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- Uma menina-mulher sonharadora convicta, pore´m de uma racionalidade necessária.
.

quarta-feira, 25 de junho de 2014
CASA DE PRAIA 2
O
motorista deu partida. Vozes se misturaram e não se sabia ao certo quem estava
falando com quem. Túlio encostado a janela da van pensava em tudo que tinha
visto. Sentia-se um perfeito idiota. Ele a tratara tão bem, valorizara tudo
nela. Fez tudo que ela quis sem sequer dar um ideia que fosse dele. E tudo isso
pra quê? Para vê-la chorar por causa do babaca do Arthur que estava com a
namoradinha perfeita.
Quanta
raiva Túlio sentia de si mesmo agora. Era um panaca mesmo, se iludindo com uma
menina que nunca quis saber dele. Precisava mesmo era dar um basta naquilo
tudo. Nunca tinha sido daquele jeito. nunca ficou à mercê de menina nenhuma,
sempre fora ele quem mandara nas relações e agora tava ali mogoado. Ai, dá
licença, né?
Estava
também com raiva de Mayra, sabia que ela não tinha culpa, mas a raiva era
incontrolável. Se ela está pensando que vai me fazer do bobo, ficar comigo e
chorar pelo tal Arthur, está muito enganada. Muito mesmo. Túlio estava com o
orgulho ferido. Ele gostava de verdade de Mayra, admirava tudo nela: o jeito, o
olhar, a boca, o beijo... aquele beijo só serviu para piorar as coisas, porque
antes era apenas uma imaginação, um desejo e agora era real, ele sabia
exatamente que gosto tinha beijá-la, sabia qual seu cheiro e todas aquelas
lembranças pioravam e muito a situação. Mas a van estava cheia de meninas tão
lindas quanto Mayra, não existia só ela no mundo.
Ajeitou
a cabeça no vidro e se concentrou na estrada que corria do lado de fora. As
luzes passavam rapidamente deviam estar a uns 100km/h. O sol estava quase se
pondo e eles haviam planejado chegar lá no por do sol. Não daria para
aproveitar, mas queriam chegar cedo, separar quartos e começar a farrinha com
os amigos.
Mayra
observava Túlio. Ele parecia ignorar a presença dela. E de fato estava se
esforçando para isso. Será que ele é um perfeito idiota ou que ele viu alguma
coisa?
―
Acho que ele pode ter visto sim, porque quando ele chegou, lembra que ele te
deu aquela olhada? Ou então ele está chateado porque você se escondeu e isso
ficou muito na cara né, amiga?
―
Ô gente, vocês só me culpam o tempo todo. Até agora não sei o que vou dizer ou
fazer em relação a ele...
―
Não sabe?! ― Letícia gritou.
―
Fala baixo!, Tá doida?
―
Como assim não sabe o que fazer? Pois eu sei muito bem o que fazer com ele.
Ai...ai... Deus realmente não dá assas a cobra, porque se desse...
―
Letícia você é louca mesmo. ― brincou Marianna que concordava absolutamente com
Letícia.
―
Gente, foco! Vocês acham que ele viu? E se ele tiver visto, como vou me
defender?
―
Ahhh, agora você se preocupa, né? Muito bem. Sinal que não tá pirada de vez
ainda. Se eu fosse você fingia, é a única coisa que te resta. Fingia que nada
havia acontecido, ficava na minha e quando ele viesse me procurar em agia como
se nada tivesse acontecido. E realmente não aconteceu, né?
―
Dou completa razão a Lê. Já fez a merda, agora finge e conserta.
Finalmente
chegaram. No portão da casa estava Marta, que fora pra lá de manhã com o objetivo
de deixar tudo em ordem; Assis, o caseiro e Olívia, sua esposa.
―Sejam
todos bem vindos! ― disse Marta sorrindo a cada um dos meninos que descia da
van.
A
casa era espetacular. De frente via-se uma grama muito bem cuidada com algumas
plantas ornamentais e pequenas palmeiras que davam em um alpendre enorme que
rodeava a casa toda. Uma porta de vidro com contornos de madeira dava o ar
rústico ao local. Na parte cima cada quarto tinha janelas de vidro que
combinavam com a porta frontal e uma varanda lateral que dava uma visão
deslumbrante das águas cristalinas do mar com ondas que iam e vinham numa
harmonia celestial. Pelo outro lado tinha uma passarela larga de madeira envernizada com sombras de coqueiros, algumas
cadeiras de sol e uma espécie de sofá de vime com estofado branco, tudo
impecavelmente bem cuidado. A passarela terminava no mar, num ponto próprio
para banho, onde o balanço das ondas era quase imperceptível e formava-se uma
piscina natural. ainda havia quadra poliesportiva e um estacionamento que
caberia uns cinco carros.
Entraram
na casa e os quartos foram distribuídos. O andar de cima era formado só por
quartos e uma imensa varanda. Todos subiram guardaram suas coisas, alguns
trocaram de roupa e foram para os fundos da casa aproveitar aquele jardim
maravilhoso.
―
É melhor que nas fotos. Nosso fim de
semana será perfeito, amiga. ― disse Letícia muito animada.
O
quarto destinado a elas, ela lindo, parecia coisa de filme. Três camas muito
bem arrumada com edredons em rosa seco, um armário embutido que cabia as roupas
de todas elas e ainda sobrava espaço. Um abajur ao lado de cada cama e um
banhiero com chuveiro elétrico.
―
O quarto é tão lindo que dá até pra ficar só aqui e já ser um ótimo fim de
semana. ― comentou Mayra que estava realmente encantada com o quarto.
―
Ah não. Lindo mesmo são os gatinhos lá fora e eu não perderei por nada.
―
Só podia ser a Lê mesmo. ― confirmou Marianna. ― Eu tô muito animada. Não sei
nem que roupa vestir. Vocês ainda vão pro mar hoje?
―
Não sei. ― Mayra falou desanimada.
―
Eu quero, mas não vou ser a enxerida que aparece toda de biquíni em plena seis
da noite, né? melhor descermos e vermos se o clima está para banho ou para
conversa.
Os
outros não haviam se atrasado observando nada já estavam todos lá embaixo
espalhados pela imensa casa. Dário e Tifany estavam à beira de uma pequena
piscina que no espaço ao lado da
passarela, Arthur e Bruna estavam contemplando as estrelas nas cadeiras de sol
que estavam mais próximas do fim da passarela. Letícia voltou da varanda.
―
Gente, dá pra fazer o que quiser, nós estamos é perdendo tempo. Simbora galera!
Desceram
as escadas animadíssimas: Mayra menos animada, mas já recuperada do que tinha
visto e preparada para ignorar; Marianna de shortinho e biquíni planejava
aproveitar cada instante e Letícia, espevitada como era já estava com altos
planos para não perder nem um momento.
Assim
que Mayra abriu a pesada porta de vidro e olhou para o lado viu Túlio
conversando com Grabriela, uma menina ruiva, magrinha de pele clara, cabelos
lisos e alourados que desciam até a marca do biquíni, ela não a conhecia, sabia
que era uma amiga de Tifany, mas nunca a tinha visto antes. A conversa entre os
dois parecia mais que uma simples conversa. Eles estavam bem próximos e Túlio
era todo sorrisos para a garota que também se derretia para o deus da beleza.
Ai é assim?! ― pensou. Ok então.
―
E aí tá gostando da cena? Quem quer dois ou perde um ou todos dois, queridinha.
No seu caso parece que perdeu os dois, né? ― Bruna zombou de Mayra.
Como
aquela menina viera parar ali, não se sabe, mas assim que viu a oportunidade
não perdeu um segundo e plantou no coração de Mayra a sementinha perversa da
humilhação. O resultado foi imediato. Mayra realmente sentiu-se humilhada,
preterida, pequena, um grãozinho de areia perdido naquela imensa praia e sentiu
ódio também, se pudesse teria esganado Bruna a sangue frio. Que garota
petulante! Mas ela estava infernalmente certa. Ela havia brincado com Túlio e
pelo visto ele se cansara dela. O jeito era agir naturalmente e fingir que nada
ali lhe abalava. Juntou-se as meninas e tentou esquecer Túlio que sempre tinha
olhos e atenção só pra ela com Gabriela. Ainda que fosse outra que ela tivesse total domínio de quem
era, mas uma garota que ela nem sequer conhecia seria difícil saber o que
rolava.
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CASA DE PRAIA 1
Depois de uma semana conturbada de provas, de tardes
de angústia por medo de não conseguir bons resultados e muito, muito cansaço,
havia chegado o fim de semana e na casa de Mayra depois da semana de provas ela
podia tudo. Essa era a recompensa. Ela sempre se esforçava muito, (a) porque
era responsável com seus estudos e (b) porque recebia o benefício-prêmio de
poder marcar o que quisesse com os amigos. E Tifany estava organizando um fim
de semana em sua casa de praia em Flecheiras, uma praia que fica a 130 km de Fortaleza, o paraíso
de coqueirais, bons ventos e piscinas naturais, é bem rústico, porém é uma
praia pouco explorada em relação a outras praias do estado e que oferece
conforto por si só, imagine quando se trata de organizações Tifany.
A empolgação estava a mil. Uma casa linda, numa praia maravilhosa, um fim de semana inteiro, sem intervenção de quase nenhum adulto, digo quase porque havia na casa um caseiro e sua família e a mãe de Tifany havia mandado pra lá uma cozinheira e uma espécie de governanta que morava na casa deles há muito tempo. O ponto positivo disso tudo era que Marta, a govenanta, fazia simplesmente tudo que Tifany queria, amava a menina que vira nascer e nunca lhe negava nem um favor. Era ou não era um sonho?
Uma van para 16 pessoas sairia da casa de Tifany na sexta-feira às 17:30hs com destino a Flecheiras. Era a van da família. Tifany era filha única e a mãe acabava planejando sua vida para agradar a filha. A van foi uma aquisição que fizeram a pedido da filha, exatamente para esses momentos e os pais da garota não pouparam esforços nem dinheiro. Era uma van preta completa, com bancos de couro e dvd em cada banco e para dirigi-la, o motorista da família estava sempre a disposição. Ele levaria a garotada e no domingo à tarde no mesmo horário da saída iria buscá-los.
Às 16:00hs começaram a chegar e amontoar as mochilas na pequena escadaria de quatro degraus da entrada da casa de Tifany. Logo formou-se uma algazarra, comentários e impressões de como era a casa. nunca tinham ido lá, só viram por fotos. Mayra, Letícia e Marianna chegaram juntas, o pai de Mayra foi deixá-las. Quando chegaram já estavam lá alguns dos meninos incluindo Arthur.
Um arrepio desceu do esôfago ao estômago de Mayra ao vê-lo. Era incontrolável. Bastava vê-lo pra ficar daquele jeito. Tentava disfarçar e, para quem não a conhecia, até conseguia, mas as amigas perceberam logo como ela se sentia. Diziam que ela arregalava um pouco aqueles pequenos olhos e sua feição mudava ligeiramente.
― Segura sua onda. ― Tá dando bandeira. ― avisou Marianna.
― Gente, para! Assim eu fico mais nervosa e é pior. Eu nem tou dando bandeira nem nada, é impressão de vocês. ― retrucou.
― Impressão, sei...
Logo após as meninas, chegaram Túlio e Dário. Túlio tinha passado na casa do amigo para buscá-lo. O Honda preto parou em frente a casa onde estava as meninas arrancando suspiros, Dário desceu e tirou as malas e Túlio passou para guardar o carro. tempo suficiente para as meninas comentarem pela milésima vez como ele era gato e perfeito. Só Mayra não suspirava. Até sentiu uma certa emoção, pois sabia que teria que fazer algo. E se ele chegasse beijando-a? Achou melhor se esconder um pouco até que ele chegasse e ela visse como a coisa toda iria proceder.
O destino deu uma mãozinha a Mayra, pois no exato momento que ela ouviu Túlio dar boa noite e ser correspondido por suspiros e vozes derretidas, Tifany apareceu dizendo que já estava tudo pronto para a saída, assim Túlio nem teve chance de se aproximar de Mayra. A garota deu olha rápida olhada em todos que estavam ali e viu que Bruna não havia chegado. Será que ela não vai? seria perfeito.
― Olha gente, pelo amor de Deus, vocês vão sentar cada uma ao meu lado. Nada de deixar espaço para o Túlio. Eu não estou preparada para falar com ele agora. ― implorou Mayra.
― Ah, meu Deus, Mayra. Que bobagem! Você está é perdendo tempo, amiga. Acorda. ― Letícia que suspirava pelo Túlio alertou. ― Ai como eu queria que fosse comigo, já estava era toda linda ao lado dele.
― Eu já conversei com ela sobre isso, Lê, mas daí a ela tomar uma atitude é outra conversa. ― Mariana lançou um olhar para Mayra com o canto da boca em declínio.
Na verdade Mayra estava pouco se lixando para Túlio, até tinha gostado do passeio, achava ele realmente lindo e seu beijo era simplesmente envolvente demais da conta, porém ela estava de longe acompanhando tudo que Arthur fazia e foi por causa disso que ela viu a chegada de Bruna. A garota desceu do carro do pai, já atrasada, mas estava ali para o ódio de Mayra.
Bruna abriu a porta do carro e instantaneamente, como se tivesse se materializado ali, estava Arthur pegando na mão dela para ajudá-la a descer. A esse fato sucedeu um beijo apaixonado, daqueles calmos que parece natural e passa a ideia de maior veracidade do amor. Arthur pegou as bolsas de Bruna e a guiou para perto dos amigos em comum.
Uma faca trespassou o coração de Mayra. Imediatamente seu rosto ganhou feições de uma dor muito grande e lá estava aquela teimosa lágrima rolando em sua face. O pior de tudo era que ela não conseguia virar o rosto, parece que estava petrificada, até que foi puxada por Mariana e Letícia que também assistiram a cena de amor de Arthur e Bruna.
― Eu te avisei, amiga. Agora vê se não dá bandeira, né? Não é porque você está sofrendo que todos têm que saber. ― falou Marianna numa voz complacente.
― Poxa, amiga, como eu vou ficar um fim de semana inteiro vendo isso? Eu não vou mais. ― disse virando-se pra ir embora.
― Claro que vai. E vai se divertir, vai beijar na boca, vai ser feliz com quem te quer. Mayra, por favor... eu já estou cansada dessa sua burrice, amiga. Como é que você tem o Túlio e fica morrendo por causa de Arthur. Tenha santa paciência! ― Letícia foi mais direta que Marianna em suas colocações. ― Você não disse que tinha gostado da saída com o Túlio?
― Gostei, gostei muito. ― disse quase sem ser ouvida ainda de cabeça baixa.
― Então, amiga...
― Levanta essa cabeça, respira fundo e bola pra frente. Por favor...
Mayra fez exatamente o que a amiga havia dito. Levantou a cabeça, desviou o olhar e naquele momento foi tomada por uma raiva tão grande que ela não sabia se era raiva dela mesma ou do Arthur e resolveu tomar como conselho um antigo texto dos sermões de Pe. Antônio Vieira. A professora de Literatura, a mesma que fizera brincadeiras com ela e Arthur no ano passado, havia lido uma parte do Sermão do Mandato que dava os remédios para o amor sem remédio: 1. o tempo; 2. a distância; 3. a ingratidão e o 4 e mais perfeitos de todos: a mudança de objeto. Era isso que ela ia fazer. E no caso começaria pelo quarto conselho já que o primeiro e o segundo demorariam muito e o terceiro acabara de ocorrer.
Tifany chamou a todos para embarcarem na van e Mayra quis ser a primeira para sentar no último banco e assim não deixar que ninguém atrás dela a observasse. Seria ela a observar a todos. Letícia entrou primeiro seguida por Mayra e Marianna. Sentaram no fundo da confortável van, pegaram os fones de ouvido e escolheram um dos filmes pre-programados no dvd. A viagem não era muito longa, mas até lá ela, Mayra, já teria conseguido bolar um plano de como fazer para superar aquela raiva e dor misturadas e ao mesmo não ser mal caráter com Túlio.
Todos entraram um a um. Túlio sentara-se dois bancos a frente de Mayra e não tinha feito a menor força para falar com ela, motivo que chamara a atenção da garota. Ela esperava que ele tivesse ido procurá-la. Será que ele viu ela chorando por Arthur? Bem, o que já passou não volta. E Arthur e Bruna sentaram a frente de Túlio.
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segunda-feira, 23 de junho de 2014
Diário de Mayra
Querido Diário,
Como me sinto perdida
agora. Essa ansiedade que toma conta de mim definitivamente não vem de Deus. Eu queria, juro que queria sumir e
não aparecer mais, ou, quem sabe, me transformar em uma nova pessoa, esquecer
essa bobagem de Arthur e Túlio. Desistir dos dois. Queria mesmo passar um dia
sem pensar nisso. Mas isso é tão importante pra mim.
Minha cabeça dá mil
voltas e depois do que a Mari me disse eu tenho de pensar, e pensar, e pensar... Nossa que confusão! Será que é realmente simples como ela disse? Não quero usar
o Túlio, mas também não quero perdê-lo. Ele é o que tenho e perder o que tenho
significa perder tudo. Será que eu me apaixonaria por ele? Bem, pra isso eu
precisaria deixar de ver o Arthur.
Ai Arthur... Já estou
falando em Arthur de novo. Eu prometi a mim mesma que não ia mais pensar nele,
mas eu esqueço disso e quando vejo tô lembrando de um dia na escola, de quando
ficamos próximos, de como me apaixonei por ele... parece até que tudo me lembrar Arthur. Que praga!
Lembrei agora de um dia
que estava havendo prova bimestral e sempre ficávamos por último, nesse dia não
foi diferente. todos já haviam ido embora e nós lá lutando louca e bravamente
com aquela prova de Química. Quando percebi estávamos só eu e ele. Quando o
professor foi embora, depois de entregarmos as prova, claro, ficamos comentando
as questões e teve um momento lá que minha prova caiu e nos baixamos
sincronicamente para pegá-la e rolou aquela cena de novela onde os dois se
baixam no mesmo instante e pegam o papel um com a mão sobre a mãe do outro e os
olhos se encontram e você suspira, pois foi bem assim que tudo ocorreu. Eu,
pelo menos, suspirei. Teve um lance ali, eu sei. Eu senti. Nisso não tô louca.
Arthur era sempre tão
misterioso que ficava difícil saber como as coisas se processavam. Eu o
observava, mas nada conseguia descobrir, exatamente como agora. Eu penso nas
coisas que ele faz: no tapa na cara do Túlio por ciúmes, sim porque aquilo fora
ciúmes dos mais puros que já vi na vida; no telefonema me chamando para ir à
praia... ficou tão claro pra mim que ele queria que eu fosse, eu não posso e
nem quero ter me enganado nessa parte. Por que uma outra pessoa não ligou? Se
era um convite sem precedentes, era ter mandado uma outra pessoa ligar. Por que
ele havia de ligar justamente depois de uma noite tão agradável com o Túlio?
Eu sei, diário, tõ
perdendo meu tempo e meu juízo com tantas perguntas. Sei que elas não me
levarão a lugar algum, mas eu queria encontrar as respostas para elas, como eu
queria... Às vezes tenho vontade de encostar o Arthur na parede e dizer "
E aí cara, qual é a sua? Você me quer ou não me quer? Porque cansei disso tudo.
Cansei de não saber se você gosta de mim ou se eu sou uma espécie de criatura
com visão cósmica que imagina e vê coisas." Mas quem disse que tenho essa
coragem toda.
Conversei com minha mãe
sobre isso, quer dizer, sobre o fato de gostar do Arthur e não saber examente o
que ele quer, mas ela só me disse que eu era jovem demais para estar preocupada
com essas coisas, que tudo isso não terá a menos importância daqui a 5 anos. Cinco
anos? Poxa, cinco anos é muito tempo e pode até ser que não tenha importância,
mas eu não estou no futuro e agora isso tem toda a importância do mundo.
O Túlio, pra piorar a
situação ainda me liga. E por mais que eu ame o Arthur e não tenha dúvida disso,
a nossa noite na Beira Mar foi tão legal, divertida, carinhosa e ainda teve
aquele beijo que aconteceu de uma forma tão natural. Ele beija muito bem, viu?
Vou te contar... Se eu não tivesse provado daquele beijo, estaria só achando
que eu estava perdendo apenas um garoto cobiçado, no entanto não posso negar
que tudo aquilo mexeu comigo, que tive vontade de ficar com ele.
O beijo foi assim de
uma emoção ímpar. Isso porque foi de repente, porque foi natural. Quando se planeja
muito uma coisa, nada sai certo, acho que porque a gente cria expectativa. Mas
também teve um agravante positivo para eu ter gostado daquele beijo. Eu estava
livre, complemente livre. Com raiva do que tinha acontecido. Disposta a viver.
Preciso me dispor a
viver agora e ter coragem de ligar para o Túlio e marcar um encontro, e
deixar-me beijar novamente, e libertar minha mente, que para mim é bastante
perigosa... Ai, meu Deus... quanta coisa! Tem muito "e" nessa
história. Mas me diga sinceramente, tem sentido eu ficar sofrendo e sonhando
com a vinda do Arthur a minha casa para que me diga "Mayra eu gosto de
você, eu quero ficar com você" se ele tá lá com a Dente de Cavalo? Claro
que não.
Ai diarinho do meu
coração, me ajuda a me entender! Me ajuda a saber oq eu devo fazer ao certo, me
ajuda a decidir a minha vida.
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sábado, 21 de junho de 2014
Futuro
Existem aqueles momentos que vemos coisas que não existem. Nossa cabeça começa a pensar, pensar e vai criando coisas tão reais que somos capazes de jurar que são verdadeiras. Mas não. Muitas coisas acontecem e nesses acontecimentos nossos desejos, nossas ilusões influenciam e turvam nossas vistas.
Sabemos a verdade e ao simples piscar de olhos os cenários mudam e piscamos mais e eles continuam reversando entre o sim e o não. Nossas mentes dizem uma coisa, mas nossos corações veem outra e começamos a ouvir as vozes do passado, buscamos experiências para saber que caminho tomar, mas nada, nada do que aconteceu te dá a certeza do que pode acontecer. O futuro a Deus pertence. Nessa de queremos ter certezas e de nos limitarmos pelos nossos medos, caminhamos em corda bamba que nos leva pra lá e pra cá numa eterna incerteza do que virá.
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Aproveitar as Oportunidades
Túlio estava indeciso do que fazer, dias haviam se passado e Mayra não havia dado sinal de vida. Será que era ele que tinha que ligar? Poxa, mas ela já sabia das intenções dele, fora ela quem não permitiu que conversassem para saber o que aquele beijo e aquela noite tão agradável iriam gerar, então ele esperou que ela ligasse, desse sinal de vida. Quando perguntava por Mayra à prima, ela sempre dizia "Está bem." Isso era vazio demais. Pensou em escrever um e-mail, era mais distante e se ele levasse mais um fora seria menos doloroso, além do mais ele poderia ficar relendo o fora até acreditar que não tinha chances e desistir de vez dessa obsessão. Porque aquilo já estava virando obsessão. Ele não pensava em outra coisa. Na verdade estava ficando ridículo e Túlio estava disposto a dar a última cartada, se não desse em nada esqueceria Mayra. Havia outra garotas que se interessavam por ele. A própria Letícia já tinha dado umas olhadas intencionais pra ele, de repente até daria certo. Ela era muito bonita também. Tinha um corpo e tanto e ele perdendo tempo com aquele amor sem jeito. Estava decidido, daria a última cartada nesse jogo longo e ― até agora ― sem futuro nenhum.
Oi meu amor, você sumiu de novo. Será que esqueceu de mim? Queria muito conversar com você sobre aquele maravilhoso beijo que me faz sonhar até agora. A gente pode se ver?
Não, está muito forçado! Não era assim que ele queria que ela visse. Parecia até que ele estava cobrando uma satisfação. Teria ele virado mulherzinha nos assuntos amorosos? Escreveu outro.
Oi Mayra, tudo bem? A gente não se falou mais. Preciso conversar com você sobre nós. Me liga!
Leu e releu os e-maisl várias vezes, tentou rescrevê-los, mas ficava sempre exagerado para um dos lados: ou ficava piegas demais como o primeiro, ou informal demais como o segundo. Decidiu não mandar nenhum. Tinha de ser mais corajoso, afinal ele era um homem ou um rato? Resolveu ligar. Assim não dava para planejar e desse no desse não tinha nada gravado. As palavras ditas marcam só a quem ouvem, mas as escritas marcam a todos que leem. Era melhor ele se arriscar a levar um fora sozinho que ter em sua caixa de e-mail um fora formalizado.
TÚLIO: Alô, Mayra?
MAYRA: Oi... Túlio.
Túlio sentiu uma certa decepção na voz de Mayra. Ela sempre fazia aquilo e ele se sentia meio desprezado. O que sentia por ela era verdadeiro e ela não era capaz de ver que ele era bem melhor pra ela que Arthur, que tinha namorada. Às vezes, aquilo o irritava.
TÚLIO: Oi minha gatinha, como você está? Estou com saudade, queria te ver.
Mayra do outro lado da linha não tinha certeza se queria ver Túlio. O beijo tinha sido sensacional, mas ela não sabia ainda se queria namorá-lo e claro que depois de um beijo o certo é que ele pergunte novamente se ela vai aceitá-lo. Ela não tinha resposta e resolveu adiar isso.
MAYRA: Rsrs... também quero ver você. Mas agora as provas estão para começar e não vou poder me distrair com nada. Assim que elas passarem eu te ligo e a gente marca alguma coisa, tá?
TÚLIO: Ah, tá certo. Tudo bem. Mas me liga mesmo, viu. Não foge de mim.
MAYRA: Pode deixar que ligo sim. Beijos.
Túlio teve vontade de dizer "Beijos, meu amor. Eu tô morrendo de saudade de você. Não paro de pensar em nós. Será que tenho uma chance agora?" Porém mais uma vez achou que estava agindo como mulherzinha e disse apenas:
TÚLIO: Ok. Vou esperar. Beijos. Pensa em mim entre o intervalo de um estudo para outro.
***
Mayra ficou pensando em tudo que estava acontecendo, se odiou por alguns instantes. Por que não posso amar o Túlio? Seria tudo tão mais fácil. Ela realmente não sabia o que fazer naquela situação. Sua cabeça dizia: Namore o Túlio, com o tempo, com certeza, você gostará dele. Quem não gosta de ser bem tratada e desfilar com um gato de matar de inveja qualquer outra menina? E seu coração dizia: Você ama o Arthur, precisa esperar por ele. Se namorar com o Túlio e ele souber, aí sim é que ele não vai querer saber de você nunca mais. Era um impasse tudo aquilo, mas o destino mandou uma resposta rapidinho.
Naquele instante mesmo, a campainha de sua casa tocou e Marianna, uma garota da escola que estuda com Mayra e que nos últimos tempos estava se aproximando mais dela, chegou trazendo notícias não muito agradáveis. Estavam se tornando amigas. Letícia andava até enciumada, porque naquele momento mais do nunca precisava da amizade de Mayra. Esquecia que amizade quanto mais melhor e que Marianna estava entrando para o ciclo de amigos para ser mais um apoio, mais uma pessoa legal e extrovertida.
―Oi, amiga. E aí as novas?
― Ainda bem que você chegou. É uma ótima hora. Túlio me ligou.
― Ai amiga, aquele gato... eu morreria só em saber que ele me queria, imagine ele correndo atrás de mim. Ai...ai...
― Calma aí que você sabe muito bem que não é assim que as coisas funcionam né? Enfim... ele ligou, queria me ver, mas eu fugi.
― Por que você faz isso com você? Não entendo. Juro que não entendo.
― Não entende? Como não entende? Tem o Arthur...
― Para tudo. É essa a notícia ruim que tenho pra te dar. Na verdade não tem Arthur. Ele está muito bem com a tal Bruna. Ela desculpou o lance da tapa na cara do Túlio. Só Deus sabe o que ele disse, mas ela resolveu aceitar...
― Mas amiga ele me ligou pra ir à praia.
― Com você ou com a galera?
― Com a ga le ra. ― disse já entendendo onde a amiga queria chegar com aquela colocação.
Não era novidade nenhuma ele ligar para sair com a galera. Não seria um encontro e agora Mayra até agradecia por não ter ido, afinal, ver Arthur e Bruna era a última coisa que ela queria.
― Então, amiga. ― disse segurando as duas mãos de Mayra. ― Para com isso, você tem a oportunidade de ser feliz, tem o cara mais gato e desejado por todas e tá aí morrendo pelo Arthur que tem namorada e sinceramente, se ele quisesse mesmo alguma coisa com você, teria aproveitado o lance do aniversário para terminar tudo com Bruna. Mas não. O que ele fez foi inventar uma desculpa qualquer e tentar ficar bem com ela. Abre o olho. Uma oportunidade perdida, estará perdida para sempre. Ouvi essa frase no filme O Clube do Imperador e ela se encaixa perfeitamente no caso.
Mayra caiu em si e uma lágrima teimosa caiu no canto de seu olho esquerdo.
― Não fica assim, Mayra. Eu quero te ajudar a sair dessa. Já faz tanto tempo. Mais de ano se passou. Eu sei que o Arthur é fofo, que ele é tem um jeito diferente dos outros garotos, eu sei de tudo isso, mas amiga, abre o olho. Você está perdendo seu tempo, deixando passar emoções que você poderia viver. Se um dia for para você e o Arthur ficarem juntos, vai acontecer. Só estou te pedindo para não deixar a vida passar, esperando por um alguém que está vivendo, que está namorando.
― Eu sei Mari, mas é tão difícil. Nem eu entendo direito isso que sinto. Deve ser uma doença, sei lá... uma coisa que não passa e quando eu vejo eu tenho me iludido com o sorriso dele, com um recado, com uma ligação chamando para sair com a galera. Pra falar a verdade só agora me dei conta que ele me chamou pra sair com a galera. Sei lá... na minha cabeça ainda estava que ele havia convidado a mim, entende? Parece que eu minto pra mim mesma.
Marianna abraçou a amiga.
― Tenha calma, não fique assim. Tudo isso vai passar. Mas você precisa se abrir a novas coisas. Já ouviu a frase que diz que só se esquece um amor com outro.
Mayra balançou a cabeça afirmativamente.
― Então... aceita o Túlio. Fica com ele e ver no dar. Você não está aceitando um pedido de casamento, é um namoro e ele sabe que você gosta do Arthur, ele terá paciência em esperar seu tempo, amiga. Ele tem provado isso. Quero muito que você não sofra desse jeito, porque não há sentido algum nisso tudo, entende?
― Entendo sim. ― Mayra falava entre lágrimas e enxugava as mãos com as costas da mão. ― Vou dar um basta nisso. ― levantou a cabeça, respirou fundo. ― Realmente já deu o que tinha de dar. Chega!
― É isso aí, amiga. Assim é que se fala. Mas me conta do Túlio. vamos falar do que realmente vale a pena.
Mayra começou a conta da saída com Túlio e todo o resto. No início meio desanimada, ainda pensando no que acabaram de conversar, mas logo foi se empolgando e lembrando dos detalhes daquela noite agradabilíssima com Túlio e do passeio de carro e das brincadeiras e risos e quando percebeu já estava empolgada e sorrindo.
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sexta-feira, 20 de junho de 2014
Fernando de Noranha
Sempre ouvi falar de Fernando de Noronha como o paraíso e coisa e tal, das águas cristalinas etc etc... tudo isso que com certeza você também já ouviu falar, mas estar lá é uma emoção a parte. Até eu que não sou muito defensora da natureza, apesar de amá-la e respeitá-la, achei que é uma coisa perfeita. Ali você reafirma que Deus tem tudo sob controle e que é perfeito em tudo que faz.
Lá é uma cidadezinha pequena, bem parecida com essas cidades que chamamos aqui no Ceará de "cidade do interior", mas rodeada de praias maravilhosas. Quando a gente vê as fotos, pensa que são apenas cartões postais, mas que nada, é lugar próprio de banho mesmo. Nada de cartão postal intocável, foi isso que mais me surpreendeu.
Os passeios de barco são deslumbrantes e o banho no mar cristalino cheio de seres lindossss, das mais variadas cores e formas é um plus em todo já maravilhoso.
Quem puder, conheça o arquipélago de Fernando de Noronha!!!
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sábado, 14 de junho de 2014
DEPOIS DA PRAIA
Arthur chegou cansado. Praia
sempre enfada e ele nem gostava tanto, foi mais pra ver a Mayra e no final ela
nem foi e ele ainda ficou sabendo de algo que preferia nem saber, enfim... um
dia meio perdido. Só não tinha sido totalmente perdido, porque ele estava com
os amigos. Almoçou e foi deitar um pouco, adormeceu de cansaço e quando acordou
tinha nada mais, nada menos que 35 chamadas não atendidas e 3 mensagens de Bruna.
"Amor, kd você?", "Amor, já liguei mil vezes e você não
atende.", "Amor vê se retorna minhas ligações, não tem graça essa
brincadeira..." Ele olhou cada uma das mensagens fez um muxoxo com o canto
da boca e jogou o celular na cama. Não queria falar com Bruna. Não queria pensar em dar satisfações. Odiava quando ela entrava nessa de namorada dona de tudo. Nem namorados eram, não entendia porque ela agia como se fossem noivos.
Foi só adormecer novamente que sua mãe chamou.
―
Arthur, acorda filho, tem visita pra você.
―
Visita, mãe? ― falou meio arrastado já sabendo que só poderia ser Bruna que
achou pouco perturbar virtualmente e agora queria perturbar ao vivo. ― Por que
a senhora disse que eu estava em casa, hein?
―
Ah, Arthur, não me meta nas suas coisas. Você arranja suas sarnas e depois não
quer cuidar delas. Te vira, garoto! ― falou aborrecido que era pra Arthur nem esticar a reclamação.
A
mãe de Arthur odiava mentiras, ainda mais mentir por uma bobagem daquelas, ele
sabia que não aconteceria nunca. Arthur levantou-se lentamente, se enchendo de
paciência para as milhares de perguntas que Bruna faria pelo seu
desaparecimento e sinceramente ele estava sem saco nenhum para respondê-las,
porém não tinha jeito: a garota estava ali em sua casa. Caminhou até a sala e
como imaginara, Bruna estava lá sentada no sofá com as pernas cruzadas, batendo
levemente o pé no chão com cara de enjoo.
Ao
vê-lo ela piorou a sua cara de enjoo e assim que a mãe de Arthur saiu da sala
ela mostrou a que veio.
―
Olha Arthur, se você está pensando que vai me fazer de idiota, você está muito
enganado. Estou de saco cheio desses seus sumiços, dessas suas ignoradas nas
minhas ligações, enfim...
Arthur
já não queria dar satisfações e depois daquilo tudo a coisa piorara muito. Porque ele poderia até dar satisfação quando alguém se fazia de vítima e vinha
cheia de carinhos, podia até ser, mas quisesse ver ele com raiva viesse
cobrando coisas e acusando disso e daquilo.
―
Pra começar Bruna, melhore seu tom, primeiro porque você está na minha casa, segundo
porque você me acordou e terceiro porque não sou seu.
―
Nossa Arthur, não precisa ser grosso. ― fingiu-se de magoada.
―
Grosso? Você me liga 30 vezes. Não sabe ter calma pra eu retornar, me manda
mais três mensagens. Por que você faz isso? por que você não age como uma
menina normal?
― Eu sou normal, Arthur.
Arthur
virou o rosto impaciente.
―
E quem está dizendo que você não é? Só estou te explicando que não é assim que
as coisas vão dar certo.
De
saco cheio daquilo tudo e com raiva ainda por saber que Mayra estava com Túlio,
ou tinha ficado com ele ou saído com ele, Deus sabe mais lá o que, Arthur
pensou em mandar Bruna embora e nunca mais aparecer. Mas como ele iria esquecer
Mayra ― que pelo visto já o tinha esquecido ― se ficasse sozinho?
―
Onde você esteve? Por que não atendeu minhas ligações? ― Bruna falou numa voz
mais calma tentando segurar toda a raiva que sentia.
―
Eu estava com meus amigos na praia. Não vi suas ligações. Cheguei muito
cansado, almocei e fui dormir e agora estou aqui te dando satisfações da minha
vida como se eu tivesse sumido por uma semana. O que mais você quer saber?
―
Calma Arthur, também não precisa me tratar mal. Você sabe que sou preocupada,
eu pensei que tinha acontecido alguma coisa. ― mentiu invertendo os papeis. ―
Mayra estava lá?
―
Não, não estava. Por quê? Já te falei que ela é só uma amiga.
Bruna
viu que Arthur estava muito impaciente e que ela já havia feito tudo que podia.
Já até tentara inverter o jogo e ele continuava ali, firme, com raiva dela pelo
simples fato dela cobrar. Achou melhor recolher as armas antes que ele se aborrecesse
de vez e terminasse tudo. Já tinha engolido um boi inteiro, não ia se engasgar
com um mosquito. Isso era fato. Deu a última cartada.
―
bem, já que você está bem e nada aconteceu, posso ir embora. Realmente fiquei
preocupada que tivesse acontecido algo com você. ― Pegou a bolsa que estava
jogada no sofá e fez direção a porta.
Arthur
nem ao menos tentou impedi-la. Se ela ficasse ali mais um segundo falando
aquele monte de besteiras e cobrindo ele de perguntas ele terminaria tudo.
Então era melhor deixá-la ir. Quando bruna saiu, Arthur deixou-se jogar no
sofá. O qe estava fazendo? Usando uma pessoa? Não, ele não era daquele jeito.
Será que tudo aquilo era porque Mayra estava saindo com outro? Precisava
pensar, não ia fazer Bruna sofrer mais, ela não merecia, além do mais devem ter
milhares de garotos querendo namorá-la e não fazia sentido impedir sua
felicidade.
Numa
coisa Arthur estava certo, havia alguns garoto que daria qualquer coisa para
namorar Bruna e ele realmente estava usando a garota para esquecer Mayra.
***
Letícia
chegou em casa e sua mãe estava chorando. Ela vinha tão feliz, apesar de não
ter se despreocupado de todo, tinha aliviado um pouco na praia com os amigos,
mas parece que era só chegar em casa para ver que a realidade estava
completamente oposta ao relaxamento.
―
O que houve, mamãe.
―
Seu pai, Letícia. Seu pai pirou de vez?
―
O que está acontecendo com vocês, mãe? Vocês se davam tão bem e agora vivem
brigando. Não bastou a briga de ontem?
―
Essa ainda é resquícios de ontem, filha.
―
Mãe, tenha calma. As coisas não se resolvem brigando. Cadê a Lêda?
―
Sua tia veio pegá-la para passar o dia lá e eu achei melhor assim. Não quero
que ela sinta nada por nossos problemas.
―
O que está acontecendo? ― perguntou Letícia mais uma vez.
―
Brigas, filha. Todo casal é assim. Não se preocupe.
Como
não se preocupar. bastava chegar em casa e lá estava todo aquele clima, toda aquela
confusão. Sabe quando você está feliz, sorridente e de repente tudo desmoronar.
Melhor mesmo seria nem se divertir, assim ela nem se iludia, viveria aquele
inferno dia após dia.
Jogou
a mochila na cama e foi tomada por um misto de raiva e tristeza, nem ela mesmo
sabia explicar. Como é que pode ela tão jovem ter que entender e ajudar sem ao
menos saber o que estava acontecendo. Andava de um lado para o outro sem saber
o que fazer, uma lágrima escorreu de cada olho, ela percebeu que a situação
deveria ser grave. O que o pai fez? Ou teria sido a mãe? Por que de tantas
brigas? Por que eles não fingiam ao menos? Ela realmente estava muito triste
com aquilo.
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quinta-feira, 12 de junho de 2014
DOMINGO DE PRAIA
Ainda
era manhã e como era domingo, costumava-se dormir até mais tarde, porém o
telefone tocou acordando Mayra. Meio sonolenta sem olhar quem era,
atendeu.
―
Alô? ― respondeu com o rosto afundado no travesseiro, sem muito interesse.
―
Alô. May? É o Arthur.
Quando
ouviu aquele nome, Mayra quase caía da cama. Levantou-se de um susto, deixou o
celular cair e pegou-o bem ligeiro.
―
Oi Arthur, tudo bem? Que horas são?
―
Nove. Mas tô te ligando porque os meninos estão combinando de irmos todos à
praia e aí te liguei pra saber se você está a fim de ir conosco.
―
Sim. Tô. Só preciso ver se minha mãe vai deixar, mas falo já já com ela.
―
Pois daqui a meia hora estamos te esperando na casa da Tifany. Vamos sair de
lá, viu. Tchau. Até daqui a pouco. Não se atrase!
Mayra
se levantou com o coração aceleradíssimo por causa da surpresa. Arthur?!
Ligando pra ela? Ô meu Deus, porque isso acontece logo hoje? Perguntou a si
mesmo. Calçou as chinelas de qualquer jeito e correu no quarto da mãe. Beteu à
porta.
―
Mãe, vou à praia.
―
Ei, ei, ei... calma aí mocinha, não é assim não. Você já saiu ontem. Não acha
que está bom, não?
Ainda
pensou em fazer gracinha e dizer "sim, mãe tá bom e é por isso que quero
mais", porém preferiu:
―
Mãe, por favor... a galera vai todinha.
―
Sinto muito, filha, mas não é assim. Você está em aula. Ainda que fosse férias,
eu até deixaria. Você sabe como as coisas funcionam aqui em casa né?
―
Ah, mãe, por favor... não faz isso comigo. ― disse numa voz melosa misturando
súplica e um quase choro.
―
Não, May e não insista, por favor. ― voltou para cama e bateu a porta do
quarto.
Mayra
não acreditava naquilo. Não acreditava que ia ter que ligar para o Arthur e
dizer que não podia ir. Logo no dia que o Arthur ia e quem sabe sem Bruna!
Mayra não sabia se Bruna havia perdoado ou não Arthur, mas torcia que ela
tivesse se tocado e não estivesse com Arthur. Uma lágrima escorreu no canto do
olho. Nem mesmo Mayra sabia se era de raiva ou de dor de não estar ao lado de
Arthur. Já era tão raro se verem ― considerava raro, porque depois do episódio
do aniversário não tinham se visto mais, apesar de que normalmente se vissem,
pelo menos, uma vez por semana ― e agora aquilo, a mãe simplesmente não a
deixava ir. Que ódio! Não restando outra opção ligou para Arthur.
MAYRA:
― Alô, Arthur? Não poderei ir. ― disse numa voz triste.
ARTHUR:
― Por quê? O que houve?
MAYRA:
― Minha mãe não deixou. Disse que vamos almoçar fora e não tive como
convencê-la. ― Jamais Mayra diria a Arthur que não ia com ele porque havia
saído com Túlio na noite anterior.
ARTHUR:
― Tá. Vamos sentir sua falta. Beijo.
MAYRA:
― Tchau. ― disse numa vozinha triste.
O
fato é que triste ou não, Mayra não iria à praia com os amigos.
***
―
Gente, a Mayra não vai. ― a fala de
Arthur saiu meio arrastada como se estivesse decepcionado.
Houve
uma tristezinha pela ausência da amiga, mas seguiram viagem sem Mayra mesmo. Arthur
imediatamente pensou "Poxa, eu nem disse a Bruna que ia pra me sentir mais
a vontade com a Mayra e ela não vai. Não acredito". Podia ter sido a
chance de conversarem sobre a cena de ciúmes, mas Arthur e Mayra teriam de dar
outro jeito para se verem.
Praiazinha
no domingo, sol, amigos, amores, bolinha pra jogar na areia e muita, muita
alegria. Era assim que os meninos estavam.
―
Joga pra mim! ― gritou Thayná.
―
Deixaaaaa! ― Myrella gritava do outro lado.
Arthur
preferiu ficar na barraca, depois jogaria um pouco, tinha sido um balde de água
fria pra ele. Ele realmente pensara que Mayra estaria lá e claro que ele estava
com vergonha dela, mas fingiria que nada havia acontecido e se ela perguntasse
qualquer coisa, seja lá o que fosse, ele desconversaria.
―
E aí Arthur, a Mayra nem veio, né? Ainda bem porque assim ninguém corre risco
de ser esmurrado. ― brincou Dário.
―
Ahhh para! Você ainda tá lembrando disso, cara? Até parece que o esmurrado foi
você.
―
Ahh por falar em esmurrado, o Túlio e a Mayra saíram ontem. ― disse Tifany que
estava do outro lado da mesa tomando uma água de coco e fingindo que não estava
participando da conversa.
―
Ah foi é? Bom pra eles? ― retrucou Arthur como se não tivesse nem uma
importância.
Saber
que Mayra estava saindo com Túlio dava a Arthur a certeza de que ela havia
aceitado o namoro e com certeza estava com raiva dele por ele ter batido no
namoradinho. Ah, que seja!
―
Perdido por pouco, perdido por muito. ― Pensou alto.
―
Como foi Arthur que você disse? ― Tifany percebeu que Arthur havia ficado chateado e continuou
cutucando a onça com vara curta. ― Você não se decidiu logo, ficou fazendo doce
com essa Bruna aí, perdeu!
―
Que perdeu, que nada! Quem disse a você que estou a fim da Mayra?! Quero mais é
que ela seja feliz com quem ela escolheu. Não tenho culpa se seu primo se contenta com uma garota que não gosta dele. Fazer o quê, né? Tem pessoas e pessoas...
Tifany
soltou uma risada de quem alcançou o objetivo com Arthur. Arthur acho melhor
jogar, ficar na barraca pensando em Mayra nos braços de Arthur não dava mesmo.
―
Ei galera, joga aqui.
Dário
chamou a atenção da namorada que não tinha nada que ter contado a Arthur, sobre
a saída de Mayra, que o Arthur tinha a Bruna e não estava nem aí para Mayra.
―
Humrum, sei. Percebi.
O
jogo rolava a toda, mas Arthur não pegava nem uma bola, estava distraído. Não
era pra ser assim, mas saber que Mayra esteve com Túlio, incomodava-lhe um
pouco. E o que mais incomodava era saber que ela gosta dele e que ele não pode
arriscar seu tempo com Bruna, que não era lá essas coisas todas, mas já durava
uns dois meses e ele não era nenhum mal caráter para de uma hora pra outra,
antes de pedir a menina em namoro dizer que não a queria mais. Ia preferir
ficar na sua. Também pensou que já estava meio tarde pra se decidir por Mayra.
***
Letícia
estava lá tomando um sol e tentando esfriar a cabeça depois do que passara
noite passada. Queria que Mayra tivesse ido, seria bom desabafar pessoalmente.
Nem tinha conseguido contar a ela direito como tudo tinha sido e queria também
saber da saída de Mayra e Túlio. Nessas horas não há nada melhor que ouvir
histórias emocionantes para esquecer de suas desventuras.
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LETÍCIA
A
volta pra casa foi tranquila. Depois do beijo, tanto Túlio quanto Mayra fingiram
que nada havia acontecido e continuaram seu passeio pela beira-mar. Arriscaram
até andar de trenzinho da alegria. Mayra estava, diferente do início do passeio,
completamente livre e queria mesmo era aproveitar tudo aquilo e Túlio fazia o
mesmo já que era coisa rara Mayra aceitar seus convites românticos.
Pararam
na porta da casa de Mayra antes das 22:00 horas para alegria e despreocupação
de D. Nalva. Túlio desligou o carro e virou para Mayra:
―
Adorei nosso passeio. Saiba que, independente do que aconteceu, sou seu.
Sempre...
―
Também adorei o passeio. ― Aproximou do rosto de Túlio para dar um beijinho de
agradecimento, mas o garoto não perdeu a oportunidade e virou um pouquinho o
rosto resultanto em outro beijo que Mayra não negou. ― Tchau.
Mal
o carro avançou, D. Nalva já estava no portão recebendo a filha que entrou
muito sorridente e preferiu dizer apenas que tinha adorado o passeio. Só aí Mayra
resolveu olhar seu celular que estava esquecido no fundo da bolsa. Havia três
chamadas de sua melhor amiga Letícia e algumas mensagens da menina que parecia
desesperada pedindo que Mayra assim que visse aquela mensagem lhe ligasse não
importava a hora.
MAYRA:
― Amiga, o que houve? Só agora vi suas mensagens.
LETÍCIA:
― Amiga, houve uma discussão horrível aqui em casa entre meus pais. Não o que
está havendo, mas agora eles brigam sempre. Aí eu fiquei tão nervosa que
precisava conversar com alguém. Mas já estou mais calma, amiga. Só um pouco
preocupada, pois meu pai saiu muito aborrecido, enfim...
MAYRA:
― Fica assim não, amiga. Vai dar tudo certo. Todo casal briga. Não se preocupa.
Teu pai é um homem tão calmo, ele não vai fazer besteira nenhuma.
LETÍCIA:
― É... mas e aí me conta como foi o passeio com o Túlio?
MAYRA:
― Nada disso. Hoje você está no foco. Quero te ver bem, depois conto do
passeio.
LETÍCIA:
― Ô amiga, isso só vai acontecer quando meu pai estiver em casa e o clima
estiver mais calmo.
***
Letícia
ouvira o pai falar em ir embora e ela sabia que a mãe era uma pessoa difícil.
Difícil, mas muito dedicar e esforçada pela família. Só em pensar nessa
hipótese, seu corpo tremia. Nunca tinha sido assim. Ela lembrava perfeitamente
que os pais eram muito unidos, brincavam junto com ela e com Lêda, sua irmã
mais nova que agora contava sete anos, uma criança ainda. Não, não queria nem
pensar na hipótese de separação. Sua irmã ainda era uma criança nem tinha
condições de entender direito tudo que havia se passado. Os pais brigaram em um
volume mediano e se ela não fosse tão atenta nem tinha percebido a gravidade.
Ir embora... aquela frase não abandonava sua mente, ficava girando, girando,
como se fosse um letreiro em led, mas já estava tarde e ela precisava descansar
para quem sabe conversar com o pai pela manhã ou pelo menos sentir como estava
o clima entre eles. Sabe-se que depois de uma briga nada melhor que um tempo
para acalmar os ânimos e deixar a poeira baixar.
Demorou
muito a dormir, pois a tal frase teimava em dançar em sua mente, mas o cansaço
venceu Letícia quando ouviu, lá pelas duas da manhã, seu pai chegando. Percebeu
também que o pai dormiria no sofá da sala, pois ouviu uma movimentação
suspeita, mas nem arriscou dar uma olhada, a casa já estava em silêncio e além
do mais não era legal ela se intrometer.
De
manhã, tomaram café juntos: pai, mãe e filhas, mas nem uma palavra foi
pronunciada de um com outro. Era domingo e costumeiramente nós saíamos para
almoçar fora. Lêda perguntou:
―
Vamos almoçar em qual vovó hoje?
―
Na casa da vovó Célia, filha. ― respondeu Sr. Pedro antes que a mãe de Letícia
tivesse a chance de pensar em responder.
Íamos
mais para vovó Célia, que era mãe de Pedro, porque ela morava mais perto. Então
não houve estranhamento e a mãe gostou que Lêda perguntasse, assim era ficaria
sabendo sem se dar ao trabalho de ter que puxar conversa. O clima estava
pesado, mas o pai estava em casa e era isso que importava pra Letícia, então ela
fingiu que estava tudo ótimo como sempre.
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terça-feira, 10 de junho de 2014
A SAÍDA
Na
mesma hora que Mayra enviou o e-mail resposta, como se estivesse grudado ao computador
esperando, Túlio ligou.
TÚLIO:
― Oi May, tudo bem? Saudade de você. ― aquela voz rouca e sexy soou do outra
lado da linha.
MAYRA:
― Oi, Túlio. ― corou. Ainda bem que era por telefone se fosse ao vivo ele teria
visto suas bochechas rosadas.
TÚLIO:
― E aí que horas posso te pegar?
MAYRA:
― Calma, não é assim também não. Como e o que você está pensando em fazer? Você planejou
alguma coisa?
TÚLIO:
― O que eu queria mesmo fazer, você não quer ― aproveitou a deixa ― mas vamos
fazer o que você quiser. ― disse todo galante.
MAYRA:
― Você e suas coisas... ― abriu um sorriso invisível para Túlio.
TÚLIO:
― Bem, não planejei nada. Mas estou disposto a fazer o que te fizer feliz. Você
quer fazer o quê?
Mayra
queria mesmo era ouvir uma frases daquelas de Arthur, mas precisava também se
conformar que se não a ouviria, já que Arthur estava com Dente de Cavalo, como
resolvera chamar Bruna por puro ciúmes, ela também precisava tentar esquecê-lo.
Ao se dizer isso, ela pensou instantaneamente que eles poderiam ter terminado
devido a ceninha que ele fizera no aniversário da Tifany. Será que ela ficaria
com ele depois de tudo? Mas vai saber, né? Havia esperado por notícias, por um
e-mail, por um telefonema, por uma postagenzinha no face... mas nada. Já fazia
um mês e nada de Arthur. Então, melhor levantar a cabeça e tentar viver. Ela
não seria a primeira a ficar ou namorar com alguém que não estava apaixonada. Além
do mais não há nada que uma mulher mais goste que ser bem tratada e admirada e
isso Túlio fazia sempre independente dela retribuir ou não. Pensou nisso tudo
muito rápido e decidiu.
MAYRA:
― Quero fazer um passeio pela beira-mar. Pode ser?
TÚLIO:
― Pode ser tudo que você quiser, minha princesa. Passo aí as sete pra te pegar.
Havia
surgido outro problema: como Mayra ia dizer pra mãe dela que ia sair com um
garoto que a mãe não conhecia e nem nunca ouvira falar. Sim, porque Mayra nunca
mencionara o fato de Túlio estar com eles pra onde fossem. Estava sempre
contando sobre o que Arthur disse, o que Arthur fez, com quem Arthur foi, mas
lembrou-se que nunca havia mencionado Túlio.
Bem,
não era costume seu mentir e não seria daquela vez. A mãe sempre deixara bem
claro que odiava mentiras e que era sua melhor amiga e melhores amigas
entenderiam quando você resolve dar uma chance a vida.
―
Mãe, vou sair com um menino que é primo da Tifany, tá?
―
Como assim sair? Você sabe quem é esse rapaz? Os outros meninos também vão?
Letícia e Tifany estarão lá? ― e desfolhou uma série de perguntas próprias da mães
apavoradas diante de uma situação que elas não tenham total controle.
―
Mãe, o Túlio é um garoto que sempre está com a gente, ele é super gente boa e
muito educado etc etc etc, não se preocupe. Além do mais a senhora sempre diz
que confia em mim. Então, chegou a hora de provar. ― explicou pacientemente
para deixar a mãe mais confortável.
A
mãe, mesmo preocupada, permitiu que a filha fosse. A filha havia usado um
argumento muito forte e não deixara escapatória para ela. Ela sempre pregou que
confiança estava acima de tudo e sempre disse que confiava em Mayra, agora não
dava simplesmente para voltar atrás.
―
Tá bom, mas tenha juízo. E qualquer coisa, ligue que seu pai vai lhe buscar.
Às
19:00 em ponto ouviu a buzina do seu Honda Civic novinho em folha. Não que
fosse interesseira, se fosse, teria aceitado namorar Túlio, mas ter 19 anos
tinha suas vantagens e namorar alguém bem de vida era sempre muito bom, porque
andar de carro e poder ir para lugares mais legais era o máximo.
A
mãe ainda veio lhe deixar no portão, deu um beijinho no rosto e aproveitou para
reforçar que tivesse cuidado e ligasse em qualquer necessidade. As mães sempre
sofrem nessas horas. Ver a sua bonequinha crescer é uma dor imensa. Saber que
os filhos ― principalmente quando são meninas ― estão por sua conta e se
acontecer algo elas não estarão por perto é dá um aperto no coração só de
pensar.
Claro
que Túlio desceu, cumprimentou a mãe de Mayra com um tchauzinho e abriu a porta
para "sua princesa" como ele mesmo havia dito ao telefone. Ele estava
radiante de felicidade, por dentro seu coração explodira como fogos de artifício
no Réveillon, mas os homens são sempre mais imparciais e isso não pôde ser
percebido por Mayra que entrou no carro toda sorridente.
―
Não volte tarde. ― gritou a mãe antes que o carro desse partida.
―
Não se preocupe. Se quiser pode me ligar. ― Mayra amava o fato da mãe confiar
nela e sabia que D. Nalva estava desesperada, mas ela tinha que se acostumar
com isso.
Túlio
colocou um som baixinho, claro que "5 a Seco", Túlio era especialista
em Mayra, ele conhecia suas preferências e jamais iria a um passeio desses sem
perguntar tudo a Tifany. Mayra se ajeitou no banco de couro do carro, ainda
desconfortável e envergonhada. Ela sabia que ali seria um encontro. Era
diferente de antes que Túlio era mais um entre eles e ela poderia fingir que
não estava entendendo ou mesmo ouvindo suas investidas.
―
Você está mais linda que nunca. ― comentou Túlio para quebrar o gelo.
Mayra
fez um barulho para indicar agradecimento, mas não conseguia falar nada. Tudo
ali poderia soar bobagem ou enxerimento.
―
Você não sabe como eu estou feliz, por esse momento.
―
Também não é pra tanto, eu não prometi nada, Túlio.
―
Não, de jeito nenhum. Nem se preocupe. Eu estou feliz, porque estar com você
pra mim é felicidade, mas ó, não tô te cobrando nem pressionando. Somos amigos.
Não se preocupe.
Foi
bom Mayra ouvir aquilo, ela até poderia ficar com Túlio, mas não queria
prometer nada, nem se sentir obrigada a ficar porque tinha aceitado um convite.
―
Adoro essa música.
Ele
aumentou o volume e os dois seguiram. Ela fingindo que não estava preocupada e
ele olhando de vez em quando para o lado direito, sem acreditar que estava ali
a sós com Mayra.
Estacionaram.
Túlio rodeou para abrir a porta do carro, segurou a mão de Mayra e não a largou
mais. Caminharam pela Beira-mar de mãos dadas. Ele tratou de ar um ar natural a
cena e ela entrou na onda, afinal se havia ido, não queria ser chata.
Riram
de bobagem, tomaram sorvete, um sujos o outro no nariz e no rosto. o clima
estava amigável demais e entre sorrisos caminharam até a praia. À noite, a
praia era iluminada por holofotes e parecia mais linda e encantadora que de
manhã, talvez pela ausência de pessoas. Via-se pouquíssimas, desceram o
calçadão e pisaram na areia branca e fria, um vento espalhou os cabelos de Mayra
e Túlio ajeitou-os, aproveitando para aproximar-se mais de Mayra. Estavam muito
próximos e Mayra sentiu o perigo do momento.
―
Quem chegar por último pagar mais um sorvete.
Mayra
correu com as sandálias na mão, sorrindo e olhando para trás, seguida por Túlio
que ao alcançá-la laçou-a pela cintura e deu um rodopio daqueles de namorados
que demoraram muito a se encontrar. Quando os pés de Mayra tocaram o chão, seus
braços estavam enlaçados em Túlio e ela gostou da sensação de ser abraçada por
alguém que se importava com ela. Não fez movimento nenhum e sua boca e a de
Túlio se encontraram num contato perfeito.
Túlio
tinha um beijo envolvente, quente e macio e seus braços fortes sabiam apertar
na medida certa. Mayra estava entregue aquele instante e se deixou levar pela
emoção, explorando com as mãos as costas musculosas de Túlio enquanto este
sentia-se no céu. Nem queria mais abrir os olhos, pois poderia estar sonhando,
demorou mais um pouco. Aquele vento frio, o barulho das ondas que iam e vinham
num movimento contínuo deram aquele beijo o aspecto cinematográfico e as se
desconectarem Túlio arricou uma frase que foi barrada pelos dedos de Mayra em
sua boca numa posição de silêncio.
―
Não diga nada. Não estrague esse momento.
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