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Razão e sentimento

Razão e sentimento
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Uma menina-mulher sonharadora convicta, pore´m de uma racionalidade necessária.

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sexta-feira, 6 de junho de 2014

MAYRA


     Estava caminhando pelas ruas próximas de sua casa, caminho do colégio, e como moravam no mesmo bairro, apesar de difícil pelos horários desencontrados e de uma certa distância da casa um do outro, não era nada impossível encontrar Arthur. E foi exatamente o que aconteceu. Quando dobrou a esquina, quase se esbarraram. 
     Não era comum que Arthur tivesse ali, mas na hora Mayra nem lembrou de lhe perguntar o que ele fazia aquela hora da manhã naquelas paragens. Houve comoção de ambos. Ela foi a primeira a falar. No início com voz trêmula, nervosa, porém, imediatamente lembrou-se que no episódio da festa ela tinha saído por cima e deu uma de superior, claro.
― Oi senhor nervosinho, tudo bem? O que deu em você, hein?
― Isto. ― falou de supetão, numa voz macia e um pouco rouca como de quem acabara de acordar.
     Ao dizer esse simples monossílabo, Arthur se aproximou de Mayra, segurou sua mão esquerda delicadamente e com a direita acariciou seu pescoço, levando os dedos até a nuca da menina que se arrepiava  num frenesi de prazer e espanto. Parecia que havia levado um choque elétrico que vinha de cima para baixo. Um fervilhar de milhares de formiguinhas subiam instantaneamente por todo seu corpo como se se materializassem. Nunca havia sentido aquilo. Não daquele jeito. Deve ter sido a surpresa do momento. Ela jamais imaginou que ele pudesse fazer algo assim, tão de repente, tão sem palavras,  sem explicações.
     Arthur fixou seu olhar, que estava, naquele momento, meio caído, como se se fechassem em câmera lenta e entreabriu minimamente a boca. Seus lábios era carnudos e entre eles apareciam umas pontinhas de dentes brancos, o hálito quente e com cheiro de hortelã tinha o poder de hipnotizar Mayra que não mexia um músculo sequer. 
     A essa altura Arthur tinha os olhos completamente fechados e a distância entre os dois era de milímetros. Mayra sentiu o tórax do amado encontrar o dela e mais uma infinidade de formigas passeavam por seu corpo. Fechou os olhos para esperar pelo calor daquela boca que tantas vezes pronunciara palavras sem interesse algum, mas que agora estava ali, entreaberta só para ela. 
     A respiração ofegante de Arthur já esquentava o rosto de Mayra. Não que ela precisasse ser esquentada, pois junto das formiguinhas vinha também um calor Deus sabe de onde que tomou todo seu ser.
Então tudo aquilo: a chegada triunfal com Bruna a tiracolo, os olhares no aniversário e o soco, era para lhe dizer que a queria? Que maravilha! Se assim fosse ele poderia até desfilar com Bruna outras vezes contanto que o resultado fosse exatamente aquele. 
     Tudo isso foi pensado num átimo e Mayra preferiu aproveitar o momento a ter que ficar pensando nos porquês daquilo tudo.
Os lábios finalmente se encostavam. Um frio descia espinha abaixo e um arrepio tomou conta de seu braço que estava na cintura de Arthur numa inclinação ascendente chegando-lhe ao meio das costas, enquanto o outro descia em linha reta para espalmar as mãos geladas de nervosismo nas de Arthur. Sentia toda a textura da pele dele e a guardaria para mais tarde quando lembrasse desse momento, fechar os olhos e conseguir senti-la de novo. As bocas se abriram mais um pouco, os dedos se entrelaçaram e ...
― Meu Deus, estou atrasada pra escola!
     Atordoada sentou de repente na cama e entendeu que era domingo e que todos dormiam ainda. Levou as mãos à cabeça. Era só o que lhe faltava sonhar com Arthur depois de tudo que ele havia aprontado. Depois de levar a tal Bruna para a festa onde ele tinha absoluta certeza que ela estaria e desfilar com ela como se fosse um trofeu. Ela nem era tão perfeita assim. tinha dente de cavalo, isso sim. Dente de Cavalo.
― Devo estar louca mesmo.
     Voltou a deitar, dessa vez olhos arregalados e ardendo, cabeça girando num enjoo de quem havia bebido mais que refrigerante. Será que estou definitivamente louca? Pensou enquanto esfregava os olhos que teimavam em permanecer fechados, mesmo que por dentro eles tivessem bem abertos e ardendo em sono. Havia chegado da festa às duas da manhã, nem tinha tido tempo de descansar direito e agora aquilo.
     Bateu com a palma da mão no travesseiro para afofá-lo e deitou-se de lado. O rosto de Arthur dançava em seus pensamento. Arthur, Arthur, Arthur, era sempre Arthur. Até ela já estava enjoada daquilo. Sempre as voltas pensando em o que ele estava fazendo, com quem ele estava, como ele estava. Sempre e sempre olhando os e-mails na esperança de novas palavras. Se ele não me quis enquanto estudávamos, por que me quereria agora? por outro lado. Se ele não me quer, por que socar o Túlio? 
     Túlio... fora lindo o que ele fizera. Poxa, se eu pelo menos conseguisse enxergar outro alguém que não fosse o Arthur. Mas não era possível. E agora aquela novidade, Arthur não lhe deixava nem dormir direito.
     Suspirou e voltou a pensar naquele quase beijo, um beijo que não aconteceu e que sabe-se lá se vai acontecer algum dia, mas que agora lhe fazia muito bem lembrar do rosto dele, das mãoes juntas e apertadas, dos rostos quase colados, dos olhos se fechando aos poucos. Fora tão real... ele estava ali segurando minha mão, me envolvendo por inteiro, corpo a corpo, boca a boca e num piscar de olhos, quero dizer, num abrir de olhos era tudo ilusão.

     Uma luz fraca entrava por sua janela, o dia já estava raiando. Mayra ainda se revirou pra lá e para cá algumas vezes, até que caiu num sono restaurador.

3 comentários:

Grazi disse...

Genial!

Johana disse...

perfeito ! Mais que sonho hein, *---*

Unknown disse...

Tiaaa se todos os sonhos fossem assim.. Amei!