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Razão e sentimento

Razão e sentimento
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Uma menina-mulher sonharadora convicta, pore´m de uma racionalidade necessária.

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terça-feira, 13 de janeiro de 2009



A paisagem corria fora do carro, negra, veloz, com pontos brilhantes que formavam listas luminosas. O carro nem ia tão rápido. Ansiedade controlada. Conversara com uma amiga no dia anterior e já sabia como proceder. Esperaria o melhor momento, exporia tudo que estava pensando — corria riscos, era certo, mas resolveria sua angústia — esperaria a resposta e a partir daí, repensaria.
Lembrou do papo da noite passada, tranqüilizou-se. Ele estava no outro carro com os amigos, música alta, risos, brincadeiras... Tudo muito animado e descontraído. Não pensou nela, estava indo para divertir-se, estar com amigos e se acontecesse algo, tudo bem, se não, não faria nada diferente. Os planos eram apenas passar o fim de semana. Ela estaria lá, ele sabia, mas já havia aprendido a controlar seus pensamentos, não passava horas sonhando, pensava, às vezes, e afugentava logo aquilo que pudesse lhe pesar na mente.
Algumas curvas, muitos quilômetros de reta. Conversas espaçadas, música alta e mais risos. Assim estava bom, estava dentro do planejado.
Outro carro, outro clima. Biquini Cavadão fazia a trilha sonora, pouco papo, poucos pensamentos. Vez por outra falava-se algo sobre a escuridão e o fato de terem saído tarde. Iam avante. Ultrapassavam carros, ansiosos pela chegada. Não pelo que estava por vir, mas pelo cansaço e pelo dia perdido. Horas depois entraram na cidade praiana. Clarissa lembrou dos carnavais passados, de outros momentos marcantes que tivera ali próximo. Suspirou, mais um vez teria fortes emoções no mesmo cenário. Estava fadada àquela paisagem.
O carro dobrou a esquerda, agora faltavam poucos quilômetros, cinco ou sete no máximo. Esperava conseguir dormir bem, descansar, esse era o objetivo. Tinha passado uma semana péssima em relação ao sono. Por várias noites perdera o sono, tivera pesadelos com Renato, angustiara-se, estivera em estresse por não saber exatamente o que estava acontecendo. Gostava de ter o controle da situação, sabia lidar com tudo, mas precisava saber, ter certeza, ter controle. Todas as vezes que perdia isso, ficava ansiosa e essa ansiedade machucava-a muito.
Planejara dormir a maior parte do tempo: armar sua rede na varanda, receber a brisa do mar, ouvir o marulho e finalmente relaxar. Só a distância de seu cotidiano já lhe dava a velha sensação de realidade paralela, aquela sensação boa de que você não é exatamente você e por isso não precisa se preocupar tanto com as responsabilidades ou conseqüência de seus atos.
Sempre fora muito preocupada, muito responsável, tinha seus acessos de inconseqüência, mas eles eram muito comedidos, porém era fazer uma viagem, por pequena que fosse, para se tornar uma pessoa livre de certas amarras.
O carro parou em frente à casa, finalmente chegaram. Ele havia chegado minutos antes dela, o segundo carro estava um pouco na frente. Todos vieram receber os amigos. Brincadeiras, risos. Tiraram as malas do carro e na porta de entrada estava ele com seu olhar doce e enigmático que a encantava sempre. Abraçou-a levemente, com um aperto propício e conveniente, num clima de ‘finalmente estamos aqui’, abraço gostoso que trouxe a ela uma certa tranqüilidade e a certeza de que estava tudo bem... tudo bem...

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