perfeito idiota. Ele a tratara tão bem, valorizara tudo
nela. Fez tudo que ela quis sem sequer dar um ideia que fosse dele. E tudo isso
pra quê? Para vê-la chorar por causa do babaca do Arthur que estava com a
namoradinha perfeita.
Quanta
raiva Túlio sentia de si mesmo agora. Era um panaca mesmo, se iludindo com uma
menina que nunca quis saber dele. Precisava mesmo era dar um basta naquilo
tudo. Nunca tinha sido daquele jeito. nunca ficou à mercê de menina nenhuma,
sempre fora ele quem mandara nas relações e agora tava ali mogoado. Ai, dá
licença, né?
Estava
também com raiva de Mayra, sabia que ela não tinha culpa, mas a raiva era
incontrolável. Se ela está pensando que vai me fazer do bobo, ficar comigo e
chorar pelo tal Arthur, está muito enganada. Muito mesmo. Túlio estava com o
orgulho ferido. Ele gostava de verdade de Mayra, admirava tudo nela: o jeito, o
olhar, a boca, o beijo... aquele beijo só serviu para piorar as coisas, porque
antes era apenas uma imaginação, um desejo e agora era real, ele sabia
exatamente que gosto tinha beijá-la, sabia qual seu cheiro e todas aquelas
lembranças pioravam e muito a situação. Mas a van estava cheia de meninas tão
lindas quanto Mayra, não existia só ela no mundo.
Ajeitou
a cabeça no vidro e se concentrou na estrada que corria do lado de fora. As
luzes passavam rapidamente deviam estar a uns 100km/h. O sol estava quase se
pondo e eles haviam planejado chegar lá no por do sol. Não daria para
aproveitar, mas queriam chegar cedo, separar quartos e começar a farrinha com
os amigos.
Mayra
observava Túlio. Ele parecia ignorar a presença dela. E de fato estava se
esforçando para isso. Será que ele é um perfeito idiota ou que ele viu alguma
coisa?
―
Acho que ele pode ter visto sim, porque quando ele chegou, lembra que ele te
deu aquela olhada? Ou então ele está chateado porque você se escondeu e isso
ficou muito na cara né, amiga?
―
Ô gente, vocês só me culpam o tempo todo. Até agora não sei o que vou dizer ou
fazer em relação a ele...
―
Não sabe?! ― Letícia gritou.
―
Fala baixo!, Tá doida?
―
Como assim não sabe o que fazer? Pois eu sei muito bem o que fazer com ele.
Ai...ai... Deus realmente não dá assas a cobra, porque se desse...
―
Letícia você é louca mesmo. ― brincou Marianna que concordava absolutamente com
Letícia.
―
Gente, foco! Vocês acham que ele viu? E se ele tiver visto, como vou me
defender?
―
Ahhh, agora você se preocupa, né? Muito bem. Sinal que não tá pirada de vez
ainda. Se eu fosse você fingia, é a única coisa que te resta. Fingia que nada
havia acontecido, ficava na minha e quando ele viesse me procurar em agia como
se nada tivesse acontecido. E realmente não aconteceu, né?
―
Dou completa razão a Lê. Já fez a merda, agora finge e conserta.
Finalmente
chegaram. No portão da casa estava Marta, que fora pra lá de manhã com o objetivo
de deixar tudo em ordem; Assis, o caseiro e Olívia, sua esposa.
―Sejam
todos bem vindos! ― disse Marta sorrindo a cada um dos meninos que descia da
van.
A
casa era espetacular. De frente via-se uma grama muito bem cuidada com algumas
plantas ornamentais e pequenas palmeiras que davam em um alpendre enorme que
rodeava a casa toda. Uma porta de vidro com contornos de madeira dava o ar
rústico ao local. Na parte cima cada quarto tinha janelas de vidro que
combinavam com a porta frontal e uma varanda lateral que dava uma visão
deslumbrante das águas cristalinas do mar com ondas que iam e vinham numa
harmonia celestial. Pelo outro lado tinha uma passarela larga de madeira envernizada com sombras de coqueiros, algumas
cadeiras de sol e uma espécie de sofá de vime com estofado branco, tudo
impecavelmente bem cuidado. A passarela terminava no mar, num ponto próprio
para banho, onde o balanço das ondas era quase imperceptível e formava-se uma
piscina natural. ainda havia quadra poliesportiva e um estacionamento que
caberia uns cinco carros.
Entraram
na casa e os quartos foram distribuídos. O andar de cima era formado só por
quartos e uma imensa varanda. Todos subiram guardaram suas coisas, alguns
trocaram de roupa e foram para os fundos da casa aproveitar aquele jardim
maravilhoso.
―
É melhor que nas fotos. Nosso fim de
semana será perfeito, amiga. ― disse Letícia muito animada.
O
quarto destinado a elas, ela lindo, parecia coisa de filme. Três camas muito
bem arrumada com edredons em rosa seco, um armário embutido que cabia as roupas
de todas elas e ainda sobrava espaço. Um abajur ao lado de cada cama e um
banhiero com chuveiro elétrico.
―
O quarto é tão lindo que dá até pra ficar só aqui e já ser um ótimo fim de
semana. ― comentou Mayra que estava realmente encantada com o quarto.
―
Ah não. Lindo mesmo são os gatinhos lá fora e eu não perderei por nada.
―
Só podia ser a Lê mesmo. ― confirmou Marianna. ― Eu tô muito animada. Não sei
nem que roupa vestir. Vocês ainda vão pro mar hoje?
―
Não sei. ― Mayra falou desanimada.
―
Eu quero, mas não vou ser a enxerida que aparece toda de biquíni em plena seis
da noite, né? melhor descermos e vermos se o clima está para banho ou para
conversa.
Os
outros não haviam se atrasado observando nada já estavam todos lá embaixo
espalhados pela imensa casa. Dário e Tifany estavam à beira de uma pequena
piscina que no espaço ao lado da
passarela, Arthur e Bruna estavam contemplando as estrelas nas cadeiras de sol
que estavam mais próximas do fim da passarela. Letícia voltou da varanda.
―
Gente, dá pra fazer o que quiser, nós estamos é perdendo tempo. Simbora galera!
Desceram
as escadas animadíssimas: Mayra menos animada, mas já recuperada do que tinha
visto e preparada para ignorar; Marianna de shortinho e biquíni planejava
aproveitar cada instante e Letícia, espevitada como era já estava com altos
planos para não perder nem um momento.
Assim
que Mayra abriu a pesada porta de vidro e olhou para o lado viu Túlio
conversando com Grabriela, uma menina ruiva, magrinha de pele clara, cabelos
lisos e alourados que desciam até a marca do biquíni, ela não a conhecia, sabia
que era uma amiga de Tifany, mas nunca a tinha visto antes. A conversa entre os
dois parecia mais que uma simples conversa. Eles estavam bem próximos e Túlio
era todo sorrisos para a garota que também se derretia para o deus da beleza.
Ai é assim?! ― pensou. Ok então.
―
E aí tá gostando da cena? Quem quer dois ou perde um ou todos dois, queridinha.
No seu caso parece que perdeu os dois, né? ― Bruna zombou de Mayra.
Como
aquela menina viera parar ali, não se sabe, mas assim que viu a oportunidade
não perdeu um segundo e plantou no coração de Mayra a sementinha perversa da
humilhação. O resultado foi imediato. Mayra realmente sentiu-se humilhada,
preterida, pequena, um grãozinho de areia perdido naquela imensa praia e sentiu
ódio também, se pudesse teria esganado Bruna a sangue frio. Que garota
petulante! Mas ela estava infernalmente certa. Ela havia brincado com Túlio e
pelo visto ele se cansara dela. O jeito era agir naturalmente e fingir que nada
ali lhe abalava. Juntou-se as meninas e tentou esquecer Túlio que sempre tinha
olhos e atenção só pra ela com Gabriela. Ainda que fosse outra que ela tivesse total domínio de quem
era, mas uma garota que ela nem sequer conhecia seria difícil saber o que
rolava.
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CASA DE PRAIA 1
Depois de uma semana conturbada de provas, de tardes
de angústia por medo de não conseguir bons resultados e muito, muito cansaço,
havia chegado o fim de semana e na casa de Mayra depois da semana de provas ela
podia tudo. Essa era a recompensa. Ela sempre se esforçava muito, (a) porque
era responsável com seus estudos e (b) porque recebia o benefício-prêmio de
poder marcar o que quisesse com os amigos. E Tifany estava organizando um fim
de semana em sua casa de praia em Flecheiras, uma praia que fica a 130 km de Fortaleza, o paraíso
de coqueirais, bons ventos e piscinas naturais, é bem rústico, porém é uma
praia pouco explorada em relação a outras praias do estado e que oferece
conforto por si só, imagine quando se trata de organizações Tifany.
A empolgação estava a mil. Uma casa linda, numa praia maravilhosa, um fim de semana inteiro, sem intervenção de quase nenhum adulto, digo quase porque havia na casa um caseiro e sua família e a mãe de Tifany havia mandado pra lá uma cozinheira e uma espécie de governanta que morava na casa deles há muito tempo. O ponto positivo disso tudo era que Marta, a govenanta, fazia simplesmente tudo que Tifany queria, amava a menina que vira nascer e nunca lhe negava nem um favor. Era ou não era um sonho?
Uma van para 16 pessoas sairia da casa de Tifany na sexta-feira às 17:30hs com destino a Flecheiras. Era a van da família. Tifany era filha única e a mãe acabava planejando sua vida para agradar a filha. A van foi uma aquisição que fizeram a pedido da filha, exatamente para esses momentos e os pais da garota não pouparam esforços nem dinheiro. Era uma van preta completa, com bancos de couro e dvd em cada banco e para dirigi-la, o motorista da família estava sempre a disposição. Ele levaria a garotada e no domingo à tarde no mesmo horário da saída iria buscá-los.
Às 16:00hs começaram a chegar e amontoar as mochilas na pequena escadaria de quatro degraus da entrada da casa de Tifany. Logo formou-se uma algazarra, comentários e impressões de como era a casa. nunca tinham ido lá, só viram por fotos. Mayra, Letícia e Marianna chegaram juntas, o pai de Mayra foi deixá-las. Quando chegaram já estavam lá alguns dos meninos incluindo Arthur.
Um arrepio desceu do esôfago ao estômago de Mayra ao vê-lo. Era incontrolável. Bastava vê-lo pra ficar daquele jeito. Tentava disfarçar e, para quem não a conhecia, até conseguia, mas as amigas perceberam logo como ela se sentia. Diziam que ela arregalava um pouco aqueles pequenos olhos e sua feição mudava ligeiramente.
― Segura sua onda. ― Tá dando bandeira. ― avisou Marianna.
― Gente, para! Assim eu fico mais nervosa e é pior. Eu nem tou dando bandeira nem nada, é impressão de vocês. ― retrucou.
― Impressão, sei...
Logo após as meninas, chegaram Túlio e Dário. Túlio tinha passado na casa do amigo para buscá-lo. O Honda preto parou em frente a casa onde estava as meninas arrancando suspiros, Dário desceu e tirou as malas e Túlio passou para guardar o carro. tempo suficiente para as meninas comentarem pela milésima vez como ele era gato e perfeito. Só Mayra não suspirava. Até sentiu uma certa emoção, pois sabia que teria que fazer algo. E se ele chegasse beijando-a? Achou melhor se esconder um pouco até que ele chegasse e ela visse como a coisa toda iria proceder.
O destino deu uma mãozinha a Mayra, pois no exato momento que ela ouviu Túlio dar boa noite e ser correspondido por suspiros e vozes derretidas, Tifany apareceu dizendo que já estava tudo pronto para a saída, assim Túlio nem teve chance de se aproximar de Mayra. A garota deu olha rápida olhada em todos que estavam ali e viu que Bruna não havia chegado. Será que ela não vai? seria perfeito.
― Olha gente, pelo amor de Deus, vocês vão sentar cada uma ao meu lado. Nada de deixar espaço para o Túlio. Eu não estou preparada para falar com ele agora. ― implorou Mayra.
― Ah, meu Deus, Mayra. Que bobagem! Você está é perdendo tempo, amiga. Acorda. ― Letícia que suspirava pelo Túlio alertou. ― Ai como eu queria que fosse comigo, já estava era toda linda ao lado dele.
― Eu já conversei com ela sobre isso, Lê, mas daí a ela tomar uma atitude é outra conversa. ― Mariana lançou um olhar para Mayra com o canto da boca em declínio.
Na verdade Mayra estava pouco se lixando para Túlio, até tinha gostado do passeio, achava ele realmente lindo e seu beijo era simplesmente envolvente demais da conta, porém ela estava de longe acompanhando tudo que Arthur fazia e foi por causa disso que ela viu a chegada de Bruna. A garota desceu do carro do pai, já atrasada, mas estava ali para o ódio de Mayra.
Bruna abriu a porta do carro e instantaneamente, como se tivesse se materializado ali, estava Arthur pegando na mão dela para ajudá-la a descer. A esse fato sucedeu um beijo apaixonado, daqueles calmos que parece natural e passa a ideia de maior veracidade do amor. Arthur pegou as bolsas de Bruna e a guiou para perto dos amigos em comum.
Uma faca trespassou o coração de Mayra. Imediatamente seu rosto ganhou feições de uma dor muito grande e lá estava aquela teimosa lágrima rolando em sua face. O pior de tudo era que ela não conseguia virar o rosto, parece que estava petrificada, até que foi puxada por Mariana e Letícia que também assistiram a cena de amor de Arthur e Bruna.
― Eu te avisei, amiga. Agora vê se não dá bandeira, né? Não é porque você está sofrendo que todos têm que saber. ― falou Marianna numa voz complacente.
― Poxa, amiga, como eu vou ficar um fim de semana inteiro vendo isso? Eu não vou mais. ― disse virando-se pra ir embora.
― Claro que vai. E vai se divertir, vai beijar na boca, vai ser feliz com quem te quer. Mayra, por favor... eu já estou cansada dessa sua burrice, amiga. Como é que você tem o Túlio e fica morrendo por causa de Arthur. Tenha santa paciência! ― Letícia foi mais direta que Marianna em suas colocações. ― Você não disse que tinha gostado da saída com o Túlio?
― Gostei, gostei muito. ― disse quase sem ser ouvida ainda de cabeça baixa.
― Então, amiga...
― Levanta essa cabeça, respira fundo e bola pra frente. Por favor...
Mayra fez exatamente o que a amiga havia dito. Levantou a cabeça, desviou o olhar e naquele momento foi tomada por uma raiva tão grande que ela não sabia se era raiva dela mesma ou do Arthur e resolveu tomar como conselho um antigo texto dos sermões de Pe. Antônio Vieira. A professora de Literatura, a mesma que fizera brincadeiras com ela e Arthur no ano passado, havia lido uma parte do Sermão do Mandato que dava os remédios para o amor sem remédio: 1. o tempo; 2. a distância; 3. a ingratidão e o 4 e mais perfeitos de todos: a mudança de objeto. Era isso que ela ia fazer. E no caso começaria pelo quarto conselho já que o primeiro e o segundo demorariam muito e o terceiro acabara de ocorrer.
Tifany chamou a todos para embarcarem na van e Mayra quis ser a primeira para sentar no último banco e assim não deixar que ninguém atrás dela a observasse. Seria ela a observar a todos. Letícia entrou primeiro seguida por Mayra e Marianna. Sentaram no fundo da confortável van, pegaram os fones de ouvido e escolheram um dos filmes pre-programados no dvd. A viagem não era muito longa, mas até lá ela, Mayra, já teria conseguido bolar um plano de como fazer para superar aquela raiva e dor misturadas e ao mesmo não ser mal caráter com Túlio.
Todos entraram um a um. Túlio sentara-se dois bancos a frente de Mayra e não tinha feito a menor força para falar com ela, motivo que chamara a atenção da garota. Ela esperava que ele tivesse ido procurá-la. Será que ele viu ela chorando por Arthur? Bem, o que já passou não volta. E Arthur e Bruna sentaram a frente de Túlio.
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segunda-feira, 23 de junho de 2014
Diário de Mayra
Querido Diário,
Como me sinto perdida
agora. Essa ansiedade que toma conta de mim definitivamente não vem de Deus. Eu queria, juro que queria sumir e
não aparecer mais, ou, quem sabe, me transformar em uma nova pessoa, esquecer
essa bobagem de Arthur e Túlio. Desistir dos dois. Queria mesmo passar um dia
sem pensar nisso. Mas isso é tão importante pra mim.
Minha cabeça dá mil
voltas e depois do que a Mari me disse eu tenho de pensar, e pensar, e pensar... Nossa que confusão! Será que é realmente simples como ela disse? Não quero usar
o Túlio, mas também não quero perdê-lo. Ele é o que tenho e perder o que tenho
significa perder tudo. Será que eu me apaixonaria por ele? Bem, pra isso eu
precisaria deixar de ver o Arthur.
Ai Arthur... Já estou
falando em Arthur de novo. Eu prometi a mim mesma que não ia mais pensar nele,
mas eu esqueço disso e quando vejo tô lembrando de um dia na escola, de quando
ficamos próximos, de como me apaixonei por ele... parece até que tudo me lembrar Arthur. Que praga!
Lembrei agora de um dia
que estava havendo prova bimestral e sempre ficávamos por último, nesse dia não
foi diferente. todos já haviam ido embora e nós lá lutando louca e bravamente
com aquela prova de Química. Quando percebi estávamos só eu e ele. Quando o
professor foi embora, depois de entregarmos as prova, claro, ficamos comentando
as questões e teve um momento lá que minha prova caiu e nos baixamos
sincronicamente para pegá-la e rolou aquela cena de novela onde os dois se
baixam no mesmo instante e pegam o papel um com a mão sobre a mãe do outro e os
olhos se encontram e você suspira, pois foi bem assim que tudo ocorreu. Eu,
pelo menos, suspirei. Teve um lance ali, eu sei. Eu senti. Nisso não tô louca.
Arthur era sempre tão
misterioso que ficava difícil saber como as coisas se processavam. Eu o
observava, mas nada conseguia descobrir, exatamente como agora. Eu penso nas
coisas que ele faz: no tapa na cara do Túlio por ciúmes, sim porque aquilo fora
ciúmes dos mais puros que já vi na vida; no telefonema me chamando para ir à
praia... ficou tão claro pra mim que ele queria que eu fosse, eu não posso e
nem quero ter me enganado nessa parte. Por que uma outra pessoa não ligou? Se
era um convite sem precedentes, era ter mandado uma outra pessoa ligar. Por que
ele havia de ligar justamente depois de uma noite tão agradável com o Túlio?
Eu sei, diário, tõ
perdendo meu tempo e meu juízo com tantas perguntas. Sei que elas não me
levarão a lugar algum, mas eu queria encontrar as respostas para elas, como eu
queria... Às vezes tenho vontade de encostar o Arthur na parede e dizer "
E aí cara, qual é a sua? Você me quer ou não me quer? Porque cansei disso tudo.
Cansei de não saber se você gosta de mim ou se eu sou uma espécie de criatura
com visão cósmica que imagina e vê coisas." Mas quem disse que tenho essa
coragem toda.
Conversei com minha mãe
sobre isso, quer dizer, sobre o fato de gostar do Arthur e não saber examente o
que ele quer, mas ela só me disse que eu era jovem demais para estar preocupada
com essas coisas, que tudo isso não terá a menos importância daqui a 5 anos. Cinco
anos? Poxa, cinco anos é muito tempo e pode até ser que não tenha importância,
mas eu não estou no futuro e agora isso tem toda a importância do mundo.
O Túlio, pra piorar a
situação ainda me liga. E por mais que eu ame o Arthur e não tenha dúvida disso,
a nossa noite na Beira Mar foi tão legal, divertida, carinhosa e ainda teve
aquele beijo que aconteceu de uma forma tão natural. Ele beija muito bem, viu?
Vou te contar... Se eu não tivesse provado daquele beijo, estaria só achando
que eu estava perdendo apenas um garoto cobiçado, no entanto não posso negar
que tudo aquilo mexeu comigo, que tive vontade de ficar com ele.
O beijo foi assim de
uma emoção ímpar. Isso porque foi de repente, porque foi natural. Quando se planeja
muito uma coisa, nada sai certo, acho que porque a gente cria expectativa. Mas
também teve um agravante positivo para eu ter gostado daquele beijo. Eu estava
livre, complemente livre. Com raiva do que tinha acontecido. Disposta a viver.
Preciso me dispor a
viver agora e ter coragem de ligar para o Túlio e marcar um encontro, e
deixar-me beijar novamente, e libertar minha mente, que para mim é bastante
perigosa... Ai, meu Deus... quanta coisa! Tem muito "e" nessa
história. Mas me diga sinceramente, tem sentido eu ficar sofrendo e sonhando
com a vinda do Arthur a minha casa para que me diga "Mayra eu gosto de
você, eu quero ficar com você" se ele tá lá com a Dente de Cavalo? Claro
que não.
Ai diarinho do meu
coração, me ajuda a me entender! Me ajuda a saber oq eu devo fazer ao certo, me
ajuda a decidir a minha vida.
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sábado, 21 de junho de 2014
Futuro
Existem aqueles momentos que vemos coisas que não existem. Nossa cabeça começa a pensar, pensar e vai criando coisas tão reais que somos capazes de jurar que são verdadeiras. Mas não. Muitas coisas acontecem e nesses acontecimentos nossos desejos, nossas ilusões influenciam e turvam nossas vistas.
Sabemos a verdade e ao simples piscar de olhos os cenários mudam e piscamos mais e eles continuam reversando entre o sim e o não. Nossas mentes dizem uma coisa, mas nossos corações veem outra e começamos a ouvir as vozes do passado, buscamos experiências para saber que caminho tomar, mas nada, nada do que aconteceu te dá a certeza do que pode acontecer. O futuro a Deus pertence. Nessa de queremos ter certezas e de nos limitarmos pelos nossos medos, caminhamos em corda bamba que nos leva pra lá e pra cá numa eterna incerteza do que virá.
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Aproveitar as Oportunidades
Túlio estava indeciso do que fazer, dias haviam se passado e Mayra não havia dado sinal de vida. Será que era ele que tinha que ligar? Poxa, mas ela já sabia das intenções dele, fora ela quem não permitiu que conversassem para saber o que aquele beijo e aquela noite tão agradável iriam gerar, então ele esperou que ela ligasse, desse sinal de vida. Quando perguntava por Mayra à prima, ela sempre dizia "Está bem." Isso era vazio demais. Pensou em escrever um e-mail, era mais distante e se ele levasse mais um fora seria menos doloroso, além do mais ele poderia ficar relendo o fora até acreditar que não tinha chances e desistir de vez dessa obsessão. Porque aquilo já estava virando obsessão. Ele não pensava em outra coisa. Na verdade estava ficando ridículo e Túlio estava disposto a dar a última cartada, se não desse em nada esqueceria Mayra. Havia outra garotas que se interessavam por ele. A própria Letícia já tinha dado umas olhadas intencionais pra ele, de repente até daria certo. Ela era muito bonita também. Tinha um corpo e tanto e ele perdendo tempo com aquele amor sem jeito. Estava decidido, daria a última cartada nesse jogo longo e ― até agora ― sem futuro nenhum.
Oi meu amor, você sumiu de novo. Será que esqueceu de mim? Queria muito conversar com você sobre aquele maravilhoso beijo que me faz sonhar até agora. A gente pode se ver?
Não, está muito forçado! Não era assim que ele queria que ela visse. Parecia até que ele estava cobrando uma satisfação. Teria ele virado mulherzinha nos assuntos amorosos? Escreveu outro.
Oi Mayra, tudo bem? A gente não se falou mais. Preciso conversar com você sobre nós. Me liga!
Leu e releu os e-maisl várias vezes, tentou rescrevê-los, mas ficava sempre exagerado para um dos lados: ou ficava piegas demais como o primeiro, ou informal demais como o segundo. Decidiu não mandar nenhum. Tinha de ser mais corajoso, afinal ele era um homem ou um rato? Resolveu ligar. Assim não dava para planejar e desse no desse não tinha nada gravado. As palavras ditas marcam só a quem ouvem, mas as escritas marcam a todos que leem. Era melhor ele se arriscar a levar um fora sozinho que ter em sua caixa de e-mail um fora formalizado.
TÚLIO: Alô, Mayra?
MAYRA: Oi... Túlio.
Túlio sentiu uma certa decepção na voz de Mayra. Ela sempre fazia aquilo e ele se sentia meio desprezado. O que sentia por ela era verdadeiro e ela não era capaz de ver que ele era bem melhor pra ela que Arthur, que tinha namorada. Às vezes, aquilo o irritava.
TÚLIO: Oi minha gatinha, como você está? Estou com saudade, queria te ver.
Mayra do outro lado da linha não tinha certeza se queria ver Túlio. O beijo tinha sido sensacional, mas ela não sabia ainda se queria namorá-lo e claro que depois de um beijo o certo é que ele pergunte novamente se ela vai aceitá-lo. Ela não tinha resposta e resolveu adiar isso.
MAYRA: Rsrs... também quero ver você. Mas agora as provas estão para começar e não vou poder me distrair com nada. Assim que elas passarem eu te ligo e a gente marca alguma coisa, tá?
TÚLIO: Ah, tá certo. Tudo bem. Mas me liga mesmo, viu. Não foge de mim.
MAYRA: Pode deixar que ligo sim. Beijos.
Túlio teve vontade de dizer "Beijos, meu amor. Eu tô morrendo de saudade de você. Não paro de pensar em nós. Será que tenho uma chance agora?" Porém mais uma vez achou que estava agindo como mulherzinha e disse apenas:
TÚLIO: Ok. Vou esperar. Beijos. Pensa em mim entre o intervalo de um estudo para outro.
***
Mayra ficou pensando em tudo que estava acontecendo, se odiou por alguns instantes. Por que não posso amar o Túlio? Seria tudo tão mais fácil. Ela realmente não sabia o que fazer naquela situação. Sua cabeça dizia: Namore o Túlio, com o tempo, com certeza, você gostará dele. Quem não gosta de ser bem tratada e desfilar com um gato de matar de inveja qualquer outra menina? E seu coração dizia: Você ama o Arthur, precisa esperar por ele. Se namorar com o Túlio e ele souber, aí sim é que ele não vai querer saber de você nunca mais. Era um impasse tudo aquilo, mas o destino mandou uma resposta rapidinho.
Naquele instante mesmo, a campainha de sua casa tocou e Marianna, uma garota da escola que estuda com Mayra e que nos últimos tempos estava se aproximando mais dela, chegou trazendo notícias não muito agradáveis. Estavam se tornando amigas. Letícia andava até enciumada, porque naquele momento mais do nunca precisava da amizade de Mayra. Esquecia que amizade quanto mais melhor e que Marianna estava entrando para o ciclo de amigos para ser mais um apoio, mais uma pessoa legal e extrovertida.
―Oi, amiga. E aí as novas?
― Ainda bem que você chegou. É uma ótima hora. Túlio me ligou.
― Ai amiga, aquele gato... eu morreria só em saber que ele me queria, imagine ele correndo atrás de mim. Ai...ai...
― Calma aí que você sabe muito bem que não é assim que as coisas funcionam né? Enfim... ele ligou, queria me ver, mas eu fugi.
― Por que você faz isso com você? Não entendo. Juro que não entendo.
― Não entende? Como não entende? Tem o Arthur...
― Para tudo. É essa a notícia ruim que tenho pra te dar. Na verdade não tem Arthur. Ele está muito bem com a tal Bruna. Ela desculpou o lance da tapa na cara do Túlio. Só Deus sabe o que ele disse, mas ela resolveu aceitar...
― Mas amiga ele me ligou pra ir à praia.
― Com você ou com a galera?
― Com a ga le ra. ― disse já entendendo onde a amiga queria chegar com aquela colocação.
Não era novidade nenhuma ele ligar para sair com a galera. Não seria um encontro e agora Mayra até agradecia por não ter ido, afinal, ver Arthur e Bruna era a última coisa que ela queria.
― Então, amiga. ― disse segurando as duas mãos de Mayra. ― Para com isso, você tem a oportunidade de ser feliz, tem o cara mais gato e desejado por todas e tá aí morrendo pelo Arthur que tem namorada e sinceramente, se ele quisesse mesmo alguma coisa com você, teria aproveitado o lance do aniversário para terminar tudo com Bruna. Mas não. O que ele fez foi inventar uma desculpa qualquer e tentar ficar bem com ela. Abre o olho. Uma oportunidade perdida, estará perdida para sempre. Ouvi essa frase no filme O Clube do Imperador e ela se encaixa perfeitamente no caso.
Mayra caiu em si e uma lágrima teimosa caiu no canto de seu olho esquerdo.
― Não fica assim, Mayra. Eu quero te ajudar a sair dessa. Já faz tanto tempo. Mais de ano se passou. Eu sei que o Arthur é fofo, que ele é tem um jeito diferente dos outros garotos, eu sei de tudo isso, mas amiga, abre o olho. Você está perdendo seu tempo, deixando passar emoções que você poderia viver. Se um dia for para você e o Arthur ficarem juntos, vai acontecer. Só estou te pedindo para não deixar a vida passar, esperando por um alguém que está vivendo, que está namorando.
― Eu sei Mari, mas é tão difícil. Nem eu entendo direito isso que sinto. Deve ser uma doença, sei lá... uma coisa que não passa e quando eu vejo eu tenho me iludido com o sorriso dele, com um recado, com uma ligação chamando para sair com a galera. Pra falar a verdade só agora me dei conta que ele me chamou pra sair com a galera. Sei lá... na minha cabeça ainda estava que ele havia convidado a mim, entende? Parece que eu minto pra mim mesma.
Marianna abraçou a amiga.
― Tenha calma, não fique assim. Tudo isso vai passar. Mas você precisa se abrir a novas coisas. Já ouviu a frase que diz que só se esquece um amor com outro.
Mayra balançou a cabeça afirmativamente.
― Então... aceita o Túlio. Fica com ele e ver no dar. Você não está aceitando um pedido de casamento, é um namoro e ele sabe que você gosta do Arthur, ele terá paciência em esperar seu tempo, amiga. Ele tem provado isso. Quero muito que você não sofra desse jeito, porque não há sentido algum nisso tudo, entende?
― Entendo sim. ― Mayra falava entre lágrimas e enxugava as mãos com as costas da mão. ― Vou dar um basta nisso. ― levantou a cabeça, respirou fundo. ― Realmente já deu o que tinha de dar. Chega!
― É isso aí, amiga. Assim é que se fala. Mas me conta do Túlio. vamos falar do que realmente vale a pena.
Mayra começou a conta da saída com Túlio e todo o resto. No início meio desanimada, ainda pensando no que acabaram de conversar, mas logo foi se empolgando e lembrando dos detalhes daquela noite agradabilíssima com Túlio e do passeio de carro e das brincadeiras e risos e quando percebeu já estava empolgada e sorrindo.
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